sábado, 11 de junho de 2011

Potiche: Esposa Troféu

É um privilégio estar em um cinema e ver, nos créditos, os nomes de Catherine Deneuve e Gérard Depardieu. Ícones do cinema francês, já estrelaram oito filmes juntos, sendo que o primeiro foi "O Último Metrô" (1980), de François Truffaut. Os dois estão em "Potiche: Esposa Troféu", do talentoso diretor François Ozon (de "O Refúgio"). O filme faz parte do Festival Varilux de Cinema Francês, em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

Deneuve é Suzanne Pujol, fiel dona de casa e esposa exemplar de Robert Pujol (Fabrice Luchini), um homem machista que a trata da mesma forma que os 300 empregados da empresa de guarda-chuvas que comanda: mal. Robert é daqueles homens "à moda antiga" que acha que ser um bom marido é manter a esposa em uma casa grande e cheia de eletrodomésticos, enquanto frequenta o prostíbulo na cidade e tem um caso com a secretária. Suzanne também é um retrato do seu tempo, a esposa que cozinha, lava, passa e faz vista grossa às infidelidades do marido (e, secretamente, não é tão fiel assim). Eles têm dois filhos; Joelle (Judith Godrèche) é a queridinha do papai e tão reacionária quanto ele. Ela desfila com um cigarro na mão e um penteado ao estilo de Farrah Fawcett, de "As Panteras", dizendo que vai se divorciar do marido que está sempre viajando. Já Laurent (Jérémie Renier) se interessa por arte e diz que não gosta de política, embora tenha tendências para a esquerda.

Uma greve na fábrica de guarda-chuvas provoca um ataque de fúria em Robert Pujol que, se recusando a negociar com os empregados, é sequestrado e preso no escritório. Cabe a Suzanne pedir ajuda ao comunista Maurice Babin (Gérard Depardieu), e quando os dois se encontram fica claro que alguma coisa aconteceu no passado deles. Em flashbacks coloridos e teatrais, Ozon mostra como os dois tiveram um caso tórrido em uma tarde, há muitos anos. Os diálogos são muito engraçados; o roteiro, do próprio Ozon, é baseado na peça de Pierre Barillet e Jean-Pierre Gredy e, além de bem humorado, é uma sátira ao modo de vida e às mudanças sociais e políticas que sacudiram o mundo nas décadas finais do século XX. Com Robert liberto e enviado em uma viagem de recuperação de três meses, Suzanne Pujol toma o comando da empresa e, negociando com os empregados, recupera as finanças, emprega os filhos e dá vida nova ao negócio de guarda-chuvas. Ao mesmo tempo, Suzanne deixa de ser uma "esposa troféu" e se descobre como mulher.

Aos 67 anos, Catherine Deneuve continua bela e ótima atriz. Observe com que elegância ela cruza a tela e como suas expressões revelam, sutilmente, as nuances de sua personagem. Depardieu, igualmente, continua um tremendo ator e todas as suas cenas com Deneuve valem o filme. Há uma ótima sequencia em que os dois vão a uma boate típica dos anos 70, com bolas de espelho girando e luzes coloridas no chão, e fazem um número de dança que é ao mesmo tempo engraçado e nostálgico. O filme explora com humor as mudanças de papel entre os sexos, com as mulheres saindo de casa e começando a trabalhar. Há uma cena que mostra depoimentos reais da época, na televisão, de homens e mulheres falando sobre o trabalho feminino. O trabalho de recriação de época é muito bom, principalmente o figurino e a fotografia, que emula os filmes dos anos 70. Em algum lugar, sem dúvida, Truffaut deve estar sorrindo. Visto como cortesia no Topázio Cinemas de Campinas.




2 comentários:

Fernando Vasconcelos disse...

Rapaz, gostei não. Claro que vale pela divina Deneuve, mas achei boring que só. Fançois Ozon pode mais. O anterior RICKY é bem melhor. Ainda do Varilux, digo o mesmo de COPACABANA, vale pela sempre ótima Isabelle Huppert, mas é muito fraco.

João Solimeo disse...

Acho que como a safra Hollywoodiana está cada vez mais composta por super heróis de histórias em quadrinhos, monstros e personagens em 3D, quando aparecem filmes sobre "gente" como estes, reconheço, a tendência é gostar mais do que eles realmente valem.

Se for para julgar o cinema francês pelos três filmes que vi ontem (além da animação), diria que é um cinema com estilo cada vez mais leve, destinado a uma diversão com qualidade mas não muita profundidade. E bastante baseado no talento das atrizes, seja "medalhões" como Deneuve e Huppert, seja na de jovens como Tautou.