Exibido em Campinas há um mês no Fesvital Varilux de Cinema Francês, "Vênus Negra" volta ao Topázio Cinemas. É, sem dúvida, uma das experiências mais impactantes e difíceis de suportar já colocadas em uma tela de cinema. "Vênus Negra" conta os últimos anos de vida de Sarah Baartman, uma sul-africana que era empregada doméstica e babá na Cidade do Cabo, antes de ser levada por seu patrão para Londres, onde era exibida como uma "curiosidade" (ou aberração). É o ano de 1810 e vários tipos de atrações bizarras são mostradas em um bairro pobre da capital inglesa. Sarah é apresentada como a "Vênus Hotentote", uma "selvagem" que seu patrão, Hendrick Caezar (André Jacobs), diz ter capturado sob o risco da própria vida. A apresentação da Vênus é um longo, humilhante e bizarro espetáculo mostrado com detalhes pelo diretor Abdellatif Kechiche, que parece fazer um teste com os espectadores de cinema de hoje, comparando-os com os frequentadores destes "freak shows" do século 19. É uma encenação, claro, mas qual o limite entre o teatro e a realidade? Sarah é uma mulher de 25 anos, aparentemente adulta, por que ela se submete à humilhante representação de um ser selvagem e subdesenvolvido?
Quando membros de uma "sociedade africana" começam a levantar este tipo de questões, Caezar se junta a outro "artista", Réaux (Olivier Gourmet) e eles partem para Paris, para continuar com as apresentações da Vênus. O filme é longo, com duas horas e quarenta minutos de exibição. Durante este tempo, o espectador é testemunha de várias apresentações de Sarah, que se tornam cada vez mais degradantes, chegando perto da pornografia. Ela pertence à tribo dos Hotentotes, que têm como característica física as nádegas e órgão genital feminino avantajados. Há uma longa sequência, também humilhante, em que Sarah é levada aos cientistas franceses para ser medida, pesada, examinada e analisada como mero espécime de laboratório. Quando ela se recusa e expor a genitália, é simplesmente devolvida ao "dono". Sarah voltará a ser examinada, desta vez mais profundamente, pelos cientistas, na sequência final do filme.
"Vênus Negra" levanta a questão de como a curiosidade humana leva a extremos terríveis. A ciência "naturalista" da época não fica de fora. O resultado de todas as medições dos cientistas serve apenas para "provar" que os africanos são inferiores aos brancos, que seriam descendentes de uma raça superior. A curiosidade dos espectadores dos shows da "Vênus Hotentote" não é muito diferente do público dos "big brothers" e "pegadinhas" dos programas de televisão de hoje. Mas o próprio "Vênus Negra", paradoxalmente, acaba testando os próprios limites. Até que ponto é ético mostrar o sofrimento de uma mulher de forma tão detalhada e por tempo tão longo? Até que ponto a atriz Yahima Torres, que interpreta Sarah, não está sendo exposta da mesma forma? Claro que ela é apenas uma atriz mas, curiosamente, esta é uma justificativa dada pelos personagens ao modo como tratavam Sarah Baartman. Quanto à personagem, ela é vista sendo espancada, estuprada, cavalgada, chicoteada e humilhada de diversas formas. Que tipo de homenagem é esta à Sarah Baartman real? Curiosamente, um pouco de humanidade é mostrado apenas quando os créditos estão subindo e cenas reais do corpo de Baartman sendo devolvido à África do Sul, em 2002, são mostradas. Filme difícil, que requer estômago do espectador.
Quando membros de uma "sociedade africana" começam a levantar este tipo de questões, Caezar se junta a outro "artista", Réaux (Olivier Gourmet) e eles partem para Paris, para continuar com as apresentações da Vênus. O filme é longo, com duas horas e quarenta minutos de exibição. Durante este tempo, o espectador é testemunha de várias apresentações de Sarah, que se tornam cada vez mais degradantes, chegando perto da pornografia. Ela pertence à tribo dos Hotentotes, que têm como característica física as nádegas e órgão genital feminino avantajados. Há uma longa sequência, também humilhante, em que Sarah é levada aos cientistas franceses para ser medida, pesada, examinada e analisada como mero espécime de laboratório. Quando ela se recusa e expor a genitália, é simplesmente devolvida ao "dono". Sarah voltará a ser examinada, desta vez mais profundamente, pelos cientistas, na sequência final do filme.
"Vênus Negra" levanta a questão de como a curiosidade humana leva a extremos terríveis. A ciência "naturalista" da época não fica de fora. O resultado de todas as medições dos cientistas serve apenas para "provar" que os africanos são inferiores aos brancos, que seriam descendentes de uma raça superior. A curiosidade dos espectadores dos shows da "Vênus Hotentote" não é muito diferente do público dos "big brothers" e "pegadinhas" dos programas de televisão de hoje. Mas o próprio "Vênus Negra", paradoxalmente, acaba testando os próprios limites. Até que ponto é ético mostrar o sofrimento de uma mulher de forma tão detalhada e por tempo tão longo? Até que ponto a atriz Yahima Torres, que interpreta Sarah, não está sendo exposta da mesma forma? Claro que ela é apenas uma atriz mas, curiosamente, esta é uma justificativa dada pelos personagens ao modo como tratavam Sarah Baartman. Quanto à personagem, ela é vista sendo espancada, estuprada, cavalgada, chicoteada e humilhada de diversas formas. Que tipo de homenagem é esta à Sarah Baartman real? Curiosamente, um pouco de humanidade é mostrado apenas quando os créditos estão subindo e cenas reais do corpo de Baartman sendo devolvido à África do Sul, em 2002, são mostradas. Filme difícil, que requer estômago do espectador.
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