“O Segredo dos seus olhos” surpreendeu ao ganhar, no último dia 7 de março, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O favorito era “A Fita Branca”, de Michael Haneke, premiado com a Palma de Ouro em Cannes e o Globo de Ouro de Filme Estrangeiro. Mas o filme do argentino Juan José Campanella tem méritos suficientes para merecer o prêmio. Campanella já havia sido indicado a um Oscar por “O Filho da Noiva” (2001) e está construindo uma carreira sólida e competente tanto na Argentina quanto nos Estados Unidos, onde dirigiu episódios para várias séries de televisão, como “Law & Order” e “House”.
Campanella, é verdade, segue uma “fórmula” em suas histórias. Há o homem de meia idade (representado por Ricardo Darín), inseguro quanto ao próprio talento e apaixonado por uma mulher por quem ele não consegue se declarar. Há o amigo engraçado (geralmente, Eduardo Blanco), mas com algum tipo de problema, como o alcoolismo. Há um fundo político ancorado na conturbada história da Argentina. Foi assim em “O Mesmo Amor, a Mesma Chuva” (1999), em que Ricardo Darín era um escritor que se apaixonava por uma mulher (Soledad Villamil), mas não conseguiu se declarar por anos. Darín e Villamil voltam agora em “O Segredo dos seus olhos”, que acrescenta o elemento do suspense à fórmula de romance de Campanella. Darín é Benjamin Espósito, um oficial de justiça que fica obcecado em solucionar o cruel assassinato de uma moça. São os anos 1970 e a Argentina está às voltas com instituições corruptas e incompetentes. Espósito e o colega Sandoval (Guillermo Francella, substituindo Eduardo Blanco) tentam driblar as dificuldades burocráticas para solucionar o caso, como invadindo a casa do principal suspeito, Isidoro Gómez (Javier Godino), antigo namorado da moça. Eles também são auxiliados por Irene (Villamil), colega de trabalho por quem Espósito é apaixonado.
Campanella, que também é o editor do filme, por vezes o deixa se estender demais. E o final, apesar de coerente com o exposto durante a trama, é muito fantástico. Mas a direção é primorosa, aulixiada pelo competente elenco. Ricardo Darín, que já trabalhou com Campanella em "O Mesmo Amor, a Mesma Chuva" (1999), "O Filho da Noiva" (2001) e "Clube da Lua" (2004), é muito bom em passar as nuances de seu personagem dividido em conquistar Irene e descobrir o assassino da moça. Villamil e Darín, na tela, são sempre verdadeiros, como um velho casal com muita história para contar. Tecnicamente, Campanella consegue o feito de um plano sequência espetacular no ponto chave do filme, um jogo de futebol em que o suspeito é localizado. Uma câmera aérea focaliza um estádio de futebol lotado, se aproxima, entra na platéia e se mistura aos torcedores em um único plano, que continua por cinco minutos ininterruptos, com o suspeito tentando fugir dos oficiais de justiça e da polícia. É um plano fantástico e, o que é mais importante, não é gratuito, passando ao espectador a emoção de estar em um estádio lotado de futebol.
Falando em futebol, o sucesso do filme argentino e a vitória no Oscar causou certa polêmica entre os cinéfilos e críticos brasileiros, revivendo a velha rixa entre os dois países. Pura bobagem. "O segredo dos seus olhos" é um belo filme e deve ser apreciado como tal.
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