por João Solimeo
Um grupo de passageiros de um avião se encontra, de repente, em um lugar isolado. Um deles acorda e não sabe direito onde está. Olha em volta e vê os outros passageiros do avião na mesma situação, desorientados. Alguns gritam, outros choram. Se, ao ler estas linhas, você pensou na abertura do seriado “Lost”, da ABC, não é o único. A surpresa, talvez, esteja em descobrir que se trata da abertura de um livro de ficção científica dos anos 60 escrito por Edmund Cooper (Inglaterra, 1926-1982), chamado “Cavalo-Marinho no Céu” (“Seahorse in the Sky”, 1969).
Li este livro nos final dos anos 80, e quando “Lost” foi lançado fiquei intrigado com as semelhanças. Nestes seis anos em que a série está no ar fiquei ainda mais intrigado pelo fato de que, a não ser por poucas referências na internet, a ligação entre livro e série não foi feita. Nem mesmo o site “Lostpedia”, um dos mais completos a respeito da série, cita o livro de Cooper. Sou fã da série, embora não possa ser considerado um "expert", mas as semelhanças listadas a seguir mostram como muitas das idéias presentes no seriado, sem dúvida, foram baseadas em “Cavalo-Marinho no Céu”.
Livro versus Série
No livro de Cooper, um avião saindo de Estocolmo, com direção a Londres, nunca chega a seu destino. Não há um acidente aéreo, mas os passageiros se lembram apenas de estarem em um avião em um momento e, no outro, estarem em um lugar completamente diferente. Dezesseis pessoas, oito homens e oito mulheres, acordam deitados no meio de uma rua, no meio do nada. Eles são de países diferentes, mas conseguem se entender. Estão isolados em uma rua que começa do nada e leva a lugar nenhum. Há um “Hotel” de um lado da rua e um “Supermercado” do outro. Em redor, há apenas mato.
Em “Lost”, um avião que ia da Austrália para os Estados Unidos nunca chega a seu destino. Há um acidente aéreo, mas os passageiros, a princípio, não conseguem se lembrar de nada. Jack, um médico, acorda em uma floresta, sem saber onde está ou o que aconteceu. Anda até uma praia onde encontra os destroços do avião e um grupo de pessoas desesperadas e confusas. Eles estão em uma ilha, sem possibilidade de fugir. Há 48 sobreviventes.
No livro de Cooper, aos poucos os passageiros do avião descobrem que estão em uma “ilha” no meio do nada, cercados por uma barreira feita por uma névoa fria e estranha. Também descobrem que dois outros grupos de 16 pessoas, em estágios evolutivos diferentes, estão na “ilha”. São, assim, três grupos de 16 pessoas, em um total de 48.
Na ilha de Lost, também há três grupos de pessoas. Há os sobreviventes do avião, há o grupo da vila e há os “outros” do templo.
No livro, comida aparece misteriosamente no “supermercado” do outro lado do Hotel. Na série, em uma das temporadas, comida da Iniciativa Dharma também aparece para os sobreviventes.
Na série, várias tentativas para sair da ilha são feitas, até que um grupo consegue finalmente sair. Três anos depois, eles retornam à ilha e, na sexta e última temporada, uma “realidade paralela” é criada.
No livro, após algumas tentativas de atravessar a “névoa”, um barco é construído e um grupo foge da “ilha” através do rio. Eles retornam três anos depois.
O final (leia sob sua conta e risco)
No livro, quando um grupo sai da “ilha” de névoa, encontram uma espécie de monumento abandonado. Lá eles descobrem que não passam de “cópias” de seus corpos originais, feitos por uma raça alienígena que morreu há muitos séculos. Este povo existe apenas como “fantasmas” que lembram a forma de cavalos-marinhos (por isso o nome do livro original) e que atravessaram o Universo para fazer cópias dos humanos e recriar sua espécie. Os extraterrestres fizeram uma cópia do avião, em pleno vôo, retiraram seus ocupantes e deixaram o avião original continuar sua viagem. O que significa que, assim como em Lost, duas realidades paralelas passam a existir. O livro termina com esta revelação e não mostra o que aconteceu aos passageiros originais, mas as “cópias” acabam se desenvolvendo e criando uma nova civilização.
O final da série está guardado a sete chaves na cabeça do atual responsável pela série, Damon Lindelof. Não me surpreenderia se descobríssemos que Jacob é um extraterrestre que veio à Terra para criar uma nova civilização usando “cópias” dos passageiros de um avião. Em maio, quando a série terminar, vamos descobrir, e atualizaremos este texto.
11 comentários:
Bom, vim por que você indicou seu blog na lista "Usina do Roteirista". Confesso a você que não li o livro e nem vejo a série, mas vou ler o livro. Acontece muito isso, creio eu, sem ser plágio:você lê algo que fica no seu inconsciente ou subconsciente e, ao criar usa alguns referenciais ou ideias do que leu. No entanto, pelo que conta, parece que aí tem mais... se sim, não se intimide e denuncie. Quem sabe, não será o primeiro?
Abraços,
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br
http://dividindoatubaina.wordpress.com/
sabe, acho extremamente possível rolar uma inspiração.
quer dizer, nesses seis anos já deu pra ver que lost é uma colcha de retalhos de diversas referências à temas e obras.
Desde "Presa" do Michael Crichton e senhor das moscas, até alice no país das maravilhas e star wars.
A questão é que, a série deixa de ser um magnânimo plágio quanto costura esses retalhos de uma maneira a criar algo diferente e de alta qualidade.
vou parar de falar e assistir o ep. 12 agora!
poxa... que viagem essa historia do livro hem...?!
naum gosto de lost, mas quero ler esse livro!
vc tem?
rs
aguardo a atualização do texto e o final da serie com certa ansiedade, não li o livro mas pelo que você falou no texto sobre o final do livro seria um decepção para me, quero acreditar que o final será relacionado a fé, bem e mal, proposito, escolha
hmmm... Interessantíssimo esse texto. Sou fã de Lost, e fã de sci-fi. Fiquei tão curioso para ler este livro que fucei na web até encontrar para download (em inglês mesmo).
abraços!
Encontrou o livro? Não conheço mais ninguém que o tenha lido (a não ser os produtores de Lost, hehehe).
Tenho outro livro do Edmund Cooper, "The Far Sunset", que também é interessante.
Realmente Incrivel essas coicidências. Não quis ler o fim pois pode denúnciar alguma coisa no final de Lost, que está bem próximo, mas confesso a curiosidade!
É bem verdade, neste mundo nada se cria tudo se copia .
Muito interessante, ainda mais pq os roteiristas tinham o hábito de homenager as pessoas que eles se "inspiraram" com nomes de personagens da série...
Por exemplo, Locke é sobrenome de um filósofo, e Sawyer de um escritor...
Agora, olha só que interessante:
O verdadeiro nome do "Sawyer" original - O pai do Locke, não o James Ford - Era Anthony Cooper. O mesmo sobrenome do autor do livro...
Quando estreou Lost, achei se tratar de uma adaptação do Livro, e entrei em extase, mas ao perceber que não era bem isso logo perdi o interesse.
Recomendo este livro, que me foi emprestado por um amigo e se tornou meu livro favorito.
Ainda espero uma adaptação do livro, afinal, esta é a moda atual de Hollywood, mas acho complicado, já que não é best seler.
Adorei o blog.
Só uma pequena correção: no livro, o avião segue o seu destino normal. O que acontece, supostamente, é que os passageiros são raptados dele em pleno voo (usei a palavra "raptados" pra evitar spoilers sobre o que realmente aconteceu, rsrsrs).
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