Na virada do século 19 para o século 20, um grupo de mulheres vive e trabalha em um bordel de luxo chamado L´Apollonide. A maioria veio de casas menores e trouxeram com elas dívidas que, em princípio, serão pagas com o trabalho; na prática, poucas acreditam que um dia vão deixar aquela vida. "Casa de tolerância" de luxo ou não, os problemas destas mulheres não são diferentes dos de qualquer prostituta. Solidão, condições de trabalho humilhantes, doenças, exploração financeira e risco de violência.
Escrito e dirigido por Bertrand Bonello, o filme é fotografado como se fosse um quadro impressionista. Bonello se baseou em quadros de Toulouse-Lautrec e seu diretor de fotografia, Josée Deshaies, compõe planos iluminados à luz de velas, com efeito impressionante. O roteiro começa em um momento de prosperidade e paz no bordel e vai, gradualmente, mostrando sua decadência. A edição é não-linear e o filme, às vezes, começa uma sequência pelo seu final, para em seguida mostrar o início. Há muita nudez e cenas de sexo, embora o objetivo do filme não seja a pornografia. Tem-se a impressão de se estar assistindo a um documentário filmado no início do século 20; Bonello mostra o cotidiano de várias mulheres, em horário de trabalho ou fora dele. Uma garota chamada Pauline (Iliana Zabeth), é alfabetizada e escreve uma carta para a "madame" do bordel, Marie-France (Noémie Lvovsky), pedindo para ser contratada. Primeiro ela precisa pegar uma autorização na prefeitura e passar por um exame médico para trabalhar como prostituta. Ela então é educada pelas outras garotas sobre como se vestir, se comportar e manter a higiene. Há também um momento de extrema violência, quando Madeleine (Alice Barnole) tem o rosto cortado por um cliente; ela então se transforma na "garota que sempre ri", por causa do formato que fica sua boca. O filme explora as fantasias da clientela masculina. Todos ricos, há desde o senhor que é velho demais para o sexo e que se contenta em pagar para ver uma garota nua até os que querem fantasias elaboradas como transar em uma banheira cheia de champanhe ou querem que a prostitua assuma o papel de uma boneca, ou de uma gueixa.
O diretor comete algumas ousadias que nem sempre funcionam. A fotografia deslumbrante por vezes é maculada por uma tela dividida em quatro partes que é muito moderna; algumas canções de rock e blues, cantadas em inglês, causam estranheza na trilha sonora. Lento e melancólico, o filme parece mais longo do que seus 122 minutos de duração. Apesar destes poréns, é um filme sensível e muito bem feito. A cena final, transportada para o mundo atual, é muito bem utilizada. Visto no Topázio Cinemas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário