quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um lugar qualquer

O novo filme de Sofia Coppola, apesar de muito bom, sofre pela semelhança com outro da diretora, o ótimo "Encontros e Desencontros" (2003), que tinha basicamente a mesma premissa. Bob Harris (Bill Murray), era um ator famoso, mas decadente, que ia para Tóquio gravar uma série de comerciais de bebida. Entre as gravações, o filme era sobre suas andanças pelo grande (e estéril) hotel onde estava hospedado e sua amizade/amor com uma garota mais jovem, Charlotte (Scarlett Johansson), também "perdida" na cidade. O charme do filme estava nos longos silêncios e na sensação de vazio dos dois personagens diante de uma cultura que eles não entendiam e não faziam parte. E, claro, na atração amorosa que se instala entre os dois.

"Um lugar qualquer" (Somewhere) também trata de um astro de cinema, o jovem Johnny Marco (Stephen Dorff), vagando em vazio existencial pelos corredores do hotel Chateau Marmont, em Hollywood. Ele é bem sucedido naquele tipo de filme de ação em que não tem muito o que fazer a não ser correr, saltar e ser bonito, mas está no limbo. Sua vida se resume a beber muito, consumir drogas e ter sexo casual com fãs e prostitutas. De vez em quando, pede o serviço de duas "dançarinas de pole dance", gêmeas, que se apresentam em elaboradas coreografias em seu quarto. Em uma delas, ele dorme no meio da apresentação.

E há Cleo (Elle Fanning), sua filha de 11 anos, com quem ele passa alguns dias da semana. A cena em que Cleo é apresentada é um primor de Sofia Coppola. Após uma apresentação das gêmeas dançarinas, ambas loiras, jovens e lindas, há um corte que sai de uma delas e vai para uma mão feminina, que assina o gesso do braço quebrado de Johnny Marco. Ele abre os olhos e tanto ele quanto o público vê Cleo pela primeira vez, também jovem, loira e linda. É como se ela fosse apenas mais uma etapa nos compromissos sem importância que ele tem que cumprir durante o dia. Só que a mãe de Cleo deixa uma mensagem para Marco dizendo que precisa "dar um tempo" e desaparece por uns dias, deixando a garota com ele. Ao contrário do que se poderia esperar, este não é um filme clichê de pai descobrindo o valor dos filhos. Aos poucos, sim, Johnny Marco vai se sentindo mais próximo da filha mas, ao mesmo tempo, sente-se cada vez mais vazio. Os dois passam o dia jogando videogame ou tomando sol à beira da piscina. Elle Fanning é uma graça e dá a Cleo uma imagem de garota que sabe do status de celebridade do pai, mas não é muito afetada por isso. Há várias sequências em que a vemos simplesmente cozinhando ou criando pratos para o jantar, como alguém que está acostumada a se virar sozinha. Pai e filha partem para a Itália em uma viagem promocional do novo filme de Marco, mas não vemos nada do país, continuamos no ambiente artificial dos hotéis de luxo.

Em vários aspectos, é um filme mais cruel do que "Encontros e Desencontros". Não há o exotismo do Japão, por exemplo, para aliviar o vazio existencial dos personagens. E tanto Bill Murray quanto Scarlett Johansson passavam a sensação de pessoas apenas temporariamente perdidas, a ponto de mudar de situação. Já Johnny Marco (como o próprio chega à conclusão em determinado ponto do filme) sente-se como um "nada". Ele tem dinheiro e fama, mas não sabe o que fazer com eles. A vida é uma sucessão de brincadeiras sem sentido e acompanhantes de luxo. A convivência com Cleo pode dar aos dois uma nova chance, mas mesmo o final é falsamente otimista. O que Johnny Marco vai fazer em seguida? O filme estréia no Brasil dia 28 de janeiro.


Um comentário:

Zeca Jas disse...

Tá. Mas você viu no TOPÁZIO CINEMAS???