
“Um Homem Sério” tem todos os ingredientes de um trabalho pessoal dos irmãos. Situado no final dos anos sessenta (1967, para ser exato), o ambiente judaico e as situações vividas pelos personagens têm tons autobiográficos. Não é difícil imaginar os irmãos Coen aprendendo hebraico ou se escondendo para fumar maconha. Lawrence é um professor de física e matemática em uma escola secundária e, apesar de judeu praticante, tem muita fé na Razão e na certeza dos números. Sua vida organizada e “normal” é virada de pernas para o ar com o anúncio da esposa de que ela quer o divórcio. “Mas o que foi que eu fiz?”, pergunta ele, incrédulo. “Nada”, diz ela, “você não fez nada”. O choque do anúncio como que abre os olhos de Lawrence para os problemas de sua vida. Seu irmão Arthur (Richard Kind) mora de favor na casa dele, dorme no sofá e fica horas no banheiro, para desespero da filha de Lawrence. Para complicar, a esposa está tendo um caso com um viúvo (Fred Melamed) que insiste em ser extremamente gentil e compreensivo com Lawrence, que conforme vai ficando cada vez mais desesperado, imaginamos o que mais pode dar errado na vida dele. Como o roteiro dos Coen vai nos mostrar, muita coisa.
O final é abrupto e, assim como em “Onde os Fracos não Têm Vez”, totalmente aberto, o que deve revoltar muitos espectadores. Aparentemente, “Um Homem Sério” pode parecer uma simples comédia excêntrica, mas é muito mais do que isso. O choque enfrentado pelo personagem principal, na verdade, é o experimentado por toda sociedade americana (e também o mundo), nos turbulentos anos sessenta. Lawrence representa o americano médio, religioso, otimista, classe média, que acreditava na prosperidade econômica experimentada pelo país no pós-guerra. De repente, ele tem que enfrentar fatos como a revolução sexual, o feminismo, as drogas e a guerra do Vietnã. Sua fé na Matemática e em Deus (In God We Trust), de repente, não dá conta de enfrentar todas estas mudanças sociais e culturais. Os irmãos também fazem uma brincadeira bem humorada com a imagem do Deus tirano e vingativo do “Torá” (e do Velho Testamento), pronto para castigar aquele que sai do “caminho do bem”. Justo quando as coisas pareciam estar melhorando para o pobre Larry Gopnik. Indicado para os Oscars de Melhor Roteiro e Melhor Filme em 2010.
2 comentários:
Este filme é sensacional!!!
Bjos...
Oiê. Então foi ver? Legal, né? O filme tem MUITA coisa "escondida", para ser interpretada. Gostei muito. Bjo.
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