domingo, 22 de março de 2009

Madame Butterfly

Hoje pude conferir a exibição digital de Madame Butterfly no cinema. O evento é parte de uma nova tendência mundial, o uso das salas de cinema para exibir não apenas filmes "tradicionais", mas também shows musicais e óperas. Organizado no Brasil pela Moviemobz, uma série de óperas da Metropolitan Opera de Nora York será exibida em formato digital de alta definição. Nos Estados Unidos, estas projeções são transmitidas ao vivo e em alta definição de Nova Yorke para vários cinemas país afora. Em Campinas, os cines Topázio e Box Cinemas fazem parte do grupo que exibe as óperas do Metropolitan. Resta saber se a idéia vai vingar. Assisti à ópera no Box Cinemas, no Campinas Shopping, conhecido por ser um shopping "popular" e longe do centro da cidade. Um total de 17 pessoas (dos 120 lugares da sala) assistiu à projeção, na maioria pessoas da terceira idade, descendentes de japonês (sem dúvida pelo tema da ópera) ou então ligados ao mundo da música.

De fato, não é um programa popular. Com ingressos custando trinta reais e duração de três horas, imagino que a platéia frequentadora de multiplexes não seja muito interessada em ópera. De minha parte, que gosto de música clássica mas não sou realmente fã de óperas, estava interessado nos aspectos técnicos de projeção digital e curioso sobre como seria assistir à uma ópera no cinema. Posso dizer que foi uma experiência compensadora.

Madame Butterfly é a mais famosa ópera do italiano Giacomo Puccini (1858-1924). A trágica história de amor entre uma geixa japonesa e um oficial da marinha americana fascinou Puccini quando este a viu em Nova York e decidiu transformá-la em sua próxima ópera. O resultado é uma interessante mistura entre o melodrama da ópera italiana com a cultura japonesa (muito ligada à morte). De quebra, a ópera ainda toca no tema da colonização e exploração cultural americana sobre o fechado Japão tradicional. A versão apresentada no filme é a montagem produzida pelo cineasta Anthony Minghella (que faleceu em 2008) e coreografada por sua esposa, Carolyn Choa. Em um cenário simples mas muito bonito visualmente, Minghella utiliza biombos japoneses para montar ambientes e explora outras características da cultura japonesa, como as roupas coloridas, o modo ritualizado de se portar e recursos como a movimentação de bonecos por manipuladores vestidos de preto. A música de Puccini faz habilidoso uso do hino nacional americano e de temas tradicionais japoneses. Composta por três atos, no primeiro somos apresentados aos personagens do Tenente B.F. Pinkerton (interpretado por Marcello Giordani) e do cônsul americano Sharpless (Dwayne Croft). Eles estão em Nagazaki e Pinkerton alugou uma casa. Pinkerton vai se casar com uma jovem geixa chamada "Butterfly" (interpretada por Patricia Racette), mas ele diz ao cônsul que um dia vai se casar "de verdade" com uma americana. Butterfly abre mão da sua cultura e religião e é deserdada pela família. No segundo ato Pinkerton partiu já há três anos mas Butterfly ainda mantém a fidelidade e a esperança de que ele volte. Outros pretendentes tentam conquistá-la e o cônsul americano tenta fazê-la ver a verdade, mas Butterfly acredita na volta de Pinkerton. É no segundo ato que ela canta a ária mais conhecida e bela da ópera, "Un bel di vedremo". Também no segundo ato se revela que ela teve um filho com Pinkerton, que nesta montagem é "interpretado" por um boneco manipulado. O terceiro ato é o trágico final da ópera, quando Pinkerton volta com uma esposa americana, Butterfly lhe dá o filho e, em clássico final de ópera, se mata seguindo o ritual japonês.

A qualidade da imagem em alta definição é realmente impressionante, com cores espetaculares. Sobre assistir a uma ópera no cinema, há o problema da tradução de um meio para o outro. O uso do "close-up", por exemplo, é o oposto completo da experiência teatral, e em alguns momentos achei que a proximidade da câmera atrapalhava. Coisas que são aceitáveis em uma ópera ficam um pouco estranhas no cinema, como o elenco, por exemplo. Em um teatro talvez a platéia não se importe que uma mulher com mais de 30 anos interprete uma geixa japonesa de 15 anos, mas no cinema não. Assim como, de perto, fica estranho ver um italiano legítimo interpretando um tenente americano. Mas esta estranheza dura apenas os primeiros minutos, antes que você acabe "embarcando" na ópera



veja Patricia Racette cantando uma ária de Madame Butterfly

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