terça-feira, 15 de setembro de 2009

Persépolis

Persépolis é a versão animada da premiada “graphic novel” autobiográfica de Marjane Satrapi. Indicada ao Oscar de Melhor Animação, o filme está longe do tom infantil associado a desenhos animados. Assim como “Valsa com Bashir”, Persépolis é um filme adulto, denso e que lida com assuntos como intolerância, perseguição e os efeitos da guerra.

Persépolis conta a história de Marjane a partir de sua infância no Irã, na década de 70. O clima político é tenso e o Xá (o monarca do país) está sendo derrubado pelo povo. Os pais de Marjane acreditam que o país será mais democrático com isso, mas a monarquia é substituída pelo fanatismo islâmico. A pequena Marjane, como toda criança, transforma a realidade à sua volta para sua fantasia, e acredita poder falar com Deus e ser sua profetiza. Quando um tio comunista é solto da prisão, ela o vê como herói e se torna sua principal confidente, e sofre quando o vê ser preso pelo novo regime e executado.

O filme é feito em preto e branco, com um traço simples, mas elegante, baseado nos quadrinhos. A própria Satrapi adaptou e dirigiu a versão cinematográfica de sua HQ para a telona. É interessante e revelador ter acesso a um ponto de vista pouco conhecido no ocidente, a vida de uma garota comum em um país em constantes conflitos tanto internos quanto externos. Marjane, quando adolescente, gosta de fitas de rock pesado, que compra no mercado negro, e está sempre falando mais do que deveria na escola. Como mulher, sofre com o rígido código de vestimenta e com a moralidade islâmica. A família, com medo de que ela seja presa pelo governo, a manda estudar em Viena, na Áustria, onde ela se sente um peixe fora d´água. Os colegas se interessam pelo seu lado “exótico” e pelas histórias de terror que ela tem para contar sobre a guerra com o Iraque. Conhece o amor, e sexo e a desilusão de ser traída pelo namorado. Acaba nas ruas, onde quase morre e fome e doenças.

De volta ao Irã, ela descobre que, apesar da guerra ter acabado, o país continua mais retrógrado do que nunca. Há uma cena emblemática em que alunos de uma escola de arte tentam desenhar uma modelo coberta dos pés à cabeça, e a própria Marjane quase é presa por estar usando maquiagem ou por ser vista de mãos dadas com o namorado.

A animação tem as vozes originais de Chiara Mastroiani e Catherine Deneuve, e é falado em francês. “Persépolis”, a propósito, era o nome da capital do antigo Império Persa, atual Irã. Uma região rica em História, guerras e contradições. Os Estados Unidos apoiaram Saddan Russein (que depois seria considerado inimigo) durante a guerra entre o Irã e o Iraque, que durou oito anos. Hoje a situação política ainda é tensa, com a ameaça de existência de armas nucleares e constantes problemas religiosos.


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