Ryan Bingham (George Clooney) se orgulha de dizer que pode carregar toda sua vida em uma maleta. Em palestras motivacionais ele pede para a platéia se imaginar pegando tudo que têm em casa, começando pelas pequenas coisas encontradas nas gavetas, e colocando dentro de uma mala. "Movimento é vida", diz ele. Fica difícil se movimentar tendo uma mala pesada para carregar a vida toda.
Sua filosofia pode ter seus furos, mas é perfeita para o tipo de vida que ele leva. Ele é um empregado modelo de uma empresa de recursos humanos que o manda por todos os Estados Unidos para, basicamente, demitir pessoas. Ele adora viver de aeroporto em aeroporto, de um quarto de hotel para outro. Sua vida é uma sucessão programada de check-ins, aluguel de carros e programas de milhagem. Ele tem uma meta, que é acumular dez milhões de milhas em seu cartão da American Airlines.
Tudo isso é ameaçado, de repente, pela entrada na empresa de uma jovem psicóloga chamada Natalie (Anna Kendrick) que desenvolve um método mais eficiente e barato de demitir pessoas: pela internet. Ao invés de enviar dezenas de pessoas país afora, por que não fazê-lo via webcam? Bingham acha a idéia péssima, mas é obrigado pelo seu chefe a levar a garota em sua próxima viagem. Ele vai tentar mostrar a ela que demitir pessoas pode ser uma verdadeira "arte" e não pode ser feito diante de um computador.
"Amor sem escalas" é escrito e dirigido por Jason Reitman, que nos últimos anos tem se mostrado um cineasta original e interessante. São deles os filmes "Obrigado por fumar" e "Juno", e "Amor sem escalas" mantém o mesmo tipo de ironia inteligente que Reitman demonstra ao lidar com o modo americano de vida. Nesses tempos de crise permanente no mercado financeiro e nas grandes empresas, é um fato terrível que pessoas como Bingham, cuja função é demitir pessoas, existam e sejam consideradas necessárias. George Clooney está à vontade no papel. Cínico, auto confiante ao extremo, ele acha que tem toda sua vida programada, mas a mesma filosofia desumana aplicada por sua empresa pode ser uma armadilha contra ele mesmo. Há uma cena ótima em que Clooney conhece Alex (Vera Farmiga) uma mulher que poderia ser seu alter ego (ou, como ela mesma descreve, ela é como ele, mas com uma vagina). Os dois ficam flertando no bar do hotel e ela fica impressionada com o tamanho do "documento" de Clooney, ou melhor, com seu cartão de milhagens. Eles transam e, metodicamente, cada um com seu notebook, tentam descobrir quando e em que parte do país eles podem se encontrar novamente. Mas será que tudo são apenas negócios? Não há nenhum sentimento envolvido? E quando o espectador acha que já previu o final do filme, há até algumas pequenas surpresas escondidas.
Reitman reutiliza alguns atores de seus filmes anteriores para pequenas papéis, como J.K. Simmons e Jason Bateman (ambos de "Juno"), ou Sam Elliot (de "Obrigado por fumar"), mas o filme é sustentado por George Clooney. O roteiro (de Reitman e Sheldon Turner) levou o Globo de Ouro na categoria, e o filme é uma das apostas para o próximo Oscar.
4 comentários:
Só três estrelas. Clooney carrega o filme nas costas. A atriz Anna Kendrick é uma chatinha e a Vera Farmiga é "muito boa". Sessão da Tarde em 2015.
Clooney realmente carrega o filme, mas daria mais que três estrelas. Gostei muito dos diálogos, muito bem escritos. A cena em que a mocinha está falando sobre seus planos de vida para seus colegas mais velhos é ótima.
É chato!
Chato? Achei uma boa mistura de comédia com certo drama, e um bom retrato da má situação da economia americana. bjo.
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