"O Contador de Histórias" sofre de um grande problema. Tem um narrador tão descritivo, óbvio e redundante que, por vezes, parece que estamos assistindo a um filme feito para cegos. Considere a primeira vez que a pedagoga francesa Margherit (Maria de Medeiros) se encontra com o jovem Roberto Carlos (Paulinho Mendes), um interno da Febem. Um plano subjetivo de Roberto Carlos mostra seus pés e o pé da francesa entre eles. O narrador diz o óbvio: "A primeira coisa que vi foi o pé dela". E é assim o filme todo. Não há uma cena que se desenrole de forma puramente cinematográfica, através de imagens e sons, sem que o narrador interfira contando e explicando o que estamos vendo. Há uma cena em que Margherit dá ao rapaz um envelope, e por alguns segundos o espectador imagina o que há dentro dele. Mas o "suspense" não dura porque o narrador, infalível, se faz ouvir para dizer que dentro havia um pedaço de papel com um endereço. Por que não MOSTRAR o papel?
"O Contador de Histórias" é dirigido por Luiz Villaça e abriu a segunda sessão do II Festival Paulínia de Cinema. O filme conta a história real de Roberto Carlos Ramos, um garoto que foi deixado pela mãe na Febem, nos anos 70, pois ela acreditava que ele teria uma vida melhor lá do que na família de 11 filhos. Na instituição, Roberto Carlos aprende a se tornar um "trombadinha" e é um dos campeões de fugas. A obstinada francesa Margherit se interessa pela história dele e o fica seguindo com um gravador seja na instituição ou nas ruas. O garoto a princípio fica desconfiado, mas acaba procurando pela proteção de Margherit após ser abusado por uma gangue de garotos de rua. A portuguesa Maria de Medeiros, que interpreta Margherit, é a figura mais interessante do filme, embora por vezes seja caricata demais. O garoto é interpretado por uma série de crianças diferentes, conforme a idade. A reconstituição de época, mostrando Belo Horizonte no final dos anos 70, é interessante e há cenas no trânsito em que só vemos carros da época.
Mas o filme tem problemas. Um deles, já mencionado, é a narração constante e redundante. Em alguns momentos, quando Roberto Carlos está falando sobre seu passado ou criando alguma memória imaginada, ela é necessária e interessante. Mas, como disse, no resto ela é simplesmente a narração do óbvio. Outro problema é o ritmo e a má utilização do tempo. Há uma sequência passada em um ônibus em que Margherit está levando Roberto para ver o mar pela primeira vez, o que deveria ser uma "surpresa". Para esticar o tempo, o filme usa o recurso amadorístico de usar fades e transições apenas para voltar ao mesmo plano anterior, que mostra a francesa e o rapaz no ônibus. Quando eles finalmente chegam à praia e o rapaz tem a chance de correr para a água, a cena é cortada e voltamos ao confinamento da casa de Margherit, onde se passa quase todo o filme. A mesma coisa acontece quando os dois vão a um jogo de futebol. Quando a trama dá ao filme a chance de levantar voo, voltamos ao interior da casa de Margherit. E, perto do final, há uma cena em que simplesmente ficamos vendo duas mulheres fumando um cigarro inteiro, com música ao fundo, sem a menor necessidade.
Apesar de tudo, o filme agradou à platéia presente ao Teatro Municipal de Paulínia, onde foi exibido. A mim me pareceu formulaico e previsível, necessitando de uma edição melhor e o corte da maior parte da narração.
Um comentário:
sera que nao e um filme de baixo orcamento??? Porque sabe como e, ne... mais facil fazer tudo numa locacao so do que gastar com equipe, figuracao, dia do equipamento para captar uma cena que nao duraria (de qquer forma) nem 2 min.
Bom, mas a historia parece interessante.
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