domingo, 19 de junho de 2011

Turnê

Mathieu Amalric se estabeleceu como um ator de fama mundial após estrelar filmes como "Munique" (2005), "O Escafandro e a Borboleta" (2007), e "007 - Quantum of Solace". Seu rosto quase sempre serviu para interpretar personagens escusos ou vilões, e não é muito diferente neste filme escrito e dirigido por ele, "Turnê", pelo qual ganhou o prêmio de melhor diretor em Cannes, em 2010.

Joachim Zand (Amalric) não é um vilão, mas um decadente diretor que, um dia, já teve fama e sucesso. "Turnê" começa com seu retorno dos Estados Unidos, onde foi tentar a vida. Ele está acompanhado por um grupo bizarro de mulheres de meia idade que, também decadentes, são as estrelas de um show "burlesco" de dança, canto e striptease. Amalric, como diretor, adota um estilo documental de filmar o dia-a-dia destas pessoas, e o roteiro não é nada didático. A relação de Zand com "suas garotas" é de amor e ódio. Em um momento estão todos rindo e fumando juntos, nos bastidores, acompanhando a apresentação de uma delas no palco; em outro, as garotas jogam na cara dele que o show é delas e que ele não deve interferir. Há também uma cobrança constante sobre um prometido show em Paris que, aparentemente, Zand não vai conseguir produzir. Enquanto isso, a trupe perambula por cidades pequenas, se apresentando em teatros ou discotecas de segunda classe. Os shows (concebidos pelas próprias atrizes, segundo os créditos finais) variam do bizarro ao artístico. Há uma performance bastante boa de "Dream On", do Aerosmith, tocada ao piano. Há uma apresentação surpreendente em que um grande balão de festa é usado de forma criativa. Há vários tipos de striptease parcial. Tudo isso é filmado pelo diretor de fotografia de Amalric, Christophe Beaucarne, em cores fortes, geralmente do ponto de vista dos bastidores.

Há momentos muito interessantes, como quando Amalric parte para Paris em busca de um teatro. Ele para em um posto de gasolina e tem uma cena muito boa com uma operadora do caixa, que lhe pergunta onde está indo. "Vou buscar meus filhos", ele diz. A surpresa é que ele não está mentindo. Sem muitas explicações, Zand pega dois garotos em uma lanchonete e os arrasta junto com a turnê. Uma das suas "garotas", Mimi (Miranda Colclasure), é uma loira que está acima do peso e tem o corpo cheio de tatuagens. Aos poucos, um clima de romance (e ódio) começa a surgir entre ela e Joachim Zand, provavelmente causado pelo aparecimento dos garotos.

É um filme bastante melancólico e, a bem da verdade, um pouco indigesto para espectadores com pouca paciência. O roteiro é apenas um fio tênue que se arrasta de cena a cena, show a show, cidade a cidade. O final é, ao mesmo tempo, melancólico e fantasioso. Amalric se mostra um diretor sensível e aberto a improvisos. Suas garotas são um retrato triste de decadência misturada com a alegria de um grupo de turistas perambulando pela França. The show must go on.


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