"Como matar dois coelhos com uma bomba atômica só". Esta é a impressão que se tem ao terminar de se assistir a "2 coelhos", produção nacional escrita e dirigida por Afonso Poyart. Acrescenta-se aí a cavalaria americana, os fuzileiros navais, um comando da SWAT e talvez um garoto com um estilingue e se tem uma ideia da obra produzida pelo diretor, que veio do mundo da pós-produção e da publicidade. O filme de Poyart usa de todos os truques e cacoetes possíveis para contar uma história policial que flerta com o cinema de diretores como Guy Ritchie e Danny Boyle, para ficar somente em duas referências. É um cinema de puro entretenimento e é bobagem esperar algo a mais do que isso. Mas é impossível deixar de notar os absurdos do roteiro, cuja trama muda e se transforma a cada dez minutos, como em uma brincadeira de criança em que as regras variam conforme os garotos vão jogando.
Edgar (Fernando Alves Pinto) é um rapaz que acabou de voltar de uma temporada em Miami. Ele foi para os Estados Unidos depois de causar a morte de duas pessoas (uma mãe e seu filho) em um acidente de carro. Ele volta com um plano na cabeça; ele quer "fazer justiça, matar dois coelhos com uma cajadada só". Tramas paralelas mostram a promotora de justiça Julia (Alessandra Negrini) que, com o marido, é "conselheira criminosa" de um bandido chamado Maicon (Marat Descartes, de filmes muito melhores, como "Trabalhar Cansa"). A justiça está com provas contra Maicon e ele precisa pagar 2 milhões de dólares de propina para um deputado corrupto, só que o dinheiro é roubado no caminho. Só que esta trama vale durante uns dez, vinte minutos; Julia, na verdade, estava tendo um caso com Maicon e traindo o marido, ao mesmo tempo em que estava em contato com Edgar. O pai (e marido) das pessoas mortas por Edgar no acidente de carro, Walter (Caco Ciocler), agora trabalha com o pai de Edgar em um restaurante e, aparentemente, quer se vingar de Edgar pela morte da sua família. Ou não. Complicado? Bobagem tentar entender; a trama muda conforme o efeito pretendido pelo diretor/roteirista, independente da lógica.
Tudo isso é mostrado em cortes ultra rápidos em uma edição que mistura diversos tipos de suporte (foram usadas desde máquinas fotográficas para gravar as imagens até câmeras RED de alta definição). Além da edição hiperativa, a narração de Edgar é visualizada de forma literal de diversas maneiras, seja na forma de animações por cima da imagem até sequências completas em computação gráfica (como nas cenas absurdamente exageradas que mostram como Julia imagina sua síndrome de pânico). Influências "pop" povoam os planos, como bonecos dos personagens de Star Wars ou um videogame que simula a vida de Edgar em Miami. É fácil falar mal do filme com julgamentos simples como chamá-lo de "publicitário" e "televisivo", mas estes são adjetivos que, bem ou mal, cabem perfeitamente à obra multimídia de Poyart. A trilha de André Abujamra é intercalada com sucessos de "30 Seconds from Mars" ou dos "Titãs" em sua fase mais pesada.
É um filme que representa bem a geração século XXI, saturada de imagens, informações, efeitos e pirotecnia, tudo embalado em um formato que pode ser até atraente, mas é extremamente superficial.
Câmera Escura
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