
Há uma sensação constante de estrangulamento amplificada pela própria cenografia. O filme é quase todo passado em uma mesma rua (cenográfica) de Osaka, onde Shumpei é ao mesmo tempo respeitado e temido. Pode parecer uma versão japonesa de "O Poderoso Chefão", mas o problema é que o filme bate sempre na mesma tecla. Há uma série de sequências repetitivas em que Shumpei entra em um lugar e quebra tudo e todos que vê pela frente. Sua esposa tem a tradicional submissão feminina oriental, mas mesmo seus filhos não são páreos para ele. O que mais se ressente é Massao (Hirofumi Arai), que é quem narra o filme. Após a tentativa de suicídio da irmã, Massao tenta esfaquear o pai em um banho público e acaba com o nariz e algumas costelas quebradas. Outro filho de Shumpei se torna comunista e acaba preso pela polícia após um atentado. Para ampliar o clima depressivo do filme, uma das amantes de Shumpei tem um tumor do cérebro e se torna totalmente dependente dos outros para comer, se limpar e fazer as necessidades. As únicas cenas em que Shumpei demonstra algum traço humano, aliás, são as que o mostram tomando conta da amante doente. De resto, é uma sucessão de brigas, espancamentos, gritaria e estupros.
Takeshi Kitano, que também é um talentoso diretor, ator e editor de filmes, dá uma interpretação impressionante. Sua presença em tela, sem dúvida, é a melhor coisa do filme. O roteiro é baseado no livro do nipo-coreano Sogin Yan que tenta, em alguns momentos, levantar temas como mostrar a situação da comunidade coreana no Japão, sua dificuldade de adaptação e a saudade da terra pátria. Mas, no fundo, "Consumido pelo Ódio" é apenas a história de um homem cruel que leva sua maldade, literalmente, até o túmulo, em longas duas horas e vinte minutos de duração.
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