segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Onde vivem os monstros

O mundo de um garoto pode ser um lugar bastante assustador. Nada foi feito para o tamanho dele, os adultos estão muito ocupados com "coisas de adultos", irmãos mais velhos podem ser cruéis e os professores vivem dizendo que o planeta vai ser destruído de diversas formas diferentes, isso se o Sol não morrer antes. Assim é a vida de Max (o excelente ator infantil Max Records), um garoto comum, filho de pais separados, que tenta dia a dia sobreviver neste mundo complicado. Ele ama a irmã mais velha mas, como toda adolescente, ela está mais preocupada com o telefone e com os amigos que com ele. Sua mãe (Catherine Keener) vive as agruras de ser uma mulher separada que tem que equilibrar carreira, vida amorosa e filhos. Um dia Max veste uma fantasia de lobo e começa a aprontar pela casa, até ser repreendido pela mãe. Ele foge, entra em uma floresta e, de repente, está à beira do mar. Ele pega em barquinho que está na praia e parte mar adentro, indo parar em uma estranha ilha habitada por monstros. A princípio eles querem devorá-lo mas, esperto, ele consegue convencê-los de que é um Rei de uma terra distante, e que agora é rei daquele lugar também.

Esta história simples, baseada em um livro de Maurice Sendak, foi transformada em filme por Spike Jonze (de "Quero ser John Malkovich"), um diretor considerado "alternativo" que fez um filme que os executivos em Hollywood devem ter quebrado a cabeça para classificar. Por um lado, é para todos os efeitos uma história infantil. Há um garoto, há monstros, há canções e cenas de ação. Por outro, é um filme feito com extremo "realismo" por um exército de técnicos em efeitos especiais, misturando bonecos com computação gráfica. Os monstros Carol (voz de James Gandolfini), Judith (Katherine O´Hara), Ira (Forest Whitaker), Douglas (Chris Cooper), Alexander (Paul Dano), KW (Lauren Ambrose) e uma espécie de "Touro" gigante (Michael Berry Jr) são uma mistura de animais diferentes, cada um com sua personalidade. O "chefe" Carol me lembrou muito "Totorô", o monstro bom criado por Hayao Miyazaki em animação de 1988. Um pouco como no "ET, O Extraterrestre" de Steven Spielberg, a história infantil é tratada por Jonze com seriedade, da mesma forma como as crianças levam suas brincadeiras extremamente a sério. Há momentos de pura diversão, quando o "rei" Max ordena que todos caiam na bagunça, destruindo árvores, rolando pelo chão e pulando, misturados com cenas ternas como quando todos pulam em cima uns dos outros e acabam dormindo juntos, como as crianças gostam de fazer.

Mas, como disse, é um filme difícil de classificar. Aqui no Brasil, para complicar mais as coisas, o filme foi lançado apenas em algumas cidades e com cópias legendadas, o que indica claramente que é considerado um filme adulto. Creio que nenhum garoto teria problemas em se identificar com Max e suas fantasias na ilha dos Monstros. Tecnicamente é um filme muito bem feito, com bela fotografia de Lance Acord (o mesmo de "Encontros e Desencontros") e trilha sonora inspirada de Karen O e Carter Burwell. Os efeitos especiais conseguem o feito de criar monstros que são, ao mesmo tempo, falsos mas realistas, uma mistura que só poderia sair da imaginação de uma criança.


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