Ontem foi outro dia de altos e baixos no Festival de Paulínia. A animação “Um Lugar Comum”, de Jonas Brandão, abriu a noite na categoria “curta regional”. O diretor de Sumaré fez o curta como projeto de conclusão de curso de Imagem e Som da Universidade de São Carlos, onde se formou. A animação é bonita e singela. Sem diálogos, mostra a passagem do tempo para alguns personagens que, sem querer, cruzam o caminho um do outro em um banco de praça. Os anos passando são representados pelo crescimento de uma árvore plantada no início por um garoto e uma garota. Vemos também como a pequena cidade no horizonte cresce e se modifica. O curta tem uma bela trilha sonora assinada por Duda Larson.
O documentário “Uma noite em 67” foi o ponto alto das exibições de ontem. Produção da Videofilmes, dos craques João Moreira Salles e seu irmão Walter Salles, o documentário mescla entrevistas atuais (gravadas em alta definição) com cenas da final do Festival de Música Brasileira da Record, de 1967. É o primeiro longa-metragem dos diretores Renato Terra e Ricardo Calil. Terra me contou que foi feito um grande trabalho de restauração das imagens, que começou com a escolha, na Record, das melhores fitas do arquivo da emissora. As imagens então passaram por um processo de correção frame a frame. O som também foi re-trabalhado e as músicas da época nunca soaram tão nítidas.
É muito interessante ver como era uma transmissão de televisão naquela época. Apresentadores como o grande Randal Juliano são vistos vestidos a caráter, com um microfone na mão e um cigarro na outra, entrevistando estrelas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Os Mutantes, Roberto Carlos e Marília Medalha, todos muito jovens, por volta dos 23 anos de idade. Estas entrevistas da época são intercaladas com entrevistas atuais com os artistas e a equipe de produção do festival. Paulinho Machado de Carvalho, por exemplo, revela que organizava os festivais da mesma forma que uma transmissão de luta livre. Ele escalava “papéis” aos músicos que, como em um drama, deveriam ser o “mocinho”, o “vilão”, a “mocinha”, e assim por diante. Chico Buarque, com seu smoking alugado e rosto bonito e comportado, tinha o papel do “mocinho”. O vilão do festival acabou sendo Sérgio Ricardo que, sob vaias quando tentava apresentar “Beto Bom de Bola”, acabou se enfurecendo, quebrando o violão e o atirando na platéia. Hoje ele diz que não se arrepende do que fez, e que um psicólogo diria que ele era como um animal acuado.
Roberto Carlos diz que as músicas que ele cantava nos festivais não eram escolhidas por ele, e que sua experiência como “crooner” em boate fez com que ele conseguisse cantar qualquer tipo de música. Ele ficou em 5º lugar com “Maria, Carnaval e Cinzas”.
O produtor musical Nelson Mota diz que a Record tinha um “monopólio dos musicais” no Brasil, com 90% dos músicos sob contrato. Ele conta também sobre uma passeata feita em 67 que era contra a guitarra elétrica, por representar o rock americano. Estavam presentes à passeata artistas como Elis Regina e Gilberto Gil. Caetano Veloso, em entrevista atual, diz que foi contra a passeata, que achava “fascista”, e que o uso da guitarra elétrica em sua famosa apresentação de “Alegria, Alegria”, no festival, foi uma decisão política. Gilberto Gil revelou que foi à passeata por causa de Elis Regina, e que não era contra a guitarra.
Ainda sobre Gilberto Gil, uma das revelações mais interessantes do documentário é dada por Paulinho Machado de Carvalho, que diz que Gil estava completamente bêbado e que não queria ir à final do festival. Carvalho teve que ir buscá-lo no hotel, lhe dar banho e trocá-lo para que ele fosse. Hoje, Gil revela que estava em pânico porque ele odiava ter que passar por uma “prova” e ser julgado diante dos outros.
“Uma noite em 67” é imperdível e nome certo para vencer o Festival de Paulínia na categoria documentário.
O curta nacional “1:21” interessa mais pelo modo como foi feito do que pelo filme em si. A diretora Adriana Câmara o produziu em seu apartamento, sem dinheiro e com a ajuda de amigos. Ele é todo captado em fotos estáticas, animadas na edição e acompanhadas apenas por efeitos sonoros. A idéia não é nova. O pernambucano Kleber Mendonça Filho produziu “Vinil Verde”, com a mesma técnica, em 2004.
Para finalizar a noite foi exibido o fraco “Dores e Amores”, de Ricardo Pinto e Silva. O diretor declarou que a idéia para o longa veio em um momento de solidão, quando estava trabalhando em Porto Alegre e decidiu fazer um filme sobre “sentimentos” e “amor”. Baseado no livro “Dores, Amores e Assemelhados”, de Cláudia Tajes e na peça “Intervalo”, de Dagomir Marquezi, o filme é uma série de clichês sobre os problemas de relacionamento de Julia (Kiara Sasso), uma executiva de uma agência de moda. Por longos 96 minutos, escutamos as reclamações de Julia sobre os homens. Atitudes e comportamentos que são aceitáveis nos adolescentes de “Derenrola”, apresentado na noite anterior, são apenas ridículos nos adultos de “Dores e Amores". Para piorar, o filme investe em uma edição “moderninha” cheia de efeitos de “picture in picture” e outras gracinhas digitais de alguém deslumbrado na ilha de edição. “Dores e Amores” é uma co-produção luso-brasileira, e estavam presentes ao festival a atriz portuguesa Sandra Cóias e o português Jorge Corrula.
O documentário “Uma noite em 67” foi o ponto alto das exibições de ontem. Produção da Videofilmes, dos craques João Moreira Salles e seu irmão Walter Salles, o documentário mescla entrevistas atuais (gravadas em alta definição) com cenas da final do Festival de Música Brasileira da Record, de 1967. É o primeiro longa-metragem dos diretores Renato Terra e Ricardo Calil. Terra me contou que foi feito um grande trabalho de restauração das imagens, que começou com a escolha, na Record, das melhores fitas do arquivo da emissora. As imagens então passaram por um processo de correção frame a frame. O som também foi re-trabalhado e as músicas da época nunca soaram tão nítidas.
É muito interessante ver como era uma transmissão de televisão naquela época. Apresentadores como o grande Randal Juliano são vistos vestidos a caráter, com um microfone na mão e um cigarro na outra, entrevistando estrelas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Os Mutantes, Roberto Carlos e Marília Medalha, todos muito jovens, por volta dos 23 anos de idade. Estas entrevistas da época são intercaladas com entrevistas atuais com os artistas e a equipe de produção do festival. Paulinho Machado de Carvalho, por exemplo, revela que organizava os festivais da mesma forma que uma transmissão de luta livre. Ele escalava “papéis” aos músicos que, como em um drama, deveriam ser o “mocinho”, o “vilão”, a “mocinha”, e assim por diante. Chico Buarque, com seu smoking alugado e rosto bonito e comportado, tinha o papel do “mocinho”. O vilão do festival acabou sendo Sérgio Ricardo que, sob vaias quando tentava apresentar “Beto Bom de Bola”, acabou se enfurecendo, quebrando o violão e o atirando na platéia. Hoje ele diz que não se arrepende do que fez, e que um psicólogo diria que ele era como um animal acuado.
Roberto Carlos diz que as músicas que ele cantava nos festivais não eram escolhidas por ele, e que sua experiência como “crooner” em boate fez com que ele conseguisse cantar qualquer tipo de música. Ele ficou em 5º lugar com “Maria, Carnaval e Cinzas”.
O produtor musical Nelson Mota diz que a Record tinha um “monopólio dos musicais” no Brasil, com 90% dos músicos sob contrato. Ele conta também sobre uma passeata feita em 67 que era contra a guitarra elétrica, por representar o rock americano. Estavam presentes à passeata artistas como Elis Regina e Gilberto Gil. Caetano Veloso, em entrevista atual, diz que foi contra a passeata, que achava “fascista”, e que o uso da guitarra elétrica em sua famosa apresentação de “Alegria, Alegria”, no festival, foi uma decisão política. Gilberto Gil revelou que foi à passeata por causa de Elis Regina, e que não era contra a guitarra.
Ainda sobre Gilberto Gil, uma das revelações mais interessantes do documentário é dada por Paulinho Machado de Carvalho, que diz que Gil estava completamente bêbado e que não queria ir à final do festival. Carvalho teve que ir buscá-lo no hotel, lhe dar banho e trocá-lo para que ele fosse. Hoje, Gil revela que estava em pânico porque ele odiava ter que passar por uma “prova” e ser julgado diante dos outros.
“Uma noite em 67” é imperdível e nome certo para vencer o Festival de Paulínia na categoria documentário.
O curta nacional “1:21” interessa mais pelo modo como foi feito do que pelo filme em si. A diretora Adriana Câmara o produziu em seu apartamento, sem dinheiro e com a ajuda de amigos. Ele é todo captado em fotos estáticas, animadas na edição e acompanhadas apenas por efeitos sonoros. A idéia não é nova. O pernambucano Kleber Mendonça Filho produziu “Vinil Verde”, com a mesma técnica, em 2004.
Para finalizar a noite foi exibido o fraco “Dores e Amores”, de Ricardo Pinto e Silva. O diretor declarou que a idéia para o longa veio em um momento de solidão, quando estava trabalhando em Porto Alegre e decidiu fazer um filme sobre “sentimentos” e “amor”. Baseado no livro “Dores, Amores e Assemelhados”, de Cláudia Tajes e na peça “Intervalo”, de Dagomir Marquezi, o filme é uma série de clichês sobre os problemas de relacionamento de Julia (Kiara Sasso), uma executiva de uma agência de moda. Por longos 96 minutos, escutamos as reclamações de Julia sobre os homens. Atitudes e comportamentos que são aceitáveis nos adolescentes de “Derenrola”, apresentado na noite anterior, são apenas ridículos nos adultos de “Dores e Amores". Para piorar, o filme investe em uma edição “moderninha” cheia de efeitos de “picture in picture” e outras gracinhas digitais de alguém deslumbrado na ilha de edição. “Dores e Amores” é uma co-produção luso-brasileira, e estavam presentes ao festival a atriz portuguesa Sandra Cóias e o português Jorge Corrula.
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