Em uma cena de "Rambo II", de 1985, Sylvester Stallone está em um barco com uma agente vietnamita. Ela lhe pergunta o porque dele ter sido enviado para lá. Ele responde que ele é "expendable" (dispensável, desnecessário). Vinte e cinco anos depois, Stallone está de volta em um filme chamado "The Expendables" (chamado aqui de "Os Mercenários"), que é um curioso exemplo de filme anacrônico, espécie de homenagem aos filmes "macho" dos anos 1980. Stallone recentemente trouxe de volta os personagens que fizeram sua carreira, como Rocky e o próprio Rambo. Desta vez é como se ele tivesse resolvido fazer o filme "macho" por excelência, reunindo em uma só produção praticamente todos os atores de ação de hoje e de ontem. Só faltaram Jean-Claude Van Damme, Steven Seagal e Chuck Norris. Há mais testosterona (embora um tanto envelhecida) na tela de "Os Mercenários" do que em um Maracanã lotado.
Stallone também trouxe de volta um olhar xenófobo e etnocêntrico com relação a tudo que não é americano e não seja falado em inglês. No mundo preto e branco que vivíamos na Era Reagan de Rambo, não havia lugar para o meio termo. Bush Jr e o 11 de setembro recuperaram um pouco deste olhar.
"Os Mercenários" tem Sylvester Stallone como produtor, ator, roteirista e diretor, fazendo dele um dos casos mais estranhos de "cinema autoral" de todos os tempos. A seu lado temos astros da pancadaria como Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgreen, Steve Austin e Randy Couture, além de Mickey Rourke e Eric Roberts. E há uma cena que seria bem mais interessante se o trailer não a tivesse mostrado tanto, que junta na mesma tela Sylvester Stallone, Arnold Swarzenegger e Bruce Willis. Stallone e Swarzenegger eram "rivais" do cinema brucutu com seus Rambos, Comando, Conan, Rocky e Exterminador. Bruce Willis foi lançado ao estrelato com a série "Duro de Matar", também retomada recentemente.
Em meio a todo este "renascimento" oitentista fica difícil imaginar um roteiro que fosse de alguma forma original, e o que Stallone apresenta em "Os Mercenários" é rigorosamente clichê. Os mercenários do título são contratados por um homem misterioso (Bruce Willis) para derrubar (em outras palavras, matar) um ditador de uma ilha na América Central. O grupo de Stallone vai até a ilha e ele é recebido por uma bela mulher local, interpretada pela brasileira Giselle Itié. Tanto o ditador quando seus homens são patéticos, abusando da população local e servindo de capacho para um ex-agente da CIA interpretado por Eric Roberts.
E não há muito mais o que falar do roteiro. Há as perseguições, cenas de luta e tiroteio esperadas. Em alguns momentos se tenta explorar o carisma do elenco (sendo que Statham e Jet Li são os que se saem melhor). Mickey Rourke faz uma espécie de figura paterna, o homem sábio a quem Stallone recorre quando precisa filosofar sobre a vida. É na oficina de tatuagem de Rourke, aliás, que todos se reúnem para agir como "homens", falar alto, exibir os músculos e brincar com facas. Várias sequências foram filmadas no Brasil e, recentemente, Stallone cometeu uma gafe ao querer elogiar o país; muitos, sofrendo de complexo de vira-lata, ficaram ofendidos, prometendo boicotar o filme. A julgar pela sala lotada, isso foi esquecido.
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