sábado, 20 de agosto de 2011

A Árvore da Vida

Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? Deus existe? E se existe, como pode permitir que coisas ruins aconteçam? Estamos sós no Universo? O que é estar vivo, afinal? Estas são as perguntas básicas que os seres humanos fazem desde o início dos tempos, e campos de conhecimento como a filosofia, a psicologia ou as religiões tentam responder. São questionamentos fascinantes mas, também, extremamente básicos, e lidar com eles pode resultar em obras baratas de auto-ajuda ou em obras-primas. O diretor Terrence Mallick não se intimidou e fez um filme que é extremamente pretensioso, sim, e lembra os tempos em que diretores como Stanley Kubrick não tinham medo de desafiar o público. Curioso também que o filme de Mallick tenha sido produzido e lançado praticamente no mesmo período que Melancolia, de Lars von Trier, e é uma experiência singular vê-los com poucas semanas de diferença. Há várias ligações, tanto temáticas quanto visuais, entre as duas obras.

A Árvore da Vida era um projeto antigo de Terrence Mallick que, como diretor, se dá ao luxo de só produzir quando está absolutamente pronto para um projeto. O enredo pode ser descrito em poucas palavras. Uma típica família americana do pós guerra perde um de seus três filhos quando ele tem 19 anos. A morte do rapaz provoca reações de dor, consusão, revolta e questionamentos. Mallick, auxiliado pela espetacular fotografia de Emmanuel Lubezki, filma quase tudo com lentes grande angular montadas em câmeras que se movimentam constantemente. Não é aquela movimentação epilética e desnecessária dos filmes de Michael Bay; a câmera de Mallick é como um "espírito" percorrendo os cenários ou circulando os personagens. É, talvez, a visão de "Deus". Cada plano é como um pequeno filme acompanhado pela bela trilha sonora de músicas clássicas ou original, composta por Alexandre Desplat.

Os questionamentos da mãe (Jessica Chastain, sublime) a Deus e ao próprio Universo levam a um flashback que literalmente transporta o espectador para a origem dos tempos. Uma sequência claramente baseada em 2001 enche a tela de galáxias e aglomerados estelares, com efeitos especiais produzidos, em parte, por Douglas Trumbull (lendário técnico de filmes como 2001, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Blade Runner, entre outros). Vale repetir, Mallick não tem medo de ser pretensioso. O resultado é uma obra que, para surpresa negativa de vários frequentadores dos cinemas de shoppings, está longe de ser "um filme do Brad Pitt". É mais apropriado classificar A Árvore da Vida como um filme experimental, uma obra audiovisual que lembra Koyaanisqatsi (de Godfrey Reggio) e Baraka (de Ron Fricke), compostos inteiramente por imagens e música. A diferença é que, ao contrário dos exemplos citados, há um lado humano bastante presente no filme de Mallick. A típica família americana dos anos 50 é representada pelo Sr. O´Brien (Brad Pitt), um self made man que trabalha duro, sustenta (e oprime) a esposa e tenta ensinar aos três filhos o que é "ser homem". Não é uma tarefa fácil. Jack (Hunter McCraken), o filho mais velho, tem que lidar com a rididez do pai e com as dificuldades de se tornar adulto. A Sra. O´Brien, a mãe, é quase uma irmã para os três filhos homens, mas carrega aquela sabedoria e amor que só a maternidade ensina.

Falar mais é desnecessário. "A Árvore da Vida" deve ser mais sentido do que explicado. Não é um filme fácil e Mallick se equilibra em uma linha tênue entre o sublime e o patético. Na comparação com Melancolia, o filme de Terrence Mallick é mais esperançoso, embora também mostre como o Universo, ou a Natureza, ou Deus, ou seja lá como se pode nomear o grande mistério da existência, é ao mesmo tempo generoso e implacável. Seja você humano ou um ser pré-histórico, recém saído do mar e dando os primeiros passos na areia.


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