segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Comentários Oscar 2011

A cerimônia de entrega do Oscar, ocorrida em Los Angeles na noite de ontem, foi previsível e entediante. Com o claro objetivo de atrair a audiência jovem, os atores James Franco e Anne Hathaway foram os mestres de cerimônia, substituindo os tradicionais comediantes. O resultado foi muito fraco. Hathaway e Franco podem ser bonitos e talentosos, mas não têm "timing" algum para levar uma cerimônia como esta. James Franco parecia estar drogado; fez toda a cerimônia com um sorriso travado no rosto e lia o teleprompter com dificuldade, de forma robótica.

Quanto aos vencedores, "O Discurso do Rei" confirmou as previsões e levou os prêmios de Melhor Filme, Diretor (Tom Hooper), Ator (Colin Firth) e Roteiro Original (David Seidler). O longa britânico tem a "cara" do Oscar e é sem dúvida um ótimo filme, mas "A Rede Social" é muito mais relevante e atual. Particularmente vergonhosa foi a decisão da "Academia de Artes e Ciências Cinematográficas" de votar em Tom Hooper como melhor diretor. Hooper fez um trabalho competente mas, novamente, o melhor diretor do ano foi David Fincher por "A Rede Social". Fincher pegou um roteiro basicamente falado (muito bem escrito por Aaron Sorkin, que ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado) e conseguiu imprimir ritmo e suspense. "A Rede Social" venceu também os prêmios de Melhor Trilha Sonora (Trent Reznor and Atticus Ross) e Melhor Edição (Angus Wall e Kirk Baxter).

Outra injustiça da noite foi o prêmio de Melhor Fotografia para Wally Pfister em "A Origem". O vencedor deveria ter sido o mestre Roger Deakins por seu trabalho excepcional em "Bravura Indômita". O faroeste dos irmãos Coen, a propósito, foi o grande injustiçado da noite, com dez indicações e nenhuma vitória.

A categoria ator e atriz coadjuvantes surpreendeu favoravelmente. Christian Bale (excepcional em O Vencedor) repetiu o feito do Globo de Ouro e levou um Oscar merecido, assim como sua colega Melissa Leo (que deu uma gafe ao falar a palavra "fuck", proibida na televisão ao vivo americana, durante seu discurso de agradecimento).
Na categoria Melhor Documentário, "Inside Job" tirou o prêmio do divertido "Exit through the gift shop", do artista Banksy (que havia prometido receber o prêmio vestido de macaco, caso ganhasse). "Lixo Extraordinário", co-produção entre a Inglaterra e o Brasil, também ficou sem o prêmio.

No geral, os prêmios foram melhor distribuídos que em outros anos. Esperemos que no próximo ano escolham melhor o apresentador da cerimônia; Billy Crystal, antigo apresentador do Oscar, fez uma participação especial que serviu apenas para mostrar como Franco e Hataway estavam perdidos.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Vencedores OSCAR 2011

Melhor Direção de Arte
Alice no País das Maravilhas

Melhor Direção de Fotografia
Wally Pfister, por A Origem

Melhor Atriz Coadjuvante
Melissa Leo, por O Vencedor

Melhor Animação Curta-Metragem
The Lost Thing

Melhor Animação Longa-Metragem
Toy Story 3

Melhor Roteiro Adaptado
Aaron Sorkin, por A Rede Social

Melhor Roteiro Original
David Seidler, por O Discurso do Rei

Melhor Filme Estrangeiro
Em um mundo melhor

Melhor Ator Coadjuvante
Christian Bale, por O Vencedor

Melhor Trilha Sonora
Trent Reznor e Atticus Ross, por A Rede Social

Melhor Mixagem de Som
A Origem

Melhor Edição de Som
A Origem

Melhor Maquiagem
O Lobisomen - Rick Baker e Dave Elsey

Melhor Figurino
Alice no País das Maravilhas - Colleen Atwood

Melhor Documentário Curta-Metragem
Strangers no More, de Karen Goodman e Kirk Simon

Melhor Curta-Metragem
God of Love, de Luke Matheny

Melhor Documentário Longa-Metragem
Inside Job, Charles Ferguson e Audrey Marrs

Melhores Efeitos Especiais
A Origem

Melhor Edição
A Rede Social, Angus Wall e Kirk Baxter

Melhor Canção
We belong together, de Randy Newman em Toy Story 3

Melhor Direção
Tom Hooper, por O Discurso do Rei

Melhor Atriz
Natalie Portman, em O Cisne Negro

Melhor Ator
Colin Firth, em O Discurso do Rei

Melhor Filme
O Discurso do Rei

Exit through the gift shop

Curioso. Dos cinco filmes indicados a melhor documentário no Oscar que acontece esta noite, dois deles questionam a definição e o valor da Arte. Um deles é "Lixo Extraordinário", ótima co-produção britânico-brasileira que mostra o trabalho desenvolvido por Vik Muniz em Jardim Gramacho, o maior "lixão" do mundo, no Rio de Janeiro. O outro filme é "Exit through the gift shop" (sem previsão de lançamento no Brasil), que discute não só o que seria "Arte" e seu valor financeiro como também a própria definição de documentário. Há quem diga que o filme não passe de uma charada criada pelo artista Banksy, diretor do longa.

Explicando: Thierry Getta é um francês que mora nos Estados Unidos desde os anos 80. Ele tem uma obsessão; tudo que faz é gravado por ele mesmo em centenas de fitas de vídeo, que se acumulam em caixas em sua casa. Sua renda vem de uma loja de roupas "recicladas" em Los Angeles, de onde ele tira uma fortuna. Ele compra produtos de segunda mão e, após mexer um pouco com as roupas, revende para a sociedade "alternativa" da cidade por centenas de dólares. Já se nota aqui uma crítica irônica à sociedade de consumo. Um dia Thierry começa a gravar imagens de um artista francês chamado de "Space Invader", pois sua arte consiste em espalhar pelas cidades do mundo ícones com figuras do antigo jogo de videogame.

Thierry passa então a seguir outros artistas de rua como Shepard Fairey e dezenas de outros pelas noites de Los Angeles, supostamente para fazer um documentário. Mas Thierry realmente gostaria de gravar Banksy, um artista britânico famoso por suas obras polêmicas feitas nas ruas de Londres ou no muro construído por Israel para "se proteger" dos palestinos. Não demora muito para Thierry se tornar o guia de Banksy em Los Angeles e a documentar seu trabalho. Há uma sequência ótima que mostra Banksy e Thierry entrando na Disneylândia e deixando outro trabalho polêmico: um boneco em tamanho real vestido como um dos prisioneiros iraquianos que os Estados Unidos mantinham (sem julgamento) em Guantanamo, Cuba.

A última parte é a mais irônica. Thierry teria passado meses montando seu filme e mostrado a Banksy, que o achou péssimo. Banksy resolveu tomar as rédeas da produção e mudar o assunto do documentário, que agora passou a ser o próprio Thierry Getta (Banksy diz que o francês é um assunto melhor do que ele). Thierry resolve se tornar ele mesmo um artista e gasta milhares de dólares em uma exposição de arte montada em um estúdio abandonado da TV CBS, em Los Angeles. Suas obras não passam de cópias modificadas do trabalho de Andy Warhol (como a famosa lata de sopas Campbell), mas isso não importa. O que "Exit through the gift shop" quer mostrar é como qualquer coisa pode ser chamada de "arte" e valer muito dinheiro. A mega exposição criada por Thierry (que passa a se chamar "Sr. Lavagem Cerebral", veja a ironia) rende uma fortuna. Em "Lixo Extraordinário", Vik Muniz é mostrado criando arte a partir do lixo, em figuras claramente inspiradas por quadros clássicos. A palavra "reciclagem" ganha outros significados nas obras criadas por Muniz, Banksy ou mesmo Thierry Getta.

Mas seria "real"? O "Mr. Brainwash" realmente existe e tem feito exposições de arte pelo mundo. Mas tudo pode ser uma armação elaborada por Banksy, ele mesmo uma figura "anônima" cujo rosto nunca é visto durante o documentário. A indicação do filme ao Oscar gerou outra polêmica: caso o documentário vença, quem vai receber o prêmio? As últimas notícias dizem que Banksy conseguiu convencer a Academia a deixá-lo comparecer vestindo uma roupa de macaco. É a arte de rua invadindo outro ícone, o Oscar.


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Abutres

Dirigido por Pablo Trapero, "Abutres" é um retrato visceral da máfia das indenizações na Argentina. Um letreiro informa que morrem oito mil pessoas por ano em acidentes de trânsito, cem mil pessoas na última década, em nosso país vizinho. Héctor Sosa (Ricardo Darín) é um advogado que teve a licença revogada e que agora presta serviços para uma organização chamada de "Fundação". Eles são especialistas em negociar com as companhias de seguros em nome das vítimas de trânsito, ficando com quase todo o dinheiro. Sosa é um "abutre", assim chamado por passar a noite seguindo ambulâncias e procurando por clientes em potencial em hospitais, nas ruas e até mesmo em velórios.

Luján (Martina Gusman) é uma médica que trabalha atendendo vítimas em longos plantões. Sua primeira imagem a mostra se injetando uma droga que a mantém calma e capaz de enfrentar a estressante jornada de trabalho. Luján e Sosa se conhecem quando ela é chamada para atender um acidente. Ele já está no local, aparentemente prestando socorro à vítima, quando a ambulância chega. Os dois passam a se encontrar várias vezes em outras ocorrências e começam um romance conturbado. Ricardo Darín ficou conhecido no mundo como o ator preferido do diretor Juan José Campanella, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro ano passado com o ótimo "O Segredo dos seus Olhos". Gusman é sócia do diretor Pablo Trapero na "Matanza Cine", produtora de "Abutres".

Trapero rodou o filme com a câmera digital RED, e a imagem é um misto de cinematográfico e jornalístico. "Abutres" é um filme bastante cru e, por vezes, chocante. A máfia das indenizações não se limita a explorar acidentes comuns, mas também em forjá-los. Há uma cena bastante forte em que Sosa aplica um remédio em um "cliente" e, enquanto conversa com ele, pega uma marreta e lhe quebra a perna. Claro que suas atividades não serão bem aceitas por Luján, que ainda tenta manter alguma ética médica. Sosa também está querendo largar tudo, mas seus superiores, através de ameaças físicas e psicológicas, não vão deixar.

Há vários planos sequência muito bem filmados pelo diretor de fotografia Julián Apezteguia, que mantém a câmera na mão e enquadra os personagens de forma documental. O plano final é brilhante, um belo trabalho de fotografia, direção e interpretação dos atores. E o cinema argentino, novamente, mostra como se podem fazer filmes sérios aqui por nossas bandas.


Inverno da Alma

Este é um lado dos Estados Unidos que raramente é visto no circuito comercial. "Inverno da Alma" venceu o Festival de Sundance, tradicional reduto de filmes independentes, e teve fôlego para chegar a quatro indicações ao Oscar (melhor roteiro adaptado, atriz, ator coadjuvante e melhor filme). Escrito e dirigido por Debra Granik e rodado no estado do Missouri, "Inverno da Alma" é um retrato de uma região onde, aparentemente, o "sonho americano" nunca chegou.

A jovem Ree Dolly (Jennifer Lawrence), de 17 anos, carrega a responsabilidade de cuidar de dois irmãos mais novos e da mãe com problemas psicológicos. O pai era um fabricante de "crack" que foi solto sob fiança, mas seu paradeiro é desconhecido. O xerife visita a casa de Ree e lhe avisa que o pai havia colocado o imóvel como garantia da fiança; se ele não se apresentar para sua audiência, Ree, a mãe e as crianças vão perder a propriedade. "Eu vou achar meu pai", diz a garota. Jennifer Lawrence faz um trabalho sério e convincente e a indicação ao Oscar foi merecida. A garota começa então a procurar pelo pai foragido mas, aos poucos, percebemos que ninguém está disposto a ajudá-la. Teria o pai fugido? Estaria escondido na casa de algum parceiro? Ou, o que se torna cada vez mais provável, estaria morto? Quem se incomodaria com um traficante a mais naquela região pobre e miserável?

A maioria dos personagens têm dificuldades financeiras ou com a lei. Suas casas não passam de cabanas ou trailers caindo aos pedaços. A família de Ree depende da ajuda de uma vizinha para não passar fome, ou então tem que comer esquilos que caçam na floresta. Granik faz um filme bastante feminino, mas não no sentido "frágil" ou "delicado", pelo contrário. As marcas da vida estão nos rostos de todas as mulheres de "Inverno da Alma". Os poucos homens mostrados na tela também parecem sobreviventes. O tio de Ree, chamado de Teardrop ("Lágrima"), é um sujeito assustador interpretado por John Hawkes, que me lembrou um jovem Dennis Hopper.

Há uma passagem que mostra como o exército americano consegue membros vindos da camada pobre da população. Ree tenta se alistar por causa dos 40 mil dólares prometidos aos novos recrutas, e só não consegue por ainda não ter os 18 anos exigidos. Mas não é difícil imaginar um exército de miseráveis indo perder suas vidas no Iraque em troca de 40 mil dólares. "Inverno da Alma" é baseado no livro de Daniel Woodrell, com roteiro adaptado por Debra Granik e Anne Rosellini. Um filme sério e honesto, cuja indicação ao Oscar tornou possível sua divulgação mundo afora.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Mágico

Mágica e ilusão. Sylvain Chomet, o diretor da ótima animação "As Bicicletas de Belleville" (2003), usou da ilusão do cinema para trazer de volta a uma de suas figuras mais marcantes, o francês Jacques Tati. Herdeiro artístico de astros do cinema mudo como Charles Chaplin e Buster Keaton, Tati criou um personagem que quase não falava e protagonizou vários filmes, como "As Férias do Sr. Hulot" (1953) e "Meu Tio" (1958) (e, certamente, serviu de inspiração para o "Mr. Bean" de Rowan Atkinson). Em 1956, Tati escreveu um roteiro chamado "L'Illusionniste", que nunca filmou. Há controvérsias sobre as motivações por trás deste roteiro, mas a versão mais aceita é a de que Tati sentia remorso por ter abandonado uma filha (Helga Marie-Jeanne Schiel) quando criança. A filha mais nova de Tati, Sophie Tatischeff, foi quem autorizou Sylvain Chomet a levar para as telas, finalmente, o roteiro não produzido pelo pai.

A animação conta a história de um mágico que, no final dos anos 50, está enfrentando problemas para atrair público para suas apresentações. Seu número é tradicional (com coelho na cartola e tudo) e ele sofre com a concorrência do rock ´n roll e da televisão. A própria eletricidade representa uma ameaça, com toda a mecanização que ela traz. Há uma sequência linda em que o mágico é levado para uma pequena vila no litoral da Escócia, onde encontra uma platéia entusiasmada. Mas a eletricidade acaba de chegar na vila e, logo após sua apresentação, o dono do bar liga uma máquina de "jukebox" que toca, a todo volume, rock ´n roll. É a música gravada tomando o lugar das apresentações ao vivo.

Mas se engana quem pensa que este é um filme contra a modernização; é sem dúvida nostálgico, mas as mudanças fazem parte da vida. A mudança é representada na figura de uma garota que, fascinada com as ilusões do mágico, acredita que ele realmente consegue fazer coisas aparecerem no ar. Quando ele deixa a vila e parte para a cidade grande (Edinburgo, maravilhosamente desenhada), ela o acompanha. O filme é praticamente mudo, a história sendo contada apenas com imagens, música (do próprio diretor Sylvain Chomet) e frases curtas em inglês e francês (que sequer têm legendas em português). A relação entre o mágico e a garota nunca é explicada nem questionada. Ele apenas a acolhe e ela o acompanha em sua vida como artista. E ela realmente acredita (ou simplesmente não questiona) o fato dele fazer surgir presentes para ela, como sapatos e roupas novas quando, na verdade, ele batalha em vários trabalhos paralelos para ganhar algum dinheiro. Outros artistas frequentam o mesmo hotel em que eles estão, como um ventríloco, um palhaço e um grupo de malabaristas, todos em vários estágios de decadência.

O trabalho de animação é primoroso e os desenhistas conseguiram replicar os movimentos de Tati perfeitamente. Mas não só isso. Cada plano do filme é uma obra de arte cheia de luzes, cores e movimento. Como toda comédia séria (perdão pela contradição), "O Mágico" é também bastante melancólico, principalmente no retrato dos decadentes artistas de palco. É o final de uma era e o início da massificação e globalização do entretenimento. Mas, aparentemente, é também uma auto-espiação de Tati pela vida errante de artista e pelo tempo longe da família. Mas há esperança. Vários casais são vistos em cenas do filme e, não demora muito, a garota também vai achar seu par.

Destaque para uma cena memorável em que o Tati animado entra em um cinema que está passando "Meu Tio" e vê na tela Jacques Tati, em carne e osso, atuando. "O Mágico" foi indicado ao Oscar de Melhor Animação (deve perder para Toy Story 3) e é um trabalho maravilhoso. Em Campinas pode ser visto no Topázio Cinemas.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

Bravura indômita

Há um plano de Jeff Bridges neste filme que é o típico retrato do herói. A câmera o focaliza de baixo, contra um céu azul aparentemente infinito, e ele joga uma coisa no ar. Ele saca seu revólver e atinge o objeto com um tiro certeiro. O plano dura alguns segundos, mas é um dos grandes momentos de "Bravura Indômita", novo filme dos irmãos Joel e Ethan Coen. Mas se engana quem acha que este plano tem qualquer coisa de heróica. O filme dos Coen é, como quase todos os faroestes feitos nos últimos anos, revisionista.

Bridges interpreta o agente federal Rooster Cogburn, um personagem bêbado, sanguinário e decadente, contratado por uma garota de apenas 14 anos para localizar o assassino do pai dela. Ela é Mattie Ross (Hailee Steinfeld), uma garota decidida e precoce que quer a todo custo vingar a morte do pai. A jovem Steinfeld é uma atriz excelente, mostrando uma determinação implacável e falando com naturalidade os longos diálogos escritos pelos irmãos roteiristas, baseados no livro de Charles Portis (já transformado em filme por Henry Hathaway em 1969, estrelando ninguém menos que John Wayne). É muito engraçada uma cena em que a garota consegue negociar com um vendedor os pôneis e a sela do pai. É com este dinheiro que ela contrata Cogburn e eles partem para o território indígena atrás do assassino, Tom Chaney (Josh Brolin). Os dois são acompanhados pelo texano LaBoeuf (Matt Damon), que também está atrás de Chaney por outros motivos.

Os irmãos Coen são marcados por um tipo de cinema sofisticadamente cínico e bem escrito, em filmes como "Barton Fink", "O Homem que não estava lá", "E ai, meu irmão, onde está você?" e "Fargo", entre outros. O Oscar veio com "Onde os fracos não têm vez", um tipo de faroeste moderno que deixou muita gente sem entender o final em aberto e sem esperanças. "Bravura Indômita" é não só um filme de "gênero" definido (e o mais americano de todos, o "western") como ainda carrega a carga de ser uma "refilmagem", o que poderia sinalizar um afrouxamento no cinema de Joel e Ethan. Não é verdade. Para começar, não é realmente uma refilmagem, mas um novo roteiro escrito a partir do livro no qual se baseou o filme de 1969. E há várias características dos Coen neste novo filme. Há uma passagem extremamente "Coeniana" na cena em que Bridges e a garota vêem o que parece ser um urso montado a cavalo (na verdade, um homem vestindo uma pele de urso para se proteger do frio) e no diálogo bizarro que eles trocam. A violência inesperada de "Fargo" também pode ser vista em uma cena em que Bridges tenta convencer um homem a dizer o destino de Chaney, ou no tiroteio que se segue.

Há também um retrato satírico dos Estados Unidos na personagem da garota (que não tem nada de infantil), Mattie Ross. Seus motivos podem ser justos, mas seu desejo de vingança é fortemente baseado na religiosidade dos colonizadores americanos. Ao presenciar um enforcamento triplo, no início do filme, ao invés de se sentir chocada, sua determinação só aumenta, e ela chega a passar sua primeira noite na cidade no depósito da funerária, onde estavam os corpos não só de seu pai, mas dos três enforcados.

Tecnicamente falando, destaque deve ser dado à excelente direção de fotografia de Roger Deakins. Seus enquadramentos são primorosos, assim como o uso preciso da luz e sombra. Os enquadramentos também lembram clássicos do gênero dirigidos por John Ford. Roger Deakins divide uma das dez indicações ao Oscar que o filme recebeu.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Santuário

Esta aventura usa duas "grifes": o nome James Cameron e o sistema 3D de projeção. Despois do sucesso de "Avatar", um praticamente virou sinônimo do outro, e o diretor de "Titanic" e "O Exterminador do Futuro" assina a produção executiva de "Santuário". Mas se o roteiro de "Avatar" já era bem simples, "Santuário" mais parece um falso documentário de televisão. Curiosamente, a ligação com Cameron também faz lembrar seu filme de 1989, "O Segredo do Abismo", em que mergulhadores descobriam uma civilização extraterrestre no fundo do oceano.

"Santuário" não passa da exibição de belas imagens em três dimensões povoada por personagens bidimensionais. Todos os clichês possíveis podem ser encontrados. O início do filme é praticamente igual a Jurassic Park, lançado por Steven Spielberg em 1993: "Santuário" começa com a chegada (em um helicóptero) de um milionário excêntrico, Carl (Ioan Gruffud) a uma ilha coberta por florestas tropicais. Lá se encontra o maior sistema de cavernas do mundo, que está sendo explorada por cientistas. O problema é que uma chuva se transforma inesperadamente em um ciclone e deixa a todos presos na caverna, enfrentando a fúria da Natureza. Em "Santuário" não há nem os dinossauros de Spileberg nem os extraterrestres de Cameron; assim, metade do filme é dedicado a mostrar as pessoas entrando na caverna e a outra metade os mostra tentando sair dela. Continuando com os clichês, há o relacionamento conturbado entre um pai linha dura, Frank (Richard Roxburgh) e seu filho adolescente, Josh (Rhys Wakefield). Há também uma mergulhadora (que além de mulher se chama "Jude", judia) que logo na primeira cena fica assustada e, claro, morre no mergulho. Há também uma cena em que um personagem começa a tossir, o que significa doença grave, e ele não dura muito tempo.

De clichê em clichê, o diretor Alister Grierson leva o espectador pelos vários "níveis" da caverna que, como em um videogame, vai ficando cada vez mais perigosa. Um aviso no início do filme diz que "Santuário" foi inspirado em uma história real, uma forma de dar "credibilidade" ao roteiro de John Garvin e Andrew Wight. O site oficial informa que Wight realmente ficou preso por dois dias com uma equipe de filmagem em uma caverna na Austrália, mas este é o limite de "realidade" presente em "Santuário". A produção sem dúvida é bem feita; cenários enormes foram usados para simular o interior da caverna, além de cenas reais de mergulho filmadas em cavernas australianas. Mas "Santuário" é muito fraco. Teria sido mais interessante, talvez, se fosse um documentário de verdade.