Pode-se dizer que “sexo” foi a palavra-chave nos filmes exibidos ontem no Festival de Paulínia. Com exceção do documentário “Programa Casé”, tanto os curtas-metragens quanto o longa-metragem tinham tramas que envolviam, de alguma forma, o sexo.
“Depois do Almoço”, de Rodrigo Diaz Diaz, participou de um projeto chamado “Fucking Different”, um filme coletivo que tinha a proposta de fazer curtas lidando com o homossexualismo. Os diretores homens teriam que falar sobre a homossexualidade feminina, e as mulheres da masculina. O curta de Diaz mostra uma família brasileira aparentemente comum em um almoço de domingo. Os homens estão vendo futebol, as crianças brincando e as mulheres, Naná (Lulu Pavarin) e Andréa (Gilda Nomacce), compartilham um cigarro na varanda. A conversa começa a tomar rumos eróticos quando uma delas mostra para a outra uma revista com homens nus. Depois ela começa a contar um sonho erótico que teve com a outra, e a situação vai ficando cada vez mais “quente”. O bizarro da cena é que as duas mulheres não tem o visual esperado em um filme erótico desse tipo, lindas e saradas, mas sim mulheres comuns, de meia idade e acima do peso, dizendo frases típicas de um filme pornô. Produção mediana, com fotografia digital e interpretação exagerada (antes mesmo da cena de “sexo” entre as duas).
“Programa Casé”, de Estevão Ciavatta, conta a história de Ademar Casé, pernambucano que foi para o Rio de Janeiro na década de 1930 e, segundo o documentário, foi pioneiro em várias práticas do rádio moderno. Ademar era avô da atriz Regina Case, que estava presente em Paulínia, junto com vários outros membros da família. O diretor disse que o material sobre Ademar lhe foi passado pelo tio de Regina, que não sabia bem o que fazer com ele. Ciavatta descobriu que Casé havia contratado grandes nomes da música brasileira como Noel Rosa, Braguinha e Carmen Miranda, que cantavam regularmente em seu programa de rádio. Regina Casé disse que não conhecia a história do avô e que, vendo o documentário, descobriu o porquê dela mesma fazer televisão. Ela também disse que estava curiosa sobre como Ciavatta faria para transformar em imagens um material que era essencialmente sonoro.
O resultado é irregular. Grande parte da história é contata pelo próprio Ademar Casé, em uma gravação feita “para a posteridade” no Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro em 1972. O diretor ilustra as histórias contadas por Casé com imagens antigas de Belo Jardim, cidade natal de Ademar, de Recife e do Rio de Janeiro. Também foram usadas imagens de arquivo da família, mostrando como o imigrante nordestino que chegou ao Rio de Janeiro sem um tostão se tornou um dos maiores nomes do rádio e, depois, da televisão. Um dos melhores momentos do documentário é uma entrevista com o cantor Braguinha e sua esposa, muito idosos mas bastante lúcidos e engraçados. Segundo o documentário, Ademar Casé foi o responsável pelo primeiro “jingle”, o primeiro contrato exclusivo com um artista, a primeira radionovela e diversas outras inovações.
Em seguida foi exibido o curta com o nome sugestivo de “Quem vai comer minha mulher?”, de Rodrigo Bittencourt. O curta é falado em inglês e se passa todo em um balcão de bar. Turley (Bernardo Melo Barreto, também roteirista do filme) está com um problema. Ele traiu a mulher com a melhor amiga dela, e agora ela quer lhe dar o troco com uma proposta bizarra: Turley tem que escolher um de seus amigos para transar com ela. É ai que entra Cauã Reymond. O diretor disse que o filme foi feito em inglês porque o roteirista o escreveu quando estava estudando cinema em Nova York. A explicação é boa, mas creio que o motivo tenha sido mesmo tentar emular o cinema de Quentin Tarantino, do design dos créditos de abertura aos diálogos cheios de trocadilhos. Teria sido melhor se o curta tivesse sido feito com película de cinema, e não com vídeo digital, que lhe dá uma imagem mais “novelesca” do que de um filme de Tarantino.
“Malu de Bicicleta”, de Flávio Tambellini, fechou a noite. O longa-metragem foi escrito pelo escritor Marcelo Rubens Paiva, baseado no próprio livro. Paiva, presente ao evento assim como a equipe e elenco, disse que nunca se divertiu tanto em um set de filmagem quanto neste filme. Segundo ele, o roteiro era modificado continuamente pelos atores, e Tambellini é tão democrático que, por vezes, ele tinha vontade de “mandá-lo passear” e dirigir o filme ele mesmo. Sobre o elenco, Paiva disse ainda que eles não queriam estrelas “globais”, mas bons atores com quem eles convivem e tem experiência no teatro. O diretor, emocionado, dedicou a obra ao ator Marcos Cesano, que morreu há alguns meses.
O filme conta a história de Luis Mario (Marcelo Serrado), dono de uma boate em São Paulo e um tremendo mulherengo. Só que ele arruma tantas confusões com algumas mulheres que resolve passar umas férias no Rio de Janeiro, e é atropelado por uma jovem de bicicleta, Malu (Fernanda de Freitas), assim que chega à praia. É o que o cinema americano chama de “meet cute”, quando um casal se conhece em alguma situação inusitada, como trombando com as compras do supermercado. Malu é uma garota ideal, bonita, gostosa, boa de bola e que se apaixona rapidamente por Luis Mario. O problema é que ela também é muito popular e cheia de amigos homens que a abraçam e beijam em frente dele. Ela se muda para São Paulo com Luis, mas o monstro do ciúme e da desconfiança começam a assombrar a cabeça do rapaz. Por que ela vai tanto ao Rio de Janeiro? Por que ela não volta cedo do trabalho? Por que o celular dela toca sem parar?
Quem nunca fuçou na agenda ou celular da namorada ou namorado que atire a primeira pedra, mas Luis Mario vai ficando maluco aos poucos e pensa até em contratar um detetive para seguir a namorada. O filme começa devagar e, por um momento, passa a impressão que vai ser apenas mais uma série de clichês sobre homens e mulheres. Mas o roteiro inteligente de Marcelo Rubens Paiva e a honestidade do elenco fazem de “Malu de Bicicleta” uma boa “comédia romântica”, rótulo que foi descartado pelo próprio Paiva antes do início do filme. “Não sei que tipo de filme é este”, disse ele, “isso é cinema, as pessoas devem parar que querer dar rótulos".
“Depois do Almoço”, de Rodrigo Diaz Diaz, participou de um projeto chamado “Fucking Different”, um filme coletivo que tinha a proposta de fazer curtas lidando com o homossexualismo. Os diretores homens teriam que falar sobre a homossexualidade feminina, e as mulheres da masculina. O curta de Diaz mostra uma família brasileira aparentemente comum em um almoço de domingo. Os homens estão vendo futebol, as crianças brincando e as mulheres, Naná (Lulu Pavarin) e Andréa (Gilda Nomacce), compartilham um cigarro na varanda. A conversa começa a tomar rumos eróticos quando uma delas mostra para a outra uma revista com homens nus. Depois ela começa a contar um sonho erótico que teve com a outra, e a situação vai ficando cada vez mais “quente”. O bizarro da cena é que as duas mulheres não tem o visual esperado em um filme erótico desse tipo, lindas e saradas, mas sim mulheres comuns, de meia idade e acima do peso, dizendo frases típicas de um filme pornô. Produção mediana, com fotografia digital e interpretação exagerada (antes mesmo da cena de “sexo” entre as duas).
“Programa Casé”, de Estevão Ciavatta, conta a história de Ademar Casé, pernambucano que foi para o Rio de Janeiro na década de 1930 e, segundo o documentário, foi pioneiro em várias práticas do rádio moderno. Ademar era avô da atriz Regina Case, que estava presente em Paulínia, junto com vários outros membros da família. O diretor disse que o material sobre Ademar lhe foi passado pelo tio de Regina, que não sabia bem o que fazer com ele. Ciavatta descobriu que Casé havia contratado grandes nomes da música brasileira como Noel Rosa, Braguinha e Carmen Miranda, que cantavam regularmente em seu programa de rádio. Regina Casé disse que não conhecia a história do avô e que, vendo o documentário, descobriu o porquê dela mesma fazer televisão. Ela também disse que estava curiosa sobre como Ciavatta faria para transformar em imagens um material que era essencialmente sonoro.
O resultado é irregular. Grande parte da história é contata pelo próprio Ademar Casé, em uma gravação feita “para a posteridade” no Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro em 1972. O diretor ilustra as histórias contadas por Casé com imagens antigas de Belo Jardim, cidade natal de Ademar, de Recife e do Rio de Janeiro. Também foram usadas imagens de arquivo da família, mostrando como o imigrante nordestino que chegou ao Rio de Janeiro sem um tostão se tornou um dos maiores nomes do rádio e, depois, da televisão. Um dos melhores momentos do documentário é uma entrevista com o cantor Braguinha e sua esposa, muito idosos mas bastante lúcidos e engraçados. Segundo o documentário, Ademar Casé foi o responsável pelo primeiro “jingle”, o primeiro contrato exclusivo com um artista, a primeira radionovela e diversas outras inovações.
Em seguida foi exibido o curta com o nome sugestivo de “Quem vai comer minha mulher?”, de Rodrigo Bittencourt. O curta é falado em inglês e se passa todo em um balcão de bar. Turley (Bernardo Melo Barreto, também roteirista do filme) está com um problema. Ele traiu a mulher com a melhor amiga dela, e agora ela quer lhe dar o troco com uma proposta bizarra: Turley tem que escolher um de seus amigos para transar com ela. É ai que entra Cauã Reymond. O diretor disse que o filme foi feito em inglês porque o roteirista o escreveu quando estava estudando cinema em Nova York. A explicação é boa, mas creio que o motivo tenha sido mesmo tentar emular o cinema de Quentin Tarantino, do design dos créditos de abertura aos diálogos cheios de trocadilhos. Teria sido melhor se o curta tivesse sido feito com película de cinema, e não com vídeo digital, que lhe dá uma imagem mais “novelesca” do que de um filme de Tarantino.
“Malu de Bicicleta”, de Flávio Tambellini, fechou a noite. O longa-metragem foi escrito pelo escritor Marcelo Rubens Paiva, baseado no próprio livro. Paiva, presente ao evento assim como a equipe e elenco, disse que nunca se divertiu tanto em um set de filmagem quanto neste filme. Segundo ele, o roteiro era modificado continuamente pelos atores, e Tambellini é tão democrático que, por vezes, ele tinha vontade de “mandá-lo passear” e dirigir o filme ele mesmo. Sobre o elenco, Paiva disse ainda que eles não queriam estrelas “globais”, mas bons atores com quem eles convivem e tem experiência no teatro. O diretor, emocionado, dedicou a obra ao ator Marcos Cesano, que morreu há alguns meses.
O filme conta a história de Luis Mario (Marcelo Serrado), dono de uma boate em São Paulo e um tremendo mulherengo. Só que ele arruma tantas confusões com algumas mulheres que resolve passar umas férias no Rio de Janeiro, e é atropelado por uma jovem de bicicleta, Malu (Fernanda de Freitas), assim que chega à praia. É o que o cinema americano chama de “meet cute”, quando um casal se conhece em alguma situação inusitada, como trombando com as compras do supermercado. Malu é uma garota ideal, bonita, gostosa, boa de bola e que se apaixona rapidamente por Luis Mario. O problema é que ela também é muito popular e cheia de amigos homens que a abraçam e beijam em frente dele. Ela se muda para São Paulo com Luis, mas o monstro do ciúme e da desconfiança começam a assombrar a cabeça do rapaz. Por que ela vai tanto ao Rio de Janeiro? Por que ela não volta cedo do trabalho? Por que o celular dela toca sem parar?
Quem nunca fuçou na agenda ou celular da namorada ou namorado que atire a primeira pedra, mas Luis Mario vai ficando maluco aos poucos e pensa até em contratar um detetive para seguir a namorada. O filme começa devagar e, por um momento, passa a impressão que vai ser apenas mais uma série de clichês sobre homens e mulheres. Mas o roteiro inteligente de Marcelo Rubens Paiva e a honestidade do elenco fazem de “Malu de Bicicleta” uma boa “comédia romântica”, rótulo que foi descartado pelo próprio Paiva antes do início do filme. “Não sei que tipo de filme é este”, disse ele, “isso é cinema, as pessoas devem parar que querer dar rótulos".
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