O visual de "Coco antes de Chanel", a biografia dos primeiros anos da famosa estilista francesa, é impecável. A direção de fotografia de Christophe Beaucarne compõe planos que mais parecem tirados de quadros de Monet ou Renoir. Igualmente notáveis são o trabalho de figurino e direção de arte, nos transportando para a França no começo do século XX, na mudança das carruagens para os carros a motor, dos lampiões para as lâmpadas elétricas. É uma produção extremamente caprichada, sem dúvida.
Já o roteiro, infelizmente, deixa a desejar. A intenção é mostrar os anos anteriores ao sucesso alcançado pela estilista Gabrielle "Coco" Chanel (interpretada por Audrey Tautou), de origem pobre, uma órfã abandonada pelo pai em um orfanato católico. Coco e sua irmã se tornam cantoras em uma casa de shows em que convivem com prostitutas e tentam evitar ser confundidas com elas. Coco é uma moça inteligente mas, aparentemente, "sem sal". Vê o mundo com os olhos práticos e cínicos de quem não espera ajuda de ninguém. Ela atrai a atenção de um nobre rico chamado Étienne Balsan (Benoit Poelvoorde) e, em uma relação prática de troca, ela passa a viver sob seu teto como sua amante e "divertimento" particular. Diferente das mulheres da época, Coco não gostava de usar as roupas apertadas e cheias de enfeites da moda e nem cavalgava sentada de lado, como "apropriado" para uma mulher. Na enorme casa de Balsan a vida é uma sucessão de festas e atividades fúteis, com amigos e parasitas convivendo com jockeys e suas amantes. Coco trava amizade com Emilienne (Emmanuelle Devos), uma atriz que adora as roupas de Coco e seus chapéus, feitos por ela mesma. Coco também se apaixona por um inglês chamado Arthur Capel (Alessandro Nívola), que está com um casamento de conveniência marcado (o que faz com que Chanel prometa que nunca irá se casar com ninguém).
Dirigido por Anne Fontaine, o filme é extremamente "agradável", mas nunca chega a decolar. Tautou (que me lembrou Audrey Hepburn), tenta dar um pouco de humanidade à fria Coco Chanel, mas creio que o roteiro não faça justiça à vida da estilista. Para uma mulher aparentemente tão à frente do seu tempo, ela parece depender demais da ajuda de um homem para sobreviver, seja como amante de Balsan ou, mais tarde, de Arthur Capel. Seu lado estilista é visto de forma superficial, como mera criadora de chapéus para as amantes e frequentadoras do castelo de Balsan. Mais para o final ela subitamente já é vista como a que viria ser uma das estilistas mais influentes do mundo da moda e o filme termina. Mas, repito, os méritos técnicos e o elenco do filme o fazem parecer melhor do que realmente é. Vale mais como um retrato de uma época do que como a biografia de uma pessoa.
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