O cinema, cheio de cabeludos, escutava às notas açucaradas de "Take my Breath Away" (do filme Top Gun), enquanto esperava pelos riffs pesados da banda inglesa Iron Maiden. Grande parte da platéia vestia camisetas pretas com o nome da banda, como se estivessem vestidos para um show. O fato da sessão ser à meia-noite só mostra a força que o Iron Maiden tem no Brasil.
Criada nos anos 80 na Inglaterra, a banda de heavy metal se mantém com uma longevidade impressionante. E eles têm uma massa religiosa de fãs no Brasil desde sua primeira apresentação por aqui no Rock in Rio de 1985. Naquela época, a maioria das garotas metaleiras que hoje vão assistir a seus shows sequer havia nascido. "Iron Maiden: Vôo 666" documenta a turnê "Somewhere back in time", em que a banda fez 26 shows, em 21 cidades, no espaço de seis semanas. Estas 21 cidades estão espalhadas pelos cantos do globo, de Munbai na Índia a Anchorage no Alasca; de São Paulo, Brasil a Tóquio, Japão. Isso só foi possível graças a uma logística apertada e um avião próprio, o "Ed Force One", um 757 pilotado pelo vocalista da banda, Bruce Dickinson, que carrega toda a aparelhagem além dos músicos, suas famílias e 70 pessoas da equipe técnica. O filme foi dirigido pelos canadenses Scott McFadyen e Sam Dun e segue o ritmo frenético da banda, mostrando cenas de bastidores, entrevistas, momentos de lazer e, claro, músicas dos shows.
Uma das perguntas que podem ser feitas é o porquê do grupo ter tantos fãs não só entre os que os acompanham há tempos, mas cada vez mais atraindo uma nova legião de jovens. Talvez simplesmente não tenha surgido nos últimos anos nada que se equipare ao grupo, principalmente nas apresentações ao vivo. Eu estive presente dia 15 de março último ao retorno deles ao Brasil e pude acompanhar, junto com quase 100 mil fãs extasiados no Autódromo de Interlagos, SP, a energia do grupo. O filme mostra cenas surreais de multidões pulando em Mumbai, na Índia, da mesma forma que um estádio foi pouco para conter os fãs da Costa Rica. Na Colômbia, policiais faziam uma revista severa nas milhares de pessoas esperando na fila, tirando câmeras fotográficas, comida e até mesmo os cintos das calças dos fãs. É da Colômbia também que vem uma das imagens mais marcantes do filme. Um fã, aos prantos, segura uma baqueta lançada pelo baterista Nicko McBrain; ele encosta a baqueta no rosto, exausto, chorando, e então faz um sinal-da-cruz. Não deixa de ser irônico que a igreja católica tenha conseguido banir o grupo de se apresentar no Chile, nos anos 80, devido às letras satânicas de suas músicas. A mesma igreja que fazia vista grossa às torturas, desaparecimentos e mortes no regime do General Pinochet.
A banda é formada pelo incansável vocalista Bruce Dickinson, pelo baixista e principal compositor Steve Harris, pelo engraçadíssimo baterista Nicko McBrain e por nada menos que três guitarristas: Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers. As músicas, apesar de pesadas, são melódicas e, como admite um engenheiro de som no filme, seguem uma fórmula: uma parte lenta, um solo, uma cadência de cavalgada, um solo final. Curioso ver as diferenças entre as platéias do mundo conforme a turnê e o documentário avançam. Da organização dos fãs do Japão aos delírio dos fãs latinos, cada show é um show. O Brasil, infelizmente, é visto com um certo folclore, quando entrevistam um "padre" que tem mais de cem tatuagens da banda pelo corpo, mas o empresário está certo quando diz que Iron Maiden por aqui é "religião". A banda vem com frequência e toca sempre para platéias lotadas, que cantam cada nota.
O filme se torna um pouco repetitivo pois a banda, em sua vontade de agradar as platéias, mostra praticamente todas as cidades por onde passaram. Mas é um retrato interessante do funcionamento de uma banda de rock em plena atividade.
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