"De onde vieram todas as músicas?", pergunta a repórter. "Da vida, infelizmente", responde o artista. O grande Jeff Bridges, vencedor do Oscar pelo papel, é Bad Blake, um cantor de country das antigas, que já fez muito sucesso, teve quatro casamentos, um filho que não vê há mais de vinte anos e que dirige uma velha perua de cidade em cidade. Em Santa Fé, Novo México, ele conhece uma jovem repórter chamada Jean (a doce Maggie Gyllenhaal), que faz uma entrevista com ele e acaba cedendo ao charme country do cantor. Jean é divorciada e mãe de um garoto de quatro anos chamado Buddy (o roteirista não poderia ter escolhido um nome de verdade?), que é o centro de sua vida. Ela tem medo de se aproximar de Blake, muito mais velho, alcoólatra e não confiável, mas acaba ficando com ele mesmo assim.
Blake vai para Phoenix abrir o show da última sensação da country music, um rapaz chamado Tommy Sweet (Colin Farrell, competente). Tommy é "cria" de Blake, fazia parte da sua banda nos velhos tempos e aprendeu tudo com ele. Blake gosta de ser independente mas está velho, precisa de dinheiro e a apresentação com Tommy pode reviver sua carreira. O romance com Jean também parece ser uma chance de fazer as coisas direito. Mas como toda boa canção sertaneja, a história não vai ser tão cor-de-rosa assim.
"Coração Louco" é filme bonito de se ver, em glorioso 2D, fotografado em widescreen e lidando com personagens que, estes sim, são tridimensionais. Jeff Bridges tem uma longa carreira e é um ótimo ator, encarnando de tal forma Bad Blake que até mesmo canta as canções compostas por T-Bone Burnett. O roteiro, baseado no livro de Thomas Cobb, é do diretor Scott Cooper, em seu primeiro longa metragem. Robert Duvall, um dos produtores, faz uma participação como um amigo de Blake, dono do bar em Houston onde este se apresenta. É também um "road-movie", com a fotografia de Barry Markowitz mostrando aquelas evocativas paisagens do Oeste americano, com suas cidades pequenas e histórias para contar.
Em outra boa cena, Bridges está tocando uma canção e pergunta a Gyllenhall se ela já a ouviu antes. Quando ela diz que sim, ele declara que a acabou de compor. "Uma música boa é assim", diz ele, "você acha que já a ouviu antes". "Coração Louco" tem a qualidade de superar os clichês do gênero e, mesmo assim, dar algo original ao espectador. Um filme sobre amor, música e pessoas. Não é pouca coisa.
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