segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Foi apenas um sonho

Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) trabalha como um executivo em uma empresa em Nova York. É 1955 e os americanos vivem o pós-guerra. Frank não gosta do emprego, mas é o que mantém a ele, sua esposa April (Kate Winslet) e um casal de filhos em uma bela casa no subúrbio. No dia do seu aniversário de 30 anos, ele leva uma secretária para almoçar, desabafa seus problemas e, depois de beberem muito, transam no apartamento dela. Ao chegar em casa, a esposa e os filhos o aguardam para uma festa surpresa de aniversário. A cena do parabéns, aliás, é uma das poucas em que as crianças são vistas. Pelo resto do filme, muito se fala mas pouco se vê dos filhos.

"Foi apenas um Sonho" é o título brasileiro bobo e óbvio para "Revolutionary Road", o mais recente filme de Sam Mendes. Ele fecha o que podemos chamar de "trilogia do desespero" da classe média americana, formada pelos filmes "Beleza Americana" (do próprio Sam Mendes, de 1999) e "Pecados Íntimos" (de Todd Field, 2006), também estrelado por Kate Winslet. Mas não fecha com chave de ouro. Há algo de muito frio e calculado no filme de Mendes que transforma mais em um exercício de observação do que de empatia.

Após a festa de aniversário, April surpreende o marido com uma proposta: por que eles não vendem a casa, empacotam tudo e vão morar em Paris? Ela sabe que ele não é feliz no emprego e gostaria que ele tivesse tempo livre para poder "descobrir sua vocação". Como eles iriam sobreviver? O salário dela como secretária em uma agência do governo seria suficiente para sustentar a família, visto que o custo de vida de Paris (em 1955) era barato. A princípio Frank acha que ela não está sendo prática, mas acaba aceitando a idéia. De repente, a idéia de Paris e de largar tudo dá nova vida ao casal. Eles ficam mais próximos e surpreendem os vizinhos e colegas de trabalho com o anúncio de mudança de vida. No trabalho, quase que sem querer, Frank faz uma sugestão à matriz que é considerada revolucionária e, ironicamente, recebe uma proposta de promoção e aumento de salário. "Imagino a cara que eles fizeram quando você disse que está abandonando a empresa", brinca April.

Claro que a idéia de Paris funciona mais como uma fantasia do que como algo concreto. E o filme funciona ao expor os preconceitos da época, principalmente quando se comenta que seria a esposa a sustentar a família. Há também um personagem interessante interpretado por Michael Shannon, que faz um antigo interno de um hospital psiquiátrico. Ele visita os Wheelers acompanhado da mãe (Kathy Bates), que foi a corretora que lhes vendeu a casa, e do pai. Ao saber dos planos de se mudar para Paris, o rapaz parece ser o único a entender o casal. Só que Frank não está mais tão certo de sua decisão. A proposta de promoção e aumento de salário é tentadora. Eles não poderiam ser felizes nos Estados Unidos mesmo? Para complicar, April descobre que está grávida de 10 semanas e começa a imaginar se não seria melhor abortar.

"Foi apenas um sonho" funciona melhor em sua primeira metade. O filme decai mais para o final. O roteiro é por demais teatral e direto, principalmente nas constantes brigas do casal, com muitos diálogos didáticos e expositivos. As crianças aparecem e desaparecem conforme a necessidade do roteiro, e "babás" são citadas a todo momento, mas nunca são vistas. Mas é um filme bem feito e bem interpretado, principalmente por Kate Winslet. Ela e DiCaprio repetem o par romântico de "Titanic", pouco mais de dez anos depois. Com o perdão do trocadilho, "Foi apenas um sonho" é bom, mas frio como um iceberg.


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