O trailer de "Rango", bastante engraçado, tenta passar uma imagem de mais uma animação leve para crianças, com muita correria e piadas fáceis. Quem for ver o filme vai dar muitas risadas, sim, mas "Rango" é muito mais do que isso; é mais adulto e inteligente do que a maioria dos filmes americanos em cartaz. A direção é de Gore Verbinski, diretor de "Piratas do Caribe", e é a primeira animação produzida pela empresa de efeitos especiais de George Lucas, a ILM (Industrial Light and Magic). O resultado é um filme tecnicamente perfeito, com uma qualidade visual e um nível de detalhes impressionante. Nos créditos pode-se ver o nome do diretor de fotografia Roger Deakins como "consultor visual". Deakins é um dos melhores fotógrafos do cinema, tendo trabalhado constantemente com os irmãos Coen ou com M. Night Shyamalan. Os detalhes, a luz e as texturas vistas em "Rango" só têm paralelo em animações como "Wall-E" ou "Como treinar seu dragão"; não coincidentemente, Roger Deakins foi "consultor" também nestes dois outros filmes.
"Rango" conta a história de um camaleão que cai do carro de seus donos e se vê perdido em pleno deserto de Mojave, no oeste americano. Ele recebe ajuda de um misterioso tatu que só fala por meio de metáforas e que o direciona no caminho da pequena cidade de "Dirt" (poeira), no meio do deserto. "Dirt" é a típica cidade do velho oeste, com o "saloon", o banco, a prefeitura, o ferreiro e a funerária. Todos estão passando por dificuldades pela falta de água, que misteriosamente deixou de correr pela região. Há um sem número de referências cinematográficas no roteiro, mas a influência principal é dos faroestes italianos de Sergio Leone. Há um "coro" de corujas que nos conta a história e acompanham a trilha sonora. A questão da falta de água e suas implicações políticas vêm diretamente do clássico "Chinatown", dirigido por Roman Polanski em 1974. Até o prefeito da cidade, uma tartaruga inteligente e traiçoeira, é claramente baseada no personagem que John Huston interpretou naquele filme.
O camaleão se faz passar por um sujeito durão e adota o nome de "Rango" (tirado do rótulo de uma bebida chamada "Durango"). Toda a cidade fica impressionada com ele quando, por acidente, ele mata a principal ameaça do lugar, uma águia. O prefeito faz dele o novo cherife e ele logo se vê envolvido em uma investigação; quem teria roubado a água do banco? Por que a fazendeira "Feijão" (uma lagarta que vai se apaixonar por Rango) afirma ter visto água ser despejada no deserto? Por que é que o prefeito parece ser o único da região a não sofrer com a falta de água? Todas estas perguntas e intrigas são desenvolvidas no ótimo roteiro escrito por John Logan, que faz uma mistura de velhos filmes de faroeste com a intriga de "Chinatown". A trilha de Hanz Zimmer flerta com os clássicos que Ennio Morricone compôs para Sergio Leone ou com a música de "Sete Homens e um Destino", composta por Elmer Bernstein.
"Rango" já é opção certa para o Oscar de Melhor Animação para 2012. Seu roteiro é inteligente e, tecnicamente, eleva a computação gráfica a um nível de realismo impressionante. Se cuide, Pixar.
2 comentários:
Achei chatíssimo.
Em termos técnicos é bem perfeito mesmo. Não tem o que falar.
Mas quase dormi no filme, haha!
Que pena, Renata. O ritmo do filme realmente é mais lento que um, digamos, "Madagascar", e talvez ele seja mais interessante para quem reconheça as referências cinematográficas. Mas gostei bastante.
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