domingo, 31 de maio de 2009
Um ato de liberdade
domingo, 17 de maio de 2009
Katyn
Na primeira cena do filme "Katyn", do veterano diretor polonês Andrzej Wajda (que está com 83 anos), vemos um grupo de refugiados poloneses sobre uma ponte, enfrentando a difícil decisão: fugir para o leste ou para o oeste? Uma delas é Anna (Maja Ostaszewska) que, com a filha Veronika, está à procura do marido, Andrzey (Artur Zmijewski), um oficial polonês prisioneiro dos soviéticos. Ele e outros oficiais são removidos para campos de prisioneiros na região de Smolensk, na União Soviética. Andrzei mantém um diário e envia várias cartas à esposa enquanto está preso. Entre quinze e vinte mil oficiais poloneses foram mantidos em campos soviéticos até que, misteriosamente, eles "desaparecem". As cartas pararam de chegar após abril de 1940, e milhares de corpos foram encontrados enterrados na floresta de Katyn. Os nazistas acusaram os soviéticos de um massacre; os russos, por sua vez, disseram que foram os nazistas os culpados.
O pai do diretor Andrzey Wajda era um dos oficiais mortos nesse massacre, no início da II Guerra Mundial. Wajda tem uma extensa carreira cinematográfica, que inclui filmes como "Danton" (1983), sobre a Revolução Francesa, com Gerárd Depardieu, e várias obras feitas sob a ocupação soviética na Polônia. Em "Katyn" ele filma com frieza e sobriedade, revelando aos poucos o drama das famílias polonesas que ficaram sem receber notícias de seus entes queridos por anos. Há cenas muito bonitas, como uma em que o exército polonês, trancafiado durante a véspera de Natal, se reúne para cantar com seu general. A câmera de Wajda sobe e a configuração dos prisioneiros entre os beliches do alojamento formam uma cruz. Pequenas histórias também são contadas, como a do oficial soviético que, usando de sua influência, consegue impedir que Anna e sua filha sejam presas pelo exército russo; há até lugar para um romance que dura apenas alguns minutos, quando uma garota salva um rebelde polonês da polícia soviética. Eles combinam de se encontrar no dia seguinte mas, em período de guerra, poucas promessas podiam ser cumpridas.
O filme não é linear e as cenas que descrevem o massacre foram deixadas para o final. Filmadas do ponto de vista dos soldados executados, elas são extremamente realistas e cruas, mostrando como cada soldado foi morto com um tiro na cabeça e jogado em uma vala comum pelos oficiais soviéticos. O massacre de Katyn foi motivo de debate por vários anos, sobre quem teria sido o verdadeiro autor. Tendo Hitler e um lado e Stalin do outro, fica realmente difícil imaginar quem foi pior para a Polônia. Wajda dá sua versão do massacre, baseada em estudos realizados no pós-guerra.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Milagre em Santa Anna
O filme é dirigido por Spike Lee que, obviamente, ficou interessado em contar a história deste pelotão de soldados negros lutando em uma “guerra de brancos”, como declara um deles. O filme tem co-produção italiana e é falado em três línguas, inglês, italiano e alemão, conforme a trama acompanha cada lado envolvido na guerra. Baseado no livro de James McBride (que assina o roteiro), “Milagre em Santa Anna” é muito bem feito tecnicamente e tem o foco voltado para os personagens. O problema é que, por vezes, o tom “panfletário” de Spike Lee acaba atrapalhando. É fato que os negros que lutaram na 2ª. Guerra Mundial raramente são lembrados; os filmes dedicados ao gênero, em sua grande maioria, são estrelados apenas por atores brancos e pouco se fala da participação negra no conflito. Mas há alguns “discursos” no filme fora de lugar, fora o fato de que os poucos brancos retratados geralmente são apenas idiotas estereotipados.
O lado lúdico do filme, justamente o tal “milagre” do título, acaba sofrendo em um filme que mistura cenas panfletárias com outras extremamente violentas e realistas. As cenas de batalha são muito bem feitas e mostram todo horror da guerra. Os italianos se encontravam entre o fogo cruzado dos americanos, dos nazistas e dos próprios compatriotas, que se dividiam entre os dois grupos. Quando tudo isso se junta em cena é um verdadeiro massacre, mostrado com detalhes pela câmera de Lee. Em meio a isso tudo (é um filme longo, 166 minutos) há cenas muito interessantes e calmas entre o garoto, que se chama Ângelo (Matteo Sciabordi) e o recruta Train. Os dois não entendem a língua um do outro, mas conseguem se comunicar por gestos e expressões. A atriz italiana Valentina Cervi interpreta Renata, uma mulher que não sabe se o marido está vivo ou não e que se torna o motivo de atração (e discórdia) entre o Sargento Bishop (Michael Ealy) e o Sangento Stamp (Derek Luke). Há também um líder dos partisans (a resistência italiana) que chega à vila com um prisioneiro nazista. Em seu grupo está um traidor, responsável por uma tragédia revelada no final do filme.
Como se não bastassem todos estes personagens e tramas, o filme infelizmente ainda tenta fazer uma ponte com uma época 40 anos depois, quando um dos soldados apresentados no filme, agora já velho, mata a queima-roupa uma pessoa em uma agência dos correios. Estas cenas, passadas na década de 80, começam e terminam o filme de forma irregular e desnecessária. Spike Lee poderia ter se concentrado em fazer apenas um filme na 2ª. Guerra Mundial, com uma duração menor, menos panfletagem e mais atenção ao lado lúdico da trama.
sábado, 9 de maio de 2009
Star Trek
Câmera Escura
quinta-feira, 7 de maio de 2009
X-Men Origens: Wolverine
“Wolverine” começa no século 19, no Canadá, quando os poderes de Logan aparecem pela primeira vez. Ele testemunha a morte do homem que julga ser seu pai e, em um ataque de fúria, lâminas de osso crescem de suas mãos e ele as usa para matar o assassino. Após o crime, ele foge do Canadá com seu meio irmão, “Dentes de Sabre” (Liev Schreiber), e eles vão para os Estados Unidos. Em uma ótima seqüência de abertura (a melhor cena do filme, diga-se de passagem), vemos como os dois passaram por uma série de guerras ao longo dos anos, como a Guerra de Secessão, as duas guerras mundiais e a Guerra do Vietnã. Descobrimos, assim, que além de indestrutíveis eles são também praticamente imortais, o que é um dos problemas do filme. O que fazer com um personagem imortal e indestrutível? Como sabemos que nada vai acontecer ao herói, como atrair o interesse e a empatia da platéia? Infelizmente, isso é feito com diversos clichês, como a inevitável namorada que vai ser morta e provocar a ira de Wolverine, o desejo de vingança, e assim por diante.
Outro problema é que os produtores, com medo de que uma censura alta pudesse prejudicar as bilheterias, insistiram para que o filme não fosse muito violento. O que provoca cenas francamente ridículas em que, após alguma luta em que deveria haver sangue e pedaços de corpos para todos os lados, vemos no máximo alguns hematomas e suor no rosto de Logan. Após a morte da namorada e sedento de vingança, ele aceita passar por um procedimento doloroso em que seus ossos são trocados por uma liga metálica indestrutível, o “Adamantium”, que veio do espaço em um meteoro. O processo na verdade é parte dos planos do Coronel Striker (Danny Huston), de construir a arma perfeita mas, como sabiamente diz um personagem, eles gastam um dinheirão para deixar Wolverine indestrutível só para passar o resto do filme tentando matá-lo? Esse tipo de “lógica” talvez funcione em uma HQ, mas não em um filme com pretensões sérias como este. E que saudade do elenco dos filmes anteriores, que contavam com atores do quilate de Ian McKellen, Patrick Stewart, Famke Janssen, Halle Berry, Anna Paquin, só para citar alguns. “Wolverine” está povoado de atores desconhecidos e fracos, interpretando uma série de mutantes igualmente desinteressantes.
Assim, “Wolverine” tenta se segurar só no carisma de Hugh Jackman para se manter de pé. Jackman é bom ator e está em casa interpretando Logan/Wolverine, mas só isso não garante o sucesso do filme, que inclusive apela para o físico do ator (que chega a aparecer nu em algumas cenas rápidas e sem camisa em várias, para agradar o lado feminino da platéia). Para finalizar (e se você não assistiu “Wolverine” sugiro que pare de ler por aqui, alerta de SPOILER), o final é extremamente decepcionante. Qual a razão de se fazer um filme que mostre o passado de um personagem se ele não vai aprender nada com ele? Sim, já sabíamos em X-Men que Logan não se lembrava do passado, mas isso só comprova que este filme não tinha razão de ser. Novamente, não há como ter muita empatia com um personagem indestrutível, imortal e que, depois de tudo, ainda se esquece de tudo o que aconteceu.
domingo, 3 de maio de 2009
A Janela
A Janela é dirigido por Carlos Sorin. É um filme pequeno, curto, que é uma contemplação sobre a chegada da morte. Com poucos atores e feito todo em uma locação, Sorin se baseia em um elenco sólido, na bela fotografia de Julián Apezteguia e em um som impressionante. Como praticamente não há música (a não ser na cena do sonho), o som tem uma importância fundamental em nos transportar para aquele mundo privado e instrospectivo do escritor. Há uma cena muito bonita em que Antonio foge de seu quarto para dar uma volta pela fazenda e quase podemos sentir o cheiro do mato, da pequena horta e das flores por onde Antonio anda, tal a perfeição das imagens e da recriação sonora. A figura de um velho piano também é importante para a trama e para o estado de espírito do filme. Como o filho está vindo da Europa, Antonio contrata um afinador para olhar o instrumento, e há um paralelo interessante entre a visita do médico, com suas agulhas e instrumentos, para examinar Antonio, e a figura do afinador tentando trazer o piano à velha forma.
O filho chega ao final do dia, trazendo uma namorada que não se conforma com o fato de seu celular não ter sinal. Os sons da natureza, grilos, sapos, pássaros noturnos e do vento, vão se tornando cada vez mais fortes enquanto a noite cai, trazendo com ela uma escuridão que nós, habitantes do mundo moderno, já nos desacostumamos. Sorin, com seu filme, nos reapresenta a certas verdades esquecidas pelo mundo moderno. O dia é claro, a noite é escura e a morte chega a todos um dia. Aos seres humanos resta saber transformar o tempo entre o nascer e o pôr do sol em algo útil e belo, através do trabalho, da cultura e da arte.