A produção de "Enrolados" passou por muitos problemas. Originalmente chamado de "Rapunzel", a produção da Disney era para ser um desenho animado tradicional, feito à mão e seguindo a longa tradição do estúdio. Mas os tempos mudaram, os animados em computação gráfica se tornaram a norma e uma concorrente, a Pixar, havia tomado o posto de principal estúdio de animação do mundo.
Disney e Pixar se fundiram, executivos mudaram de posição na empresa e John Lasseter, o gênio criativo por trás de "Toy Story" e outros sucessos se tornou produtor executivo de "Rapunzel", que depois de muitas mudanças passou a se chamar "Enrolados". O filme foi feito em computação gráfica e, seguindo outra tendência, em 3D. O resultado, surpreendentemente, é excelente. "Enrolados" pode ser considerado um marco na fusão das novas tecnologias com o traço tradicional do desenho animado da Disney. Não só isso; o coração do filme está em algo que a Pixar, com toda sua tecnologia, sempre prezou muito: o roteiro.
Seguindo a tradição das princesas da Disney como Cinderela, A Bela Adormecida e a Pequena Sereia, "Enrolados" conta a história de Rapunzel, uma princesa com cabelos mágicos que têm o poder de manter as pessoas jovens e de curar feridas. Ainda quando bebê, ela é sequestrada por uma bruxa chamada Gothel, que se torna sua mãe. Superprotetora, Gothel coloca Rapunzel em uma alta torre em um local secreto da floresta, onde a garota passa todos os dias de sua vida. Ela tem curiosidade sobre o mundo lá fora, claro, mas as histórias de terror que sua mãe lhe diz faz com que ela também tenha muito medo de sair da sua prisão sem grades. Uma vez por ano, em seu aniversário, o palácio solta balões iluminados no céu, na esperança de que a princesa ache o caminho de volta para casa. A cena em que a garota, aos 18 anos, pede de presente para a mãe que a deixe sair da torre valeria teses de psicologia sobre o poder da influência dos pais sobre a liberdade dos filhos. Gothel aterroriza e ridiculariza a menina de tal forma que Rapunzel, apesar de ainda querer fugir, se sente segura e protegida na alta torre da floresta. Até que um dia um ladrão chamado Flynn Ryder, fugindo dos guardas do palácio, acaba chegando até a torre, e no momento que Rapunzel olha para ele sabe que tudo mudou em sua vida.
Além do ótimo roteiro, a técnica de "Enrolados" é impressionante. A influência e know how da Pixar se fazem sentir em cada plano; os cenários são ricos em detalhes e os personagens não se movimentam como bonecos de computador. O 3D é muito bem usado e não é somente um chamariz de bilheteria. A trilha sonora tem músicas de Alan Menken, um dos responsáveis pelo ressurgimento da Disney no mundo da animação em "A Pequena Sereia" (1989) e vencedor de oito Oscars em filmes como "A Bela e a Fera", "Aladinn" e "Pocahontas". O filme tem cenas ótimas, como a passada dentro de uma taverna escura, cheia de bandidos (que acabam se revelando sensíveis e de bom coração) ou a primeira vez que Rapunzel sai da torre, alternando momentos de extrema alegria com outros de depressão e culpa. Há também um personagem coadjuvante, um camaleão que faz companhia a Rapunzel na torre, que rende boas gargalhadas. Mas a melhor cena, para entrar para a história da Disney, é o momento em que Flynn e Rapunzel, em um barco, acompanham o lançamento dos balões iluminados ao céu.
Clássico instantâneo.
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