É de se imaginar que uma história de amor entre um homem judeu e uma mulher árabe seja confusa, mas o filme de Michel Leclerc adicionou elementos ainda mais complicadores. Arthur Martin (Jacques Gamblin) é um quarentão que se define como o típico francês. Seu nome é tão comum que ele se sente como um membro da seleção de futebol coreana (em que mais da metade dos jogadores se chamava "Kim"). Já Bahia Benmahmoud (Sara Forestier) tem orgulho de ter um nome único, apesar de ser sempre confundida como brasileira. Ela é descendente de um imigrante ilegal argelino e de uma hippie francesa, mas suas feições (branca e com grandes olhos azuis) não aparentam sua origem. Já Arthur é filho de um ex militar francês que trabalha com energia nuclear e que se casou com uma judia com um passado difícil; os pais dela foram enviados ao campo de concentração de Auschwitz, e ela cresceu em um orfanato. Os pais de Arthur nunca conversavam sobre o assunto e ele passou a vida aprendendo a como falar com eles sobre "nada", já que não podia mencionar assuntos considerados tabu.
A família de Bahia, apesar de muito mais liberal, também guarda um segredo. Quando criança, ela foi abusada sexualmente por um professor de piano. Segundo os psicólogos, Bahia tinha duas opções quando se tornasse adulta: tornar-se pedófila ou prostituta. Ela decidiu tornar-se prostituta, mas de um tipo diferente. Seguindo o ditado "faça amor, não faça a guerra", Bahia tem como missão transar com homens da "direita" para mudar sua opção política. Assim, do encontro deste homem reprimido e careta, Arthur, com esta garota desinibida e política, Bahia, o roteiro faz uma bizarra história de amor. Mistura-se a isso uma forte dose de crítica aos problemas raciais e de imigração que existem hoje na França e se tem "Os nomes do amor".
O filme foi escrito pelo diretor Michel Leclerc e por sua esposa, Baya Kasmi, com grande quantidade de fatos autobiográficos. Há tantas questões sendo tratadas (racismo, imigração, nazismo, sexismo, política etc) que o roteiro peca por excesso. O ponto principal, quando todas estas diferenças acabam se chocando, demora a chegar em uma ótima cena em que Michel, Bahia e seus pais se encontram em um jantar. Sara Forestier é um vulcão em erupção o tempo todo, contrastando com o modo frio e controlado de Jacques Gamblin. Há partes românticas, como na delicada cena em que Arthur veste Bahia, misturadas a outras inverossímeis, como quando Bahia se esquece de colocar as roupas e sai nua pelas ruas. É usado o recurso (já um tanto batido) dos personagens falarem diretamente para o espectador, principalmente quando contam a história de seus pais. Em outros momentos, os personagens conversam com versões mais novas deles mesmos.
"Os nomes do amor" melhora quando diminui um pouco o ritmo para dar lugar à seriedade de certas situações, como a reação da mãe de Arthur ao ser confrontada pelo passado. A II Guerra Mundial ainda tem marcas profundas na Europa ("Things all long gone, but the pain lingers on", como diz a letra de Pink Floyd, The Wall), e a França teve um comportamento questionável na época. As consequências podem ser sentidas até hoje e o filme levanta, de modo leve, questões extremamente sérias. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.
Links: entrevista com os roteiristas , imdb
Nenhum comentário:
Postar um comentário