Paris, 1913. O compositor russo Igor Stravinsky (Mads Mikkelsen) estréia sua mais nova obra, "A Sagração da Primavera". O clima é de tensão antes mesmo da música começar. Os dançarinos estão ensaiando atrás da cortina. Os músicos estão confusos com a partitura. "Esqueça a melodia e siga o ritmo", diz o maestro ao primeiro violinista. "Isso não é Tchaikovsky, Strauss ou mesmo Wagner". Quando a música começa, consternação na platéia. O ritmo forte e as notas dissonantes soam como ruídos para os franceses do início do século XX, que vaiam aquela que viria a ser uma das obras mais conhecidas da música erudita.
No teatro estava Coco Chanel (Anna Mouglalis), a estilista mais famosa da história, feminista pioneira e independente. Ela é das poucas que gostou do que ouviu e fica intrigada com o compositor. Os dois são apresentados somente sete anos depois, em 1920. Stravinsky está exilado na França por causa da Revolução Russa de 1917, e mora em um quarto de hotel com a esposa Katarina (Elena Morozova) e vários filhos. Chanel, mais bem-sudedida do que nunca, está de luto pela morte do amante, o inglês Boy Capel, e oferece a Stravinsky sua casa no campo, onde ele poderia trabalhar em paz e se instalar com a família. O que mais ela estaria oferecendo? Dois artistas geniais e polêmicos, não demora muito para que a convivência na mesma casa acabe em um tórrido romance.
O filme do holandês Jan Kounen foi produzido e lançado praticamente ao mesmo tempo que outro sobre a estilista francesa, "Coco antes de Chanel", produzido com mais recursos e estrelado por Audrey Tautou. "Chanel & Stravinsky" é um filme menos interessado na biografia e mais profundo na relação entre os personagens. A Chanel de Anna Mouglalis é mais "mulher", mais senhora de si e menos atrapalhada que a personagem criada por Tautou. É verdade que as épocas são diferentes. É como se "Chanel & Stravinsky" fosse uma continuação mais séria de "Coco antes de Chanel", tendo a morte de Boy Capel como ponto de ligação.
O ator dinamarquês Mads Mikkelsen faz de Stravinsky um homem emocional, apaixonado por sua música e talvez um pouco inseguro com as mudanças que está criando. É bom pai e tem na esposa não só uma companheira de infância como sua principal crítica. É ela quem transcreve seus rabiscos para a partitura. A estilista Chanel se identifica com o processo criativo de Stravinsky e ela tem o modo seguro de quem sempre consegue o que quer. O processo de aproximação física entre os dois artistas é muito bem conduzido pelo diretor. A câmera está sempre em movimento, circulando os personagens e revelando humores e cenários. Observe a elegância do plano que mostra Stravinsky invadindo o quarto particular de Chanel, vazio, para explorá-lo. A própria cor do filme muda sutilmente, ficando mais quente, contrastando com os tons pretos e brancos característicos da moda de Chanel. Há várias cenas de sexo que sugerem uma paixão mais carnal do que própriamente amor. Enquanto isso, pelo resto da casa, vemos a tensão aumentando entre criados, esposa e filhos. A música do próprio Stravinsky é bem usada nos momentos de suspense.
O final revela, em algumas cenas intercaladas com o presente, o final aparentemente solitário dos dois artistas, cuja obra é influente até hoje. (filme visto como cortesia no Topázio Cinemas, Campinas).
2 comentários:
Achei muito interessante o filme, e, como sempre, ótimo o seu texto! Vou querer assistir esse filme, ja está na minha lista! Um grande beijo!
Curti a dica, se foi legal ver o "primeiro" filme ("Coco antes de Chanel"), esse parece prometer, o texto instigou.
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