sábado, 25 de junho de 2011

Homens e Deuses

O que faz alguém abandonar tudo e entregar a vida a um deus? E de que isso vale se, em um momento de perigo pessoal, a pessoa virar as costas e fugir? Este é o dilema apresentado por este filme sóbrio e, ao mesmo tempo, delicado, de Xavier Beauvois. Em 1996, um grupo de monges vive na Argélia, antiga colônia francesa, em uma região muçulmana bastante pobre. O mosteiro, mesmo sendo católico, é um ponto de referência para a população local, que se utiliza dos cuidados médicos ministrados pelo monge Luc (Michael Lonsdale) ou dos conselhos do monge Christian (Lambert Wilson). Apenas oito monges vivem no Mosteiro Atlas, levando uma vida de orações e trabalhos simples. O filme mostra, pacientemente, como eles passam o dia limpando, rezando, arando a terra, colhendo mel de abelhas etc. A integração com a comunidade local é pacífica, e catolicismo e islamismo convivem harmoniosamente.

Um dia, porém, rebeldes radicais islâmicos matam imigrantes croatas e o terror se espalha pela região. A paz do mosteiro é quebrada abruptamente e os monges, acostumados a uma vida calma e tranquila, começam a questionar suas escolhas. O monge Christian, líder natural do grupo, se recusa a aceitar proteção militar do exército, o que causa polêmica entre seus colegas. Apesar da vida dedicada a Deus, eles são seres humanos e é natural que sintam medo de morrer. Deveriam permanecer no mosteiro ou fugir? Deveriam voltar para a França? Estas questões são debatidas democraticamente pelos monges ao redor de uma mesa. O elenco é tão bom que, aos poucos, o espectador começa a conhecer cada um deles. Lambert Wilson está impecável como o idealista Christian, apegado a suas crenças mas, ao mesmo tempo, aberto ao islamismo a ponto de citar o Alcorão a um líder terrorista quando, na noite de Natal, seu grupo invade o mosteiro. Michael Lonsdale também está bem como o velho médico que atende a todos, mesmo um rebelde islâmico ferido. Há também o monge Amédée (Jacques Herlin), o mais velho do grupo, que cativou o público com sua doçura.

Há duas cenas especiais: em uma, o monge Luc traz duas garrafas de vinho tinto e uma fita cassete com "O Lago dos Cisnes", de Tchaikovski, e emociona a todos em uma noite fria. Em outra cena, o monge Christian tenta abafar o estrondo de um helicóptero militar com seu canto gregoriano. O final, embora esperado, é trágico, mas é o que torna a vida dos monges ainda mais importante. Christian deveria ter partido com seu grupo e deixado a comunidade para trás? A quem ele deveria ter escutado, às autoridades argelinas que queriam que abandonasse o mosteiro ou aos líderes do vilarejo, que lhe pediram para ficar? Ao entregar a vida a Deus, ele já não havia feito sua escolha, ou havia alternativas? São questões que ficam após a sessão terminar.


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