Câmera Escura
sábado, 31 de julho de 2010
Meu Malvado Favorito
Câmera Escura
Salt
quarta-feira, 28 de julho de 2010
400 contra 1 - Uma História do Crime Organizado
O tema já foi tratado, de forma muito melhor, pela cineasta Lúcia Murat em “Quase Dois Irmãos”, de 2004, com Caco Ciocler e Flávio Bauraqui. “400 contra 1” até começa bem, em 1980, mostrando um assalto a banco praticado pelo grupo de William (Daniel de Oliveira). A trilha sonora da época acompanha uma câmera nervosa e boa edição, prometendo um filme vibrante. Mas então começam os problemas. Em vinhetas exageradas e repetitivas, o filme dá saltos constantes no tempo, alternando datas nos anos 70, quando William foi preso na Ilha Grande, com outros momentos que mostram fugas de presos, reuniões do grupo fora do presídio e cenas de William com a amante interpretada por Daniela Escobar. Estes saltos no tempo são confusos e fora de ordem cronológica. Cenas dentro do presídio são intercaladas com outras fora, em épocas diferentes, e não fica claro exatamente qual a ligação entre elas. O filme não precisaria ter sido feito em ordem cronológica, mas estes pulos temporais não têm função alguma além de tentar dar ao filme um estilo moderno, não linear.
Para complicar, o ritmo é atrapalhado por uma narração teatral e panfletária de Daniel Oliveira, como William, que é redundante e desnecessária. Há também a personagem de uma jovem advogada (Branca Messina) que vai à Ilha Grande entrevistar os presos e supostamente revelar abusos de autoridade praticados pela direção do presídio, mas é também uma personagem perdida. O filme lembra, em alguns momentos, o alemão “O Grupo Baader Meinhof”, que também mostrava uma organização criminosa que agia, inicialmente, com fins políticos.
Por fim, falta ao filme explicar qual a importância de transformar a vida de William em filme. É o retrato de um revolucionário? É a celebração de um bandido? Em que a criação do Comando Vermelho mudou a história do Rio de Janeiro? Nenhuma destas questões é respondida satisfatoriamente e o que sobra é um filme com estilo truncado, muita violência e pouco conteúdo.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Predadores
Como estamos em época de remakes e reboots de séries e franquias, o alienígena caçador volta aos cinemas agora sob a produção de Robert Rodriguez, que chegou a escrever um roteiro para um “Predador 3” ainda nos anos 90, e a direção de Ninrod Antal. A maior surpresa deste novo capítulo é o elenco. No lugar do halterofilista austríaco está Adrien Brody, ator oscarizado por sua interpretação em “O Pianista” e, provavelmente, a última pessoa em quem se pensaria para este papel.
Brody já flertou com blockbusters antes, fazendo o dramaturgo no King Kong (2005) de Peter Jackson, mas naquele filme ele era literalmente um peixe fora d´água. Em “Predadores” (agora no plural) ele é um mercenário chamado Royce, que começa o filme em queda livre, aterrissando com um estrondo em uma selva desconhecida. Ele não está sozinho. Também caem do céu o soldado russo Nikolai (Oleg Taktarov), uma militar israelense (a brasileira Alice Braga), um traficante mexicano (Danny Trejo), um médico (Topher Grace, aos 32 anos, ainda com cara de adolescente), um japonês da máfia yakuza (Louis Ozawa), um guerrilheiro africano (cujo nome real é Mahershalalhashbaz Ali) e um preso condenado à morte (Walton Goggins). São todos personagens clichês em uma situação inusitada. O que eles estão fazendo ali? Quem os jogou ali? E, o mais importante, onde é “ali”? A bússola não aponta para o norte e, o mais estranho, o Sol não se move (fato que é “esquecido” na parte final do filme, em que anoitece sem nenhuma explicação). As interpretações são acima da média para um filme do gênero e, ao menos na primeira metade, o roteiro é intrigante o suficiente para manter a atenção. O grupo é atacado por uma espécie de cachorro alienígena com longos chifres e eles chegam à conclusão de que estão sendo caçados por “alguma coisa”.
O filme se perde justamente no momento mais promissor. Eles encontram outro “náufrago” deixado naquele planeta, interpretado pelo grande Laurence Fishburne. Ele sobreviveu a dez “temporadas de caça” e mora em uma espécie de “máquina” alienígena, onde se esconde e conversa com um companheiro imaginário. Fishburne é bom ator e seu personagem causa a impressão que teremos um roteiro inteligente dali para frente. Infelizmente, a sensação dura pouco. Logo o filme apela para os clichês do gênero, como perseguições em corredores escuros e mortes violentas. Há até uma cena que de tão absurda chega a ser engraçada. Um dos Predadores, que poderia destruir um ser humano facilmente com um tiro de laser, enfrenta o japonês da yakuza em uma luta de espadas samurai. Adrien Brody assume seu lado personagem de ação “marombado” e exibe um corpo musculoso, com barriga tanquinho, enquanto entra na “porrada” com outro Predador.
Como blockbuster de ação, “Predadores” até diverte e se desenrola como o esperado de um filme do gênero. Há muitas explosões, tiros, sangue vermelho (humano) e verde (alien) e até um final aberto para uma continuação. Quem sabe? No próximo talvez chamem Sir Anthony Hopkins para um papel. Hannibal versus Predador? Sucesso garantido.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
O Pequeno Nicolau
domingo, 25 de julho de 2010
Mademoiselle Chambon
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Premiação: III Festival Paulínia de Cinema
Filmes de longa-metragem
Melhor Filme ficção: R$ 150 mil - 5xfavela – Agora por nós mesmos, de Manaira Carneiro, Wagner Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos, Luciana Bezerra
Melhor Documentário: R$ 50 mil – Leite e Ferro, de Claudia Priscilla
Melhor Diretor ficção: R$ 35 mil – Flavio Tambellini, por Malu de Bicicleta
Melhor Diretor Documentário: R$ 35 mil – Claudia Priscilla, por Leite e Ferro
Melhor Ator: R$ 30 mil – Marcelo Serrado, por Malu de Bicicleta
Melhor Atriz: R$ 30 mil – Fernanda de Freitas, por Malu de Bicicleta
Melhor Ator coadjuvante: R$ 15 mil – Marcio Vitto, por 5xFavela – Agora por nós mesmos , episódio Acende a Luz
Melhor Atriz coadjuvante: R$ 15 mil – Dila Guerra, por 5xFavela – Agora por nós mesmos , episódio Acende a Luz
Melhor Roteiro: R$ 15 mil – Rafael Dragaud, por 5xFavela – Agora por nós mesmos
Melhor Fotografia: R$ 15 mil – Gustavo Hadba, por Bróder
Melhor Montagem: R$ 15 mil – Quito Ribeiro, por 5xFavela – Agora por nós mesmos
Melhor Som: R$ 15 mil – Miriam Biderman e Ricardo Reis, por Bróder
Melhor Direção de arte: R$ 15 mil – Alessandra Maestro, por Bróder
Melhor Trilha Sonora: R$ 15 mil – Guto Graça Melo, por 5xFavela – Agora por nós mesmos
Melhor Figurino: R$ 15 mil – Marcia Tacsir, por Desenrola
Especial Júri: R$ 35 mil - Lixo Extraordinário, de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley
Filme de curta-metragem - Nacional
Melhor filme: R$ 25 mil – Eu Não Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro
Melhor Direção: R$ 15 mil – Cesar Cabral, por Tempestade
Melhor Roteiro: R$ 10 mil – Daniel Ribeiro, por Eu não quero voltar Sozinho
Filme de curta-metragem - Regional
Melhor filme: R$ 25 mil – Depois do Almoço, de Rodrigo Diaz Diaz
Melhor Direção: R$ 15 mil – Jonas Brandão, por Um Lugar Comum
Melhor Roteiro: R$ 10 mil – Elzemann Neves, por Depois do Almoço
Júri Popular
Melhor longa ficção: R$ 25 mil - 5xfavela – Agora por nós mesmos, de de Manaira Carneiro, Wagner Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos, Luciana Bezerra
Melhor documentário: R$ 15 mil – Lixo Extraordinário, de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley
Melhor curta metragem nacional: R$ 5 mil – Eu Não Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro
Melhor curta-metragem regional: R$ 5 mil - Meu avô e eu, de Cauê Nunes
Prêmio da Crítica
Melhor curta-metragem: Eu Não Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro
Melhor longa-metragem: Bróder, de Jefferson De
fonte: http://www.culturapaulinia.com.br/
quinta-feira, 22 de julho de 2010
7º Dia: III Festival Paulínia de Cinema
A animação de bonecos “Dona Tota e o Menino Mágico”, de Adriana Meirelles, tem visual bem colorido e animação básica. A diretora fez mestrado em animação na University of West of England, e disse que o curta foi animado “à distância” por diversas pessoas, em várias partes do mundo. O resultado é um trabalho irregular, com animação simples e diálogos difíceis de se entender.
“Lixo Extraordinário” comoveu o público com sua inspirada mistura de histórias de vida, biografia de um artista e projeto ecológico. O documentário, dirigido a seis mãos por João Jardim (Janela da Alma), Karen Harley e Lucy Walker, é uma co-produção entre a produtora brasileira O2 Filmes (de Fernando Meirelles) e da britânica Almega Projects. O artista plástico brasileiro mais bem sucedido no momento, o paulista Vik Muniz, resolveu fazer um projeto no aterro sanitário Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, o maior da América Latina, fotografando alguns personagens e criando suas famosas obras de arte feitas com material reciclado. Vik é visto em Nova York, onde mora e tem um estúdio, mostrando o lugar onde ele mesmo, anos atrás, trabalhou limpando o lixo. Em seguida, o contraste: hoje suas obras estão expostas no MOMA, o museu de arte moderna de Nova York.
Vik e o sócio Fábio vão para o Brasil e é interessante como eles, ao chegar ao aterro de Gramacho, parecem estrangeiros no próprio país. Gramacho é um mundo à parte, com um fluxo constante de caminhões despejando lixo, urubus voando e, em meio à montanha de dejetos, seres humanos, os catadores de lixo. Dentre as centenas de trabalhadores, Muniz escolhe alguns personagens. Tião e Zumbi são da Associação dos Catadores de Lixo, e Zumbi sonha em montar uma biblioteca comunitária com os livros encontrados diariamente no aterro. Tião fala com desenvoltura sobre o “Príncipe”, de Maquiavel, que leu depois de deixar o livro molhado secando atrás da geladeira do barraco onde mora. Ísis está no aterro há cinco anos e acha o trabalho “péssimo”, mas é melhor do que “rodar bolsinha” na praia. Com lágrimas nos olhos, ela fala sobre a morte do filho de três anos, vítima de pneumonia. Suelen tem 18 anos e trabalha desde os sete. Já tem dois filhos pequenos que vê uma vez a cada 15 dias, porque mora em um barraco alugado no próprio lixão. Até o final do documentário, ela engravida novamente e tem o terceiro filho. Irmã trabalha no aterro e é cozinheira para os companheiros. É chocante a cena em que a vemos cozinhando em pleno lixão, cercada por dejetos por todos os lados.
Vik Muniz tira fotos destes personagens e os leva para um grande galpão, onde os próprios fotografados e colegas montam suas imagens em gigantescas obras de arte que, vistas de cima, se revelam. Muniz disse ao público presente ao festival, antes da exibição do filme, que o documentário era sobre “reciclagem humana” e sobre o poder transformador da arte. É emocionante a seqüência em que Muniz leva Tião a uma casa de leilão em Londres para vender sua própria foto. O dinheiro arrecadado por todas as obras foi revertido depois para a própria comunidade, mudando a vida dos catadores de lixo.
“Lixo Extraordinário” tem excelente direção de fotografia e trilha sonora de Moby, especialmente eficiente nas cenas que mostram as toneladas de lixo sendo despejadas no aterro, atacadas imediatamente pelos catadores. Causa certa estranheza, apenas, o fato de que Vik e seu sócio, dois brasileiros, conversem entre si em inglês quase o tempo todo. Isso foi feito para as platéias internacionais, claro, mas soa um pouco irreal. É também levantada a questão de como esse projeto iria afetar os próprios catadores. Muniz é enfático; se o projeto causar uma mudança de atitude nos envolvidos, querendo uma vida melhor, melhor para eles. Tião e Zumbi estavam presentes em Paulínia, e o discurso de Tião foi igualmente emocionante. Ele disse que eles não são catadores de lixo, mas de material reciclável. “Lixo é o que ninguém quer”, diz ele, enquanto que material reciclável tem valor. O documentário foi aplaudido em pé durante todos os créditos finais, e os aplausos continuaram quando as luzes do teatro foram acesas. É o novo favorito do Festival de Paulínia.
“Ensolarado”, de Ricardo Targino, também chamou a atenção pelo discurso do diretor antes da sessão. Ele disse que fez o filme “à moda antiga”, em película de 35 mm e editado mecanicamente, na moviola. Targino disse que “nosso cinema tem um compromisso estético, político, afetivo e familiar com este grande Brasil”. Disse também que era uma alegria apresentar à pequena Ariane, a atriz mirim do curta, o cinema pela primeira vez. Ele chamou o filme de “uma pequena sementinha que estamos plantando neste país ensolarado”. O curta realmente é bastante bonito, com fotografia que mostra a força do Sol no sertão de Minas Gerais e enquadramentos primorosos. Depois de várias exibições de curtas digitais nos últimos dias foi bom ver a boa e velha película cinematográfica na tela.
Um segundo curta na categoria “Curta Nacional” foi exibido ontem, “Retrovisor”, de Eliane Coster. Também em 35 mm, o filme mostra a vida de um garoto (Douglas Valdez) que limpa pára-brisas no semáforo, em São Paulo. Um dia um fotógrafo deixa cair um rolo de filme na rua e o garoto o pega. Ele fica imaginando o que haveria dentro daquele rolo. O curta resgata algo de “mágico” que a fotografia digital nos tirou: a expectativa de fotografar sem poder ver na hora o resultado. Claro que as câmeras fotográficas digitais são muito mais práticas, mas havia algo de mágico em usar o filme tradicional e esperar a “revelação” (palavra com vários significados) das fotos.
O último longa-metragem de ficção exibido no festival foi “Bróder”, de Jeferson De. O filme foi feito no Capão Redondo, na periferia de São Paulo, e acompanha um dia na vida de três amigos, Macu (Caio Blat), Jaime (Jonathan Haagensen) e Pibe (Sílvio Guindane). Jaime é um badalado jogador de futebol que estava jogando na Espanha, mas está contundido, sendo dúvida para a escalação da seleção brasileira. Ele está em São Paulo para uma avaliação médica e para tentar se acertar com Elaine (Cíntia Rosa), que está grávida dele. Pibe é formado em Direito e se mudou da periferia para o centro da cidade. Ele se casou e tem um filho pequeno, mas a vida não está nada boa para o casal. Macu, branco, está fazendo aniversário e sua mãe (Cássia Kiss), lhe prepara uma festa surpresa. Ele está devendo dinheiro para um traficante barra pesada e precisa fazer um trabalho para quitar sua dívida. Os três amigos se reencontram no Capão Redondo em uma cena insólita, em que o carrão do jogador Jaime contrasta com a pobreza do lugar e com o fato de haver um corpo jogado na calçada, com a família aos prantos.
Jeferson De brinca com a questão do que é ser negro ou branco em uma periferia. Quando o filme começa, por exemplo, vemos uma silhueta falando ao celular, usando de muitas gírias, e imaginamos na hora ser um personagem negro. Quando a cortina deixa a luz entrar, vemos que é Caio Blat. Cássia Kiss, branca, interpreta uma mulher evangélica que freqüenta uma igreja cujo pastor e João Acaiabe, negro, e é casada com Aílton Graça, outro ator negro. Como se vê, a pobreza não tem cor. Mas há uma cena que mostra o preconceito ainda existente na sociedade. Quando Macu, Jaime e Pibe estão “dando um rolê” pela cidade no carrão de Jaime, a polícia os para e começa a prender os dois negros, achando que estavam seqüestrando o branco.
A trilha sonora tem sucessos de Mano Brown e Jorge Ben Jor, entre outros, e o filme soa bastante autêntico. A produção contou com o apoio de ONGs do Capão Redondo que garantiram que quase todo o filme fosse rodado no próprio bairro. Os atores estão muito bem e Caio Blat, em especial, surpreende. Interessante também a coincidência da história de Jaime, jogador de futebol que engravidou uma moça de periferia, e as notícias do goleiro Bruno e a antiga amante. Belo filme, que muda um pouco o cenário das tradicionais favelas do Rio de Janeiro para a periferia de São Paulo, igualmente perigosa e cheia de histórias para contar.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
6º Dia: III Festival Paulínia de Cinema
“Depois do Almoço”, de Rodrigo Diaz Diaz, participou de um projeto chamado “Fucking Different”, um filme coletivo que tinha a proposta de fazer curtas lidando com o homossexualismo. Os diretores homens teriam que falar sobre a homossexualidade feminina, e as mulheres da masculina. O curta de Diaz mostra uma família brasileira aparentemente comum em um almoço de domingo. Os homens estão vendo futebol, as crianças brincando e as mulheres, Naná (Lulu Pavarin) e Andréa (Gilda Nomacce), compartilham um cigarro na varanda. A conversa começa a tomar rumos eróticos quando uma delas mostra para a outra uma revista com homens nus. Depois ela começa a contar um sonho erótico que teve com a outra, e a situação vai ficando cada vez mais “quente”. O bizarro da cena é que as duas mulheres não tem o visual esperado em um filme erótico desse tipo, lindas e saradas, mas sim mulheres comuns, de meia idade e acima do peso, dizendo frases típicas de um filme pornô. Produção mediana, com fotografia digital e interpretação exagerada (antes mesmo da cena de “sexo” entre as duas).
“Programa Casé”, de Estevão Ciavatta, conta a história de Ademar Casé, pernambucano que foi para o Rio de Janeiro na década de 1930 e, segundo o documentário, foi pioneiro em várias práticas do rádio moderno. Ademar era avô da atriz Regina Case, que estava presente em Paulínia, junto com vários outros membros da família. O diretor disse que o material sobre Ademar lhe foi passado pelo tio de Regina, que não sabia bem o que fazer com ele. Ciavatta descobriu que Casé havia contratado grandes nomes da música brasileira como Noel Rosa, Braguinha e Carmen Miranda, que cantavam regularmente em seu programa de rádio. Regina Casé disse que não conhecia a história do avô e que, vendo o documentário, descobriu o porquê dela mesma fazer televisão. Ela também disse que estava curiosa sobre como Ciavatta faria para transformar em imagens um material que era essencialmente sonoro.
O resultado é irregular. Grande parte da história é contata pelo próprio Ademar Casé, em uma gravação feita “para a posteridade” no Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro em 1972. O diretor ilustra as histórias contadas por Casé com imagens antigas de Belo Jardim, cidade natal de Ademar, de Recife e do Rio de Janeiro. Também foram usadas imagens de arquivo da família, mostrando como o imigrante nordestino que chegou ao Rio de Janeiro sem um tostão se tornou um dos maiores nomes do rádio e, depois, da televisão. Um dos melhores momentos do documentário é uma entrevista com o cantor Braguinha e sua esposa, muito idosos mas bastante lúcidos e engraçados. Segundo o documentário, Ademar Casé foi o responsável pelo primeiro “jingle”, o primeiro contrato exclusivo com um artista, a primeira radionovela e diversas outras inovações.
Em seguida foi exibido o curta com o nome sugestivo de “Quem vai comer minha mulher?”, de Rodrigo Bittencourt. O curta é falado em inglês e se passa todo em um balcão de bar. Turley (Bernardo Melo Barreto, também roteirista do filme) está com um problema. Ele traiu a mulher com a melhor amiga dela, e agora ela quer lhe dar o troco com uma proposta bizarra: Turley tem que escolher um de seus amigos para transar com ela. É ai que entra Cauã Reymond. O diretor disse que o filme foi feito em inglês porque o roteirista o escreveu quando estava estudando cinema em Nova York. A explicação é boa, mas creio que o motivo tenha sido mesmo tentar emular o cinema de Quentin Tarantino, do design dos créditos de abertura aos diálogos cheios de trocadilhos. Teria sido melhor se o curta tivesse sido feito com película de cinema, e não com vídeo digital, que lhe dá uma imagem mais “novelesca” do que de um filme de Tarantino.
“Malu de Bicicleta”, de Flávio Tambellini, fechou a noite. O longa-metragem foi escrito pelo escritor Marcelo Rubens Paiva, baseado no próprio livro. Paiva, presente ao evento assim como a equipe e elenco, disse que nunca se divertiu tanto em um set de filmagem quanto neste filme. Segundo ele, o roteiro era modificado continuamente pelos atores, e Tambellini é tão democrático que, por vezes, ele tinha vontade de “mandá-lo passear” e dirigir o filme ele mesmo. Sobre o elenco, Paiva disse ainda que eles não queriam estrelas “globais”, mas bons atores com quem eles convivem e tem experiência no teatro. O diretor, emocionado, dedicou a obra ao ator Marcos Cesano, que morreu há alguns meses.
O filme conta a história de Luis Mario (Marcelo Serrado), dono de uma boate em São Paulo e um tremendo mulherengo. Só que ele arruma tantas confusões com algumas mulheres que resolve passar umas férias no Rio de Janeiro, e é atropelado por uma jovem de bicicleta, Malu (Fernanda de Freitas), assim que chega à praia. É o que o cinema americano chama de “meet cute”, quando um casal se conhece em alguma situação inusitada, como trombando com as compras do supermercado. Malu é uma garota ideal, bonita, gostosa, boa de bola e que se apaixona rapidamente por Luis Mario. O problema é que ela também é muito popular e cheia de amigos homens que a abraçam e beijam em frente dele. Ela se muda para São Paulo com Luis, mas o monstro do ciúme e da desconfiança começam a assombrar a cabeça do rapaz. Por que ela vai tanto ao Rio de Janeiro? Por que ela não volta cedo do trabalho? Por que o celular dela toca sem parar?
Quem nunca fuçou na agenda ou celular da namorada ou namorado que atire a primeira pedra, mas Luis Mario vai ficando maluco aos poucos e pensa até em contratar um detetive para seguir a namorada. O filme começa devagar e, por um momento, passa a impressão que vai ser apenas mais uma série de clichês sobre homens e mulheres. Mas o roteiro inteligente de Marcelo Rubens Paiva e a honestidade do elenco fazem de “Malu de Bicicleta” uma boa “comédia romântica”, rótulo que foi descartado pelo próprio Paiva antes do início do filme. “Não sei que tipo de filme é este”, disse ele, “isso é cinema, as pessoas devem parar que querer dar rótulos".
terça-feira, 20 de julho de 2010
5º Dia: III Festival Paulínia de Cinema
O documentário “Uma noite em 67” foi o ponto alto das exibições de ontem. Produção da Videofilmes, dos craques João Moreira Salles e seu irmão Walter Salles, o documentário mescla entrevistas atuais (gravadas em alta definição) com cenas da final do Festival de Música Brasileira da Record, de 1967. É o primeiro longa-metragem dos diretores Renato Terra e Ricardo Calil. Terra me contou que foi feito um grande trabalho de restauração das imagens, que começou com a escolha, na Record, das melhores fitas do arquivo da emissora. As imagens então passaram por um processo de correção frame a frame. O som também foi re-trabalhado e as músicas da época nunca soaram tão nítidas.
É muito interessante ver como era uma transmissão de televisão naquela época. Apresentadores como o grande Randal Juliano são vistos vestidos a caráter, com um microfone na mão e um cigarro na outra, entrevistando estrelas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Os Mutantes, Roberto Carlos e Marília Medalha, todos muito jovens, por volta dos 23 anos de idade. Estas entrevistas da época são intercaladas com entrevistas atuais com os artistas e a equipe de produção do festival. Paulinho Machado de Carvalho, por exemplo, revela que organizava os festivais da mesma forma que uma transmissão de luta livre. Ele escalava “papéis” aos músicos que, como em um drama, deveriam ser o “mocinho”, o “vilão”, a “mocinha”, e assim por diante. Chico Buarque, com seu smoking alugado e rosto bonito e comportado, tinha o papel do “mocinho”. O vilão do festival acabou sendo Sérgio Ricardo que, sob vaias quando tentava apresentar “Beto Bom de Bola”, acabou se enfurecendo, quebrando o violão e o atirando na platéia. Hoje ele diz que não se arrepende do que fez, e que um psicólogo diria que ele era como um animal acuado.
Roberto Carlos diz que as músicas que ele cantava nos festivais não eram escolhidas por ele, e que sua experiência como “crooner” em boate fez com que ele conseguisse cantar qualquer tipo de música. Ele ficou em 5º lugar com “Maria, Carnaval e Cinzas”.
O produtor musical Nelson Mota diz que a Record tinha um “monopólio dos musicais” no Brasil, com 90% dos músicos sob contrato. Ele conta também sobre uma passeata feita em 67 que era contra a guitarra elétrica, por representar o rock americano. Estavam presentes à passeata artistas como Elis Regina e Gilberto Gil. Caetano Veloso, em entrevista atual, diz que foi contra a passeata, que achava “fascista”, e que o uso da guitarra elétrica em sua famosa apresentação de “Alegria, Alegria”, no festival, foi uma decisão política. Gilberto Gil revelou que foi à passeata por causa de Elis Regina, e que não era contra a guitarra.
Ainda sobre Gilberto Gil, uma das revelações mais interessantes do documentário é dada por Paulinho Machado de Carvalho, que diz que Gil estava completamente bêbado e que não queria ir à final do festival. Carvalho teve que ir buscá-lo no hotel, lhe dar banho e trocá-lo para que ele fosse. Hoje, Gil revela que estava em pânico porque ele odiava ter que passar por uma “prova” e ser julgado diante dos outros.
“Uma noite em 67” é imperdível e nome certo para vencer o Festival de Paulínia na categoria documentário.
O curta nacional “1:21” interessa mais pelo modo como foi feito do que pelo filme em si. A diretora Adriana Câmara o produziu em seu apartamento, sem dinheiro e com a ajuda de amigos. Ele é todo captado em fotos estáticas, animadas na edição e acompanhadas apenas por efeitos sonoros. A idéia não é nova. O pernambucano Kleber Mendonça Filho produziu “Vinil Verde”, com a mesma técnica, em 2004.
Para finalizar a noite foi exibido o fraco “Dores e Amores”, de Ricardo Pinto e Silva. O diretor declarou que a idéia para o longa veio em um momento de solidão, quando estava trabalhando em Porto Alegre e decidiu fazer um filme sobre “sentimentos” e “amor”. Baseado no livro “Dores, Amores e Assemelhados”, de Cláudia Tajes e na peça “Intervalo”, de Dagomir Marquezi, o filme é uma série de clichês sobre os problemas de relacionamento de Julia (Kiara Sasso), uma executiva de uma agência de moda. Por longos 96 minutos, escutamos as reclamações de Julia sobre os homens. Atitudes e comportamentos que são aceitáveis nos adolescentes de “Derenrola”, apresentado na noite anterior, são apenas ridículos nos adultos de “Dores e Amores". Para piorar, o filme investe em uma edição “moderninha” cheia de efeitos de “picture in picture” e outras gracinhas digitais de alguém deslumbrado na ilha de edição. “Dores e Amores” é uma co-produção luso-brasileira, e estavam presentes ao festival a atriz portuguesa Sandra Cóias e o português Jorge Corrula.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
4º Dia: III Festival Paulínia de Cinema
domingo, 18 de julho de 2010
3º Dia: III Festival Paulínia de Cinema
"Nicolau e as árvores" foi dirigido por Lucas Hungria, que ganhou edital do II Festival de Cinema e Meio Ambiente de Guararema. A trama é simples e mostra o amor (ou obsessão) de um garoto pelas árvores. O filme é bem simples e tecnicamente pobre. Gravado em Guararema, em uma região verde e arborizada, o roteiro faria mais sentido, talvez, se Nicolau vivesse em uma "selva de pedra" como São Paulo.
"São Paulo Companhia de Dança" é um belo documentário dirigido por Evaldo Mocarzel. Vários bailarinos e bailarinas da companhia estavam presentes ao festival e subiram ao palco com o diretor e o editor do filme. Mocarzel disse que o documentário não tem entrevistas porque o cinema e a dança podem prescindir das palavras. Disse também que gosta muito de dança e que o filme é uma "celebração ao corpo, que é o instrumento de trabalho e a própria obra".
De fato, o corpo dos dançarinos é o foco do documentário. Usando câmeras digitais presas aos próprios bailarinos, os diretores de fotografia Alziro Barbosa, Fabiano Pierri e Milton Jesus colocam o espectador na dança. Acompanhamos os exaustivos ensaios dos dançarinos enquanto treinam a coreografia de um novo espetáculo. Músculos, pernas, troncos e principalmente mãos e pés são focalizados em detalhes. Estes últimos, envoltos em sapatilhas, apresentam as marcas do ofício, como bolhas dolorosas. O diretor chamou o trabalho dos dançarinos de "sacerdócio", mas as imagens dos ensaios lembram também a disciplina rígida de uma arte marcial.
A edição de Marcelo Moraes é primorosa. Mocarzel e Moraes me disseram que havia perto de 100 horas de material bruto para ser montado, e o editor declarou que foi o trabalho mais exaustivo que fez na vida. Mocarzel queria que os próprios gestos gerassem os cortes, e há uma série impressionante de sequências de ensaios intercaladas por pequenas jóias, como o corte que parte do grande espelho na sala de dança para os pequenos espelhos usados pelas bailarinas para se maquiarem.
O único porém é a longa duração do filme que, sem diálogos e saturado de imagens e música, acaba por ficar um pouco cansativo. Mas é uma bela obra, regada a música clássica e, claro, muita dança.
"Estação", de Márcia Faria, é muito bem feito tecnicamente, mas deixa a desejar. Conta a história de uma garota (Carol Abras), aspirante a atriz, que aparentemente está morando no Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo, enquanto faz alguns trabalhos. Lembrando "Terminal", de Steven Spielberg, o filme mostra a garota trocando de roupa no banheiro, se limpando com lenços umedecidos e se alimentando de lanches. De vez em quando fala com a mãe pelo telefone, fingindo que mora em um apartamento. O curta termina como começa, sem nenhuma explicação ou resolução. "Estação" foi apresentado no Festival de Cannes este ano.
O longa-metragem "Cinco vezes favela, agora por nós mesmos" foi a grande estrela da noite. Os produtores Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães, assim como vários membros do elenco e técnica, também subiram ao palco antes da exibição. Cacá Diegues foi um dos cinco diretores que, em 1962, lançou "Cinco Vezes Favela", um dos marcos do Cinema Novo. Diegues disse que tem muito orgulho deste novo filme, apesar dele não ter nenhuma imagem feita por ele. O projeto foi realizado através de oficinas nas comunidades do Rio de Janeiro e tanto roteiro quanto direção, além de grande parte do elenco, vieram dessas oficinas. O que mais chamou a atenção no resultado final é o bom humor e o clima otimista dos curtas. Com exceção de um deles, os episódios não seguem os estereótipos encontrados nos "filmes de favela", com seus traficantes, violência e mortes. Estes assuntos são abordados, mas de forma positiva.
Em "Fonte de renda", Maycon é um jovem esforçado que consegue entrar para a Faculdade de Direito. Ele tem dificuldades em pagar o alto custo dos livros e material didático, e sequer tem dinheiro para o ônibus. Um dia um colega de sala, sabendo que ele mora na favela, pede para que ele lhe traga drogas. A princípio Maycon se recusa, mas as dificuldades financeiras fazem com que ele comece a trazer pequenas quantidades de drogas para seus colegas "playboy" da sala. O tema, delicado, é tratado de forma respeitosa e o filme passa uma boa mensagem sem ser didático ou pedante.
"Arroz com feijão" mostra a luta de um garoto para comprar um frango para o jantar do pai, que não aguenta mais comer só arroz com feijão todos os dias. O episódio é muito engraçado e a interpretação dos atores infantis é ótima.
"Concerto para violino" investe mais no clichê do filme violento de favela. Três amigos de infância (um homem branco, um negro e uma mulher negra) enfrentam uma situação violenta iniciada a partir do roubo das armas de um batalhão do exército. Há certo exagero na caracterização tanto dos bandidos quanto da polícia, maniqueísmo que foi evitado nos outros episódios.
"Deixa voar" mostra a tradicional brincadeira de soltar pipas e como homens feitos, além das crianças, a levam a sério. Um pipa acaba caindo do outro lado do rio e um garoto é enviado, contra a vontade, para buscá-la. O que ele encontra acaba sendo uma boa surpresa.
"Acende a luz", o último episódio, mostra uma véspera de Natal no morro. A energia caiu e a comunidade está inquieta por causa dos preparativos para as festas. Um carro de técnicos da companhia elétrica diz que "vai buscar uma peça" e deixa os moradores na mão. Mas um técnico empenhado resolve subir a favela e tentar resolver o problema.
Os episódios foram dirigidos por Manaira Carneiro, Wagner Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos e Luciana Bezerra, com Direção de Fotografia de Alexandre Ramos e Edição de Quito Ribeiro.
sábado, 17 de julho de 2010
2º Dia - III Festival Paulínia de Cinema
sexta-feira, 16 de julho de 2010
III Festival Paulínia de Cinema
Ontem a festa era só para convidados e o festival prestou homenagem ao cineasta Hector Babenco, que estava presente com a esposa Bárbara Paz. A cerimônia de abertura foi apresentada pelos atores Lázaro Ramos e Fernanda Torres que, bem humorados, falaram sobre o evento, agradeceram aos presentes e homenagearam Babenco que, emocionado, subiu ao palco sob muitos aplausos.
Babenco, que é argentino mas vive no Brasil desde os 19 anos de idade, falou sobre as diferenças entre se fazer cinema hoje e no seu tempo. Ele disse que fazia cinema na “era paleolítica”, e que era muito mais difícil produzir imagens com o equipamento pesado de sua época. Como exemplo, disse que para o longo plano-sequência que inicia “O Beijo da Mulher Aranha”, o Diretor de Fotografia Rodolfo Sánchez teve que ensaiar por dois dias os movimentos da câmera.
Este filme recebeu quatro indicações ao Oscar de 1986, feito que só seria repetido por “Cidade de Deus”, de Fernando Meireles, em 2004. William Hurt levou o Oscar de Melhor Ator interpretando um homossexual que divide a cela com Raul Julia. “O Beijo da Mulher Aranha” foi exibido depois que Hector Babenco recebeu o prêmio “Menina de Ouro” do prefeito de Paulínia. Babenco declarou que fez o filme em inglês “para tentar pagar umas contas”, achando que receberia mais bilheteria. Ainda segundo ele, isso não aconteceu porque eles foram “roubados olimpicamente” pela distribuidora.