Um aviso ao leitor: é praticamente impossível comentar sobre o filme sem revelar alguns pontos importantes da trama. Assim, deixo avisado: caso não tenha visto o filme ainda, evite ler o texto. Há dois ou três "filmes" dentro de "O Leitor". A primeira parte se passa alguns anos depois do final da II Guerra Mundial, na Alemanha, e acompanha um romance entre um rapaz de 15 anos e uma mulher mais velha. Ele é Michael Berg (David Kross), um rapaz que passa mal dentro de um ônibus e é ajudado pela cobradora, Hanna Schmitz (Kate Winslet), que cuida dele e o leva para casa. Após passar três meses de cama, o rapaz volta para a casa de Hanna e os dois começam um romance que, no início, parece ser apenas carnal. Kate Winslet, além de ter se tornado uma grande atriz com o passar dos anos, é sem dúvida uma das atrizes mais corajosas e naturais quando se trata de cenas de nudez e sexo no "púdico" cinema americano atual. Seu retrato de Hanna é interessante e misterioso. Hanna é uma mulher aparentemente fria e prática, mas há algo de maternal e amoroso em seu interesse por Michael. Os dois se relacionam sexualmente praticamente todos os dias, mas um outro "ritual" se cria: Hanna gosta que Michael leia para ela os livros que estuda na escola. É interessante ver, no mundo de hoje, um filme que se preste a homenagear os livros desta forma. Hanna e Michael formam um laço que mistura literatura com sexualidade, um dando ao outro novos horizontes com o passar dos dias. Há uma cena muito boa entre David Kross e Kate Winslet quando, após uma briga, o rapaz faz a ela uma série de perguntas simples, mas importantes. Winslet não fala nada, mas vejam com que sutileza ela responde com pequenos movimentos da cabeça fazendo "sim" e "não".
Esta primeira parte, ensolarada e romântica, dá lugar à uma segunda passada quase toda em um tribunal. Michael, mais velho, é um estudante de Direito que vai acompanhar o julgamento de algumas mulheres acusadas de cumplicidade em assassinatos praticados pelo nazismo. Para sua grande surpresa, uma delas é Hanna, que ele não via há anos. Durante o julgamento, a culpa dela vai se tornando cada vez mais evidente. Só que um "segredo" dela também começa a se revelar para Michael, e ele se vê na oportunidade de ajudá-la, mas ele hesita. Há nesta hesitação algo do comportamento alemão durante a guerra, e da culpa de um povo que, mesmo sabendo das barbáries cometidas pelos nazistas, geralmente se mantinha calado e conivente. Hanna sem dúvida é culpada de muitas coisas das quais é acusada, mas o que a teria levado a fazer o que fez? O professor de Direito de Michael diz que os ser humano acha que o mundo é governado pela moral quando, na verdade, ele é governado pelas leis. É perfeitamente possível fazer algo legal que seja imoral, e vice-versa. Todas estas questões são levantadas nesta segunda parte do filme pelo diretor Stephen Daldry (de Billy Elliot e As Horas).
E há a parte do filme dedicada ao Michael de meia idade, interpretado por Ralph Fiennes. Estes segmentos passados em um tempo mais recente são irregulares, variando de fracos a ótimos. Por vários momentos se tem a impressão que o filme vai terminar, mas ele se estende um pouco além da conta. "O Leitor" está entre os concorrentes a Melhor Filme no próximo Oscar, e sem dúvida é um candidato de respeito. É uma produção caprichada, com destaque para a reconstituição de época e pela bela fotografia de Chris Menges e o incansável Roger Deakins (que também fotografou "Foi apenas um sonho" e "Dúvida").
3 comentários:
Boa crítica!
Valeu, obrigado!
nao acredito que vou ter que esperar para ler!!!!hunffff, assim nao vale!rsrsrsrss
Pensei que ja tivesse te linkado... bom, agora ta!
bjins
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