sábado, 19 de fevereiro de 2011

Abutres

Dirigido por Pablo Trapero, "Abutres" é um retrato visceral da máfia das indenizações na Argentina. Um letreiro informa que morrem oito mil pessoas por ano em acidentes de trânsito, cem mil pessoas na última década, em nosso país vizinho. Héctor Sosa (Ricardo Darín) é um advogado que teve a licença revogada e que agora presta serviços para uma organização chamada de "Fundação". Eles são especialistas em negociar com as companhias de seguros em nome das vítimas de trânsito, ficando com quase todo o dinheiro. Sosa é um "abutre", assim chamado por passar a noite seguindo ambulâncias e procurando por clientes em potencial em hospitais, nas ruas e até mesmo em velórios.

Luján (Martina Gusman) é uma médica que trabalha atendendo vítimas em longos plantões. Sua primeira imagem a mostra se injetando uma droga que a mantém calma e capaz de enfrentar a estressante jornada de trabalho. Luján e Sosa se conhecem quando ela é chamada para atender um acidente. Ele já está no local, aparentemente prestando socorro à vítima, quando a ambulância chega. Os dois passam a se encontrar várias vezes em outras ocorrências e começam um romance conturbado. Ricardo Darín ficou conhecido no mundo como o ator preferido do diretor Juan José Campanella, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro ano passado com o ótimo "O Segredo dos seus Olhos". Gusman é sócia do diretor Pablo Trapero na "Matanza Cine", produtora de "Abutres".

Trapero rodou o filme com a câmera digital RED, e a imagem é um misto de cinematográfico e jornalístico. "Abutres" é um filme bastante cru e, por vezes, chocante. A máfia das indenizações não se limita a explorar acidentes comuns, mas também em forjá-los. Há uma cena bastante forte em que Sosa aplica um remédio em um "cliente" e, enquanto conversa com ele, pega uma marreta e lhe quebra a perna. Claro que suas atividades não serão bem aceitas por Luján, que ainda tenta manter alguma ética médica. Sosa também está querendo largar tudo, mas seus superiores, através de ameaças físicas e psicológicas, não vão deixar.

Há vários planos sequência muito bem filmados pelo diretor de fotografia Julián Apezteguia, que mantém a câmera na mão e enquadra os personagens de forma documental. O plano final é brilhante, um belo trabalho de fotografia, direção e interpretação dos atores. E o cinema argentino, novamente, mostra como se podem fazer filmes sérios aqui por nossas bandas.


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