Longa metragem composto por seis episódios, este filme da Romênia foi escrito pelo mesmo diretor do ótimo "4 meses, 3 semanas e 2 dias", Cristian Mungiu. Enquanto este último tinha uma trama pesada (as negociações de duas mulheres com um salafrário para fazer um aborto ilegal), estes contos são leves, tendendo para a comédia irônica.
Assim como "4 meses, 3 semanas e 2 dias", os curtas se passam durante a ditadura de Nicolau Ceausescu, que governou a Romênia comunista de 1965 até 1989, quando foi derrubado e morto por uma revolta armada. Os episódios foram todos escritos por Mungiu e dirigidos por Hanö Hofer, Rasvan Marculescu, Constantin Popescu, Iona Uricaru e o próprio Cristian Mungiu. As tramas são uma série de "lendas urbanas" sobre como o povo romeno lidava com os problemas gerados pela burocracia do governo comunista.
Em "Vendedores de Ar", um rapaz e uma moça (Diana Cavaliotti e Radu Iacoban) se fazem passar por funcionários do "Ministério da Química" e aplicam golpes em idosos que ficam sozinhos em seus apartamentos. Eles dizem que vieram buscar uma amostra da água (ou do próprio ar) do apartamento porque houve reclamações sobre a má qualidade destes. O objetivo dos dois, na verdade, é recolher garrafas de vidro vazias e vendê-las. Segundo o episódio, no final do governo comunista era possível até comprar um carro velho vendendo garrafas.
O episódio "Chofer de Galinhas" trata de um motorista de caminhão, Grigore (Vlad Ivanov) que está com problemas no casamento. Quase todos os dias ele tem que transportar galinhas até uma cidade portuária, mas ele sempre para em um restaurante gerenciado por uma bela mulher solitária. Os dois começam um esquema de vender os ovos postos pelas galinhas para o povo da vizinhança. Como em todos os episódios, a presença da polícia do Estado se faz sentir, e Grigore acaba descobrindo, da pior forma, quem lhe é realmente fiel.
"Visita Oficial" é o episódio mais engraçado do longa. O povo de uma comuna está agitado por causa de uma visita dos membros do Partido no dia seguinte. Todos estão pintando faixas vermelhas com frases patrióticas, tapando buracos nas ruas ou trazendo os animais do campo para serem expostos na estrada. Um modesto parque de diversões também está instalado na comuna para uma festa local, e um dos aparelhos do parque vai ter papel importante na trama, além de arrancar da platéia as únicas gargalhadas de todo filme.
A burocracia do Partido Comunista é mostrada de forma mais evidente em "O Fotógrafo Oficial". Durante a visita de um "representante do capitalismo" à Romênia, os fotógrafos do jornal oficial são obrigados a seguir diretrizes que dizem que Nicoláu Ceausescu tem sempre que parecer mais alto que os outros na foto. Em uma época em que o Photoshop ainda não existia, retoques tinham que ser feitos, à mão, através de truques óticos. Um problema ideológico acontece quanto, em uma foto, o ditador romeno parece mais baixo que um político francês, que está usando um chapéu. O que fazer? Tirar o chapéu do francês ou colocar um em Ceausescu? Para que a foto seja adulterada e os jornais sejam impressos a tempo, o Partido até atrasa o horário dos trens. Só que um detalhe esquecido na foto adulterada pode custar o emprego (e a liberdade) do fotógrafo oficial do jornal.
"O Ativista" é o episódio tecnicamente mais bem feito, mas é dos menos inspirados. Fugindo do estilo "câmera na mão" e documental dos outros episódios, este tem movimentos de câmera bem feitos e trilha sonora mais evidente. A trama conta a história de um ativista que vai para uma pequena aldeia para cumprir a promessa do Partido de erradicar com o analfabetismo. A intenção pode ser boa, mas ele vai enfrentar barreiras culturais e um pastor que se recusa a ir à escola.
No episódio "O Policial Ganancioso", um porco vivo é contrabandeado para dentro do apartamento do personagem título, que tem que imaginar um meio de matá-lo para o Natal. Como matar um porco, em um apartamento, sem atrair a atenção de toda a vizinhança? É o filho do policial que tem a idéia de usar o gás da cozinha para matar a "fera".
Os episódios são interessantes pricipalmente por mostrar uma cultura que, assim como a brasileira, está acostumada a dar seus "jeitinhos" para sobreviver. Há uma leveza intencional nas histórias que acaba sendo o ponto fraco do longa como um todo. A ingenuidade por vezes soa forçada e os episódios carecem de um final mais impactante. Com 155 minutos de duração, é também bastante longo. Mas alguns episódios são realmente interessantes, ao mostrar a solidão do motorista de caminhão, a burocracia na visita oficial, a censura aos fotógrafos do jornal e a história bizarra do porco de Natal. "Contos da Era Dourada" está em cartaz no Topázio Cinemas.
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