Um diretor de teatro. Um ator que interpreta este diretor. Uma esposa. Não, duas esposas. Duas filhas pequenas, quase idênticas. Uma psicóloga que parece estar exatamente no lugar certo o tempo todo. Uma casa permanentemente em chamas, mas ninguém parece notar. Nova York. Um cenário de Nova York, dentro de Nova York. E assim por diante. Sinédoque, me informa o dicionário, é "tomar a parte pelo todo". Cinco cabeças de gado. "Cabeça" no lugar de boi. O que nos leva a "Sinédoque, Nova York", filme de estréia na direção do roteirista Charlie Kauffmann. Ele é o responsável pelos roteiros menos convencionais feitos pelo cinema americano nos últimos anos. Suas histórias têm algumas características em comum, como a metalinguagem, os personagens masculinos geniais mas confusos, a presença do fantástico no dia a dia e assim por diante. Ele escreveu filmes como "Quero ser John Malkovich", "Adaptação", "Confissões de uma mente perigosa" e "Brilho Eterno de uma mente sem lembranças".
Ele chega agora à direção em um filme (escrito por ele, naturalmente) que carrega todas estas características e as leva ao extremo absoluto. Por um lado, parece genial. Por outro, ao chegar ao final da longa sessão de cinema (são 124 minutos que, francamente, parecem mais) fica difícil chegar à uma conclusão sobre o filme. Resumo rápido: Um diretor de teatro hipocondríaco que ganha um prêmio em dinheiro resolve fazer uma peça que embarque toda a sua vida e o mundo à sua volta. Ele contrata um ator não só para interpretá-lo, mas para segui-lo 24 horas por dia e saber todos os detalhes de sua vida. Há também atrizes que substituem sua segunda mulher, Claire (Michelle Williams) e sua assistente, Hazel (Samantha Morton). Dentro de um galpão enorme em Nova York, aos poucos ele vai recriando seu apartamento, os prédios em volta, finalmente chegando a recriar Nova York dentro de Nova York. É a idéia de que "a vida é uma peça de teatro" elevada à décima potência. A idéia é ótima, mas é tudo tão demorado e "solene". Há viagens para a Alemanha, para onde a primeira esposa (a ótima Catherine Keener) se muda com a filha pequena. Há vários enterros, reais, imaginários e recriados. Há obras de arte pintadas no tamanho de um selo. Há um momento em que não temos certeza nem sobre o gênero dos personagens. E uma sensação de que tudo vai dar errado, e da maneira mais demorada e dolorosa possível.
Basicamente, não é um filme sobre a vida, mas sobre a morte em vida. Um monumento à inércia e à grandes idéias que nunca se tornam realidade. O que me incomodou mais é que a parte humana da história acaba enterrada nas loucuras do Kauffman. E há um lado humano nos primeiros trinta minutos do filme, aproximadamente, enquanto "Sinédoque, Nova York" ainda é um filme sobre seres humanos. Sobre Caden Cotard (o sempre ótimo Philip Seymour-Hoffman), um diretor de teatro casado com uma artista chamada Adele Lark (Catherine Keener). Os dois estão em terapia de casal e sofrem aquela crise que chega no casamento quando os desapontamentos se tornam maiores do que a admiração mútua. Eles têm uma filha chamada Olive que é um pouco precoce e faz todas as perguntas difíceis. Caden é frequentemente assediado pela moça que trabalha na bilheteria do teatro, Hazel (Samantha Morton), mas nunca cede às insinuações dela. Até que um dia a esposa vai à Alemanha com a filha para uma esposição de arte e, aparentemente, nunca volta. E então o filme deixa o lado humano de lado e embarca nas bizarrices de Charlie Kauffman.
Há uma porção de idéias fantásticas por todo o filme. Há lances brilhantes e a sensação de que algo "genial" está para acontecer. Mas, em minha opinão, Kauffman caiu na armadilha do diretor que não consegue cortar o próprio texto. É tudo lento demais e, francamente, infindável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário