segunda-feira, 27 de julho de 2009

Há tanto tempo que te amo

Juliette Fontaine (Kristin Scott Thomas) é uma mulher fria. Quando sua irmã Lea (Elsa Zylberstein), radiante de felicidade, vai buscá-la no aeroporto, Juliette a abraça, mas não esboça muita emoção. No carro, a mesma expressão fechada. Lea vai buscar as filhas adotivas na escola e diz a elas que a tia "estava viajando". As crianças tentam se aproximar, mas mesmo elas percebem que há algo "errado" com Juliette.

Kristin Scott Thomas (de "O Paciente Inglês") está ótima neste filme escrito e dirigido pelo romancista francês Philippe Claudel. Juliette é um enigma, mas Kristin aos poucos vai revelando o ser humano por trás da máscara fria e indiferente de sua personagem. Seu cunhado Luc não se preocupa em esconder que não a quer por muito tempo na casa. A irmã pede paciência ao marido. Afinal, ela passou 15 anos longe. Quando Juliette vai fazer uma visita obrigatória a seu agente de condicional (Frédéric Pierrot) é que ficamos sabendo parte da verdade. Juliette não estava viajando, mas sim presa por 15 anos. Qual teria sido seu crime? Por que Luc não a quer sozinha com as crianças? Por que ela é tão calada e fechada?

O filme explora muito bem a relação entre as duas irmãs. Lea é toda sorrisos com a irmã mais velha, mas sua apreensão e ansiedade são perceptíveis. Aos poucos, Juliette vai extraindo dela revelações sobre o comportamento da própria família. Os pais de Juliette obrigaram Lea a se esquecer da irmã, a ponto de começarem a dizer para os outros que Lea era filha única. Quando Juliette pergunta a Lea o porquê dela ter adotado duas crianças, ao invés de ter filhas próprias, a irmã responde que queria filhos, mas não queria gerar um. "É por minha causa", diz Juliette. A natureza do seu crime (que não vou revelar aqui) é tão terrível, e inexplicável, que as pessoas a tratam com desprezo ou medo. Existe crime sem perdão? Alguém que passou 15 anos preso e separado da sociedade tem o direito de tentar recomeçar a vida, quando solto?

O diretor Claudel, auxiliado pelo ótimo elenco, faz um trabalho delicado e sóbrio. Repare como o figurino das irmãs vai ficando mais claro e mais leve à medida que o filme se passa, conforme Juliette vai sendo aceita de volta pela família e por amigos. Curioso também o personagem do sogro de Lea, um senhor que mora com eles e que não pode mais falar por causa de um AVC. Juliette, calada por natureza e por consequência de suas ações, encontra conforto e companhia na presença do velho em algumas suaves passagens do roteiro.

Mais para o final o filme cresce em drama, mas também se perde um pouco. O crime de Juliette ganha uma explicação que pode ser vista como uma forma de "redimir" a personagem, e a cena em que as duas irmãs falam sobre o assunto "proibido" é interpretada brilhantemente por Kristin Scott Thomas e Elsa Zylberstein. O problema é que a tal "redenção" acaba tirando do filme um pouco do seu realismo e crueza e partindo para um clímax emocional contraditório. Por que não ir até o fim com o drama dessa mulher falha, mas fascinante? De qualquer forma, "Há tanto tempo que te amo" é um belo filme, levado com brilho pelo elenco encabeçado por Scott Thomas, em interpretação exemplar.


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