quinta-feira, 16 de julho de 2009

No Meu Lugar

“No meu lugar” marca a estréia de Eduardo Valente (curtametragista premiado em Cannes) na direção de longas metragens. O filme foi exibido no II Festival Paulínia de Cinema na segunda feira, 13 de julho, com recepção mista. Não é um filme fácil, com ritmo lento e estrutura não linear, o que confundiu parte do público.

Uma casa no Rio de Janeiro é o ponto em comum de três histórias interligadas por um crime. O policial Zé Maria (Márcio Vito, muito bem) está sob investigação após um tiroteio em que um homem é morto. Zé Maria é pai de Janaina (Nívea Magno), uma adolescente que não vê com bons olhos a degradação física e psicológica dele. O tiroteio aconteceu na casa de Elisa (Dedina Bernardelli), esposa do homem morto. Ela volta à casa um tempo após a morte do marido, com os filhos e um novo companheiro, Fernando (Licurgo Spinola). A casa está toda empoeirada e ainda apresenta marcas de tiros nas paredes. Elisa e família vieram de Curitiba, onde estão morando agora, para empacotar as coisas e vender a casa. Também acompanhamos a história de Sandra (Luciana Bezerra) e Beto (Raphael Sil). Ela é empregada na casa de Elisa e ele é o entregador do supermercado, e mora na favela. Os dois são namorados e, conforme a paixão aumenta, também aumenta a sensação de impotência diante da pobreza e dos problemas da vida no Rio de Janeiro.

Há um “truque” temporal na montagem que nunca é expresso abertamente, o que gerou certa confusão em parte da platéia. Não é nada exatamente novo, já visto em filmes fragmentados como “Crash”, “21 Gramas” e “Babel” e é uma faca de dois gumes neste filme. A estrutura em quebra-cabeças é interessante, fazendo com que o espectador tenha que prestar atenção para entender como o filme “funciona”. Por outro lado, assim que o “truque” se torna claro (cada trama está sendo vivida em uma época diferente), parte do interesse se perde. O ritmo é tão lento que acaba gerando desconforto em alguns momentos. Há planos que, mesmo após a ação ter sido terminada, continuam por mais alguns segundos na tela sem necessidade aparente. Fica a sensação de que algo está para acontecer, mas não acontece. O elenco é muito bom, mas o clima pesado cria um distanciamento entre os personagens. É tudo muito frio, melancólico, escuro. E o que dizer da relação entre o policial Zé Maria e Janaina, sua filha? Quando os vemos pela primeira vez, na escuridão de uma casa iluminada à luz de velas, temos a nítida impressão de estarmos vendo marido e mulher. E isso se repete por várias cenas até que, de repente, a moça começa a tratar Zé Maria como “pai”. A confusão só aumenta após uma cena em que vemos os dois acordando juntos, de manhã, dividindo a mesma cama de casal. Esta confusão é proposital ou um “erro” do filme? Escutei várias pessoas no cinema expressando a mesma sensação.

O filme é tecnicamente bem feito, com produção da Videofilmes, de Walter e João Moreira Salles. O final também não é do tipo “hollywoodiano”, em que tudo se explicaria de forma clara, o que não deixa de ser um anticlímax. A situação sugerida, mas não mostrada, no início do filme, é vista agora do lado dentro da casa. Fica certa frustração pela decisão de não mostrar o que aconteceu de forma clara novamente. Um filme denso e bem feito em que falta, talvez, um pouco mais de emoção.



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