
O documentário tem produção do estúdio "El Deseo", de Almodovar e da produtora "O2", de Fernando Meireles. Dirigido por Miguel Gonçalves Mendes, o filme começa em 2006, quando Saramago e Pilar estavam organizando uma biblioteca. O escritor é visto concentrado diante do computador, mas se engana quem o imagina escrevendo a mais nova obra prima das letras; a câmera revela que o Prêmio Nobel de Literatura de 1998 está, na verdade, jogando "paciência" no notebook, para "afastar o Alzheimmer", diz Saramago. Um dos principais charmes deste documentário é exatamente o de mostrar momentos caseiros como este. O filme também exibe mais do conhecido ateísmo do escritor português, famoso por suas declarações polêmicas contra a religião e a igreja. "Era de se imaginar", diz Saramago, "que alguém com 83 anos começasse a ficar preocupado com deus, mas isso não acontece comigo".
A agenda do escritor é brutal. Com Pilar à frente, Saramago enfrenta uma maratona interminável de entrevistas, noites de autógrafo, horas passadas em aeroportos e voando entre os continentes e fazendo declarações aos jornalistas que, segundo ele, perguntam sempre a mesma coisa. Há uma cena muito engraçada em que Saramago vira para a câmera, antes de entrar em uma feira de literatura, e diz que vai reciclar uma frase antiga que ele nem lembrava que tinha dito. Segundos depois nós o vemos usando a frase, como havia prometido.
A saúde do escritor finalmente cedeu no final de 2007 e ele passou semanas no hospital, à beira da morte. Saramago chegou a dizer à esposa que temia não terminar o livro que estava escrevendo, "A Viagem do Elefante", mas ele não só o terminou como, saúde restabelecida, voltou às viagens internacionais. A parte final do filme é bem brasileira, passada entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Há uma cena muito tocante (que já circulou pelo youtube) de Saramago se emocionando com uma sessão privada de "Blindness", versão de Fernando Meirelles para "Ensaio sobre a Cegueira". Meirelles ficou tão feliz com a aprovação do escritor que mal pode se conter, chegando a beijar Saramago.
Mas o que fica de todas essas imagens, autógrafos, vôos internacionais e feiras de literatura é o amor entre Pilar e José. Os dois oficializam o casamento pela segunda vez em uma cerimônia civil simples e tocante. “Se eu tivesse morrido antes de te conhecer, Pilar, teria morrido sentindo-me muito mais velho", Saramago diz em uma convenção. Em uma placa de rua que leva o nome da esposa, Saramago lhe fez esta dedicatória: "À Pilar que ainda não havia nascido e tanto tardou a chegar”.
José Saramago morreu em 18 de junho de 2010, aos 88 anos. (o filme está em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas). Imperdível.
Eu amei este filme. Incrível.
ResponderExcluirDevo admitir que o Saramago jogando paciência me deixou com a alma aliviada.