Romain (Quentin Challal) é uma "criança astronauta", assim chamado por ter que andar protegido dos pés à cabeça, durante o dia, por uma roupa especial. Ele sofre de um tipo raro de câncer que o impede de se expor aos raios do Sol ou qualquer outra fonte de raios ultra-violeta. Seu médico, o doutor David (o ótimo Vincent Lindon, de "Mademoiselle Chambon") é um homem obstinado que tenta encontrar a cura para a doença há anos. Ele cuida do garoto desde que ele tinha dois anos de idade; o pai verdadeiro, ao receber a notícia de que a doença era incurável, abandonou o garoto e sua mãe. Assim, há naturalmente uma ligação afetiva entre o médico e o paciente, embora o filme de Delphine Gleize esteja longe do dramalhão americano associado a estes filmes sobre doenças terminais.
A figura do médico David, por exemplo, é extremamente contraditória. Após atender por 20 anos e dedicar sua vida a cuidar de pacientes com câncer, ele é chamado pela Organização Mundial da Saúde para um trabalho burocrático. Sua substituta, Carlotta (Emmanuelle Devos, de "Coco antes de Chanel"), aos poucos, descobre que David está relutante em largar seu posto. David sequer consegue contar a Romain sobre sua saída do hospital, o que certamente traz problemas ao relacionamento dos dois. A vida familiar de David também está longe da perfeição. Apesar de ser um médico renomado e prover materialmente uma boa vida para a família, ele não conhece os próprios filhos e tem uma relação distante da esposa. Há uma cena muito breve, e reveladora, em que Romain cruza com um rapaz que nunca havia sido mostrado no filme, e descobrimos se tratar do filho de David.
Quentin Challal, que interpreta Romain, está muito bem. Seu personagem, como um vampiro, só pode circular livremente durante a noite; e é fantasiado como um que Romain vai à uma festa em que conhece a garota com quem vai experimentar o amor pela primeira vez. O filme tem um tom agridoce e trata de forma franca a doença terminal. Em uma cena passada em um restaurante, quando a mãe de Romain lhe permite experimentar uma bebida alcoólica, ele retruca: "por que você não me diz que só posso beber quando crescer?". O espectro da morte paira sobre os personagens o tempo todo mas, apesar de bons momentos de emoção, o filme nunca escorrega para o melodramático. Em cartaz no "Topázio Cinemas".