O cenário é simples. Uma sala de aula, uma lousa verde ao fundo, uma carteira escolar. A câmera fixa focaliza uma série de personagens vestindo algum tipo de uniforme, todos estrangeiros, falando diretamente para o espectador. Eles falam em um inglês colorido por diversos sotaques; um deles fala espanhol. Quem são estas pessoas? De onde vieram? De que forma são especiais?
Exibido ontem no 4º Festival de Cinema de Paulínia, "Ela sonhou que eu morri" é um documentário muito interessante dirigido por Maíra Bühler e Matias Mariani. Aos poucos, a série de depoimentos vai deixando mais clara a situação daquelas pessoas e a proposta do filme. São todos estrangeiros presos no Brasil e os diretores optaram por não revelar seus nomes nem de que país vieram. Cabe ao espectador escutar os relatos destes sete personagens e tirar sua própria conclusão. Há um homem que diz ter azar com a mulheres; ele conta, emocionado, sobre uma paixão adolescente que teve com uma moça da Alemanha Oriental, e como a política e as fronteiras os separaram. Em outro relato, conta como uma simples tosse da esposa revelou um câncer avançado nos pulmões dela, e o médico lhe deu apenas 35 dias de vida. Uma presa húngara mostra fotos da filha e, sorridente e se chamando de "burra", conta como caiu em um golpe; ela foi enviada para o Brasil para, a princípio, buscar uns diamantes, mas foi presa no aeroporto pelo DENARC, que achou três quilos de cocaína escondidos nas costuras da calça dela. Um rapaz, falando uma mistura de português com espanhol, conta suas aventuras amorosas com uma moça que, a princípio, não quer nada com ele. "Hoje ela diz que sou o homem da vida dela, e que vai me esperar", diz o rapaz. Há também um boxeador negro que, orgulhoso, explica sua técnica para deixar o adversário bravo antes de começar uma luta. Fala também da ex-esposa e de como descobriu que ela não só o havia abandonado como já havia tido um filho com outro homem. "Não quero falar mal dela, mas acho que isso teria acontecido mesmo se eu não estivesse preso aqui", diz ele, arrancando risadas da platéia.
O filme é basicamente isso, uma série de histórias de vida curiosas, contadas por pessoas que estão presas e que não tem necessariamente que contar a verdade. Algumas delas parecem romanceadas demais. Outras são contidas. Há uma garota negra, supostamente americana, que é vista se maquiando cuidadosamente diante da câmera, enquanto escutamos seu relato. "Tenho pesadelos toda noite", diz ela. A não ser pela mulher húngara, os presos não chegam a contar em detalhes o porquê deles estarem presos. Todos, em comum, mantém viva a esperança de sair da prisão e voltar para seus países. Outro tema similar à história de todos é até que ponto o destino das pessoas já estaria traçado ou se tudo não passa de obra do acaso, da sorte ou do azar.
A recepção ao filme foi dividida. Parte da platéia não se envolveu com as histórias ou se aborreceu com a técnica simples do documentário; pessoalmente, achei um filme muito bem construído, pela escolha dos personagens e pelo modo como suas histórias foram encadeadas. Fica a constatação de que, no fundo, somos todos iguais e que, quem sabe, em outra situação qualquer um de nós poderia estar no lugar daqueles personagens.
Exibido ontem no 4º Festival de Cinema de Paulínia, "Ela sonhou que eu morri" é um documentário muito interessante dirigido por Maíra Bühler e Matias Mariani. Aos poucos, a série de depoimentos vai deixando mais clara a situação daquelas pessoas e a proposta do filme. São todos estrangeiros presos no Brasil e os diretores optaram por não revelar seus nomes nem de que país vieram. Cabe ao espectador escutar os relatos destes sete personagens e tirar sua própria conclusão. Há um homem que diz ter azar com a mulheres; ele conta, emocionado, sobre uma paixão adolescente que teve com uma moça da Alemanha Oriental, e como a política e as fronteiras os separaram. Em outro relato, conta como uma simples tosse da esposa revelou um câncer avançado nos pulmões dela, e o médico lhe deu apenas 35 dias de vida. Uma presa húngara mostra fotos da filha e, sorridente e se chamando de "burra", conta como caiu em um golpe; ela foi enviada para o Brasil para, a princípio, buscar uns diamantes, mas foi presa no aeroporto pelo DENARC, que achou três quilos de cocaína escondidos nas costuras da calça dela. Um rapaz, falando uma mistura de português com espanhol, conta suas aventuras amorosas com uma moça que, a princípio, não quer nada com ele. "Hoje ela diz que sou o homem da vida dela, e que vai me esperar", diz o rapaz. Há também um boxeador negro que, orgulhoso, explica sua técnica para deixar o adversário bravo antes de começar uma luta. Fala também da ex-esposa e de como descobriu que ela não só o havia abandonado como já havia tido um filho com outro homem. "Não quero falar mal dela, mas acho que isso teria acontecido mesmo se eu não estivesse preso aqui", diz ele, arrancando risadas da platéia.
O filme é basicamente isso, uma série de histórias de vida curiosas, contadas por pessoas que estão presas e que não tem necessariamente que contar a verdade. Algumas delas parecem romanceadas demais. Outras são contidas. Há uma garota negra, supostamente americana, que é vista se maquiando cuidadosamente diante da câmera, enquanto escutamos seu relato. "Tenho pesadelos toda noite", diz ela. A não ser pela mulher húngara, os presos não chegam a contar em detalhes o porquê deles estarem presos. Todos, em comum, mantém viva a esperança de sair da prisão e voltar para seus países. Outro tema similar à história de todos é até que ponto o destino das pessoas já estaria traçado ou se tudo não passa de obra do acaso, da sorte ou do azar.
A recepção ao filme foi dividida. Parte da platéia não se envolveu com as histórias ou se aborreceu com a técnica simples do documentário; pessoalmente, achei um filme muito bem construído, pela escolha dos personagens e pelo modo como suas histórias foram encadeadas. Fica a constatação de que, no fundo, somos todos iguais e que, quem sabe, em outra situação qualquer um de nós poderia estar no lugar daqueles personagens.
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