Leonardo (Rafael Spregelburd) é um designer famoso internacionalmente; sua principal criação, uma cadeira futurista que é a principal atração de seu site (depois de uma foto dele mesmo) já vendeu 500 mil unidades pelo mundo. Sua casa não poderia deixar por menos e Leonardo mora com a esposa e a filha adolescente em uma obra assinada por Le Corbusier que é atração turística.
Uma manhã Leonardo é acordado por marteladas insistentes. A câmera o acompanha pela casa enorme até uma parede em comum que dá para o vizinho de trás, que está abrindo uma janela. O vizinho é Víctor (Daniel Aráoz), um homem de fala grave que explica pacientemente a Leonardo que tudo o que ele quer é um pouco de Sol. Leonardo retruca, dizendo que a janela não só é ilegal como vai invadir a privacidade de sua família. Está estabelecido o impasse e se inicia uma das situações mais complicadas do mundo moderno, que é como lidar com o outro.
O filme dos diretores Mariano Cohn e Gastón Duprat guarda curiosa semelhança com outro filme argentino lançado recentemente, "Medianeiras", também passado em uma Buenos Aires descaracterizada e moderna. "Medianeiras", inclusive, menciona as pequenas janelas ilegais feitas pelos argentinos para poder trazer um pouco de luz e ventilação para suas moradias. "O Homem ao Lado" soa como uma acidental continuação em que, do outro lado da janela, está um homem de classe alta, muita cultura mas pouco traquejo social. A família de Leonardo é tão limpa e asséptica quanto a casa futurista em que vivem, e a figura extravagante de Víctor lhes parece semelhante à dos bárbaros que chegaram ao Império Romano.
A idéia não é original; o cinema está cheio de exemplos bons e ruins de filmes que mostram os problemas de convivência entre vizinhos. "O Homem ao Lado" se distingue pela ironia com que o roteiro vê as diferenças sociais entre eles. Apesar da atrapalhação causada pela janela e pela obra do vizinho, a presença de Víctor traz cor nova à vida de Leonardo, que em um jantar com amigos discorre sobre como tem lidado com a situação, que ele descreve como "uma experiência antropológica". Há uma cena muito engraçada em que as marteladas do vizinho são confundidas como parte de uma música "concreta" que Leonardo e um amigo estão escutando. O filme é um tanto longo e repetitivo, mas "O Homem ao Lado" é outro exemplo do bom cinema argentino. Visto no Topázio Cinemas de Campinas.
Câmera Escura
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