Este é o primeiro longa-metragem dirigido por Hayao Miyazaki, o mestre japonês da animação. O DVD foi lançado no Brasil (coisa rara para um longa de Miyazaki) este ano pela Focus Filmes. Miyazaki se tornou mais conhecido no ocidente depois que ganhou o Oscar de Melhor Animação com "A viagem de Chihiro" (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001), mas já era cultuado no Japão e mundo afora há anos. "Cagliostro" já mostra algumas características que seriam vistas depois em seus longas metragens no Estúdio Ghibli.
O roteiro acompanha um ladrão boa pinta chamado Lupin III (Lupin Terceiro, ou Lupin Neto) que salva a vida de uma princesa, apenas para vê-la ser seqüestrada novamente por vilões não identificados. Na fuga, a princesa deixa para trás um misterioso anel. Lupin e um companheiro de aventuras vão até o país de Cagliostro atrás da origem de umas notas falsificadas e para tentar salvar a princesa. A trama é complicada e envolve um conde falsário, uma espiã que pode ser tanto aliada quanto inimiga de Lupin, um personagem misterioso que parece um samurai e vários guardas com garras mortais. O personagem Arséne Lupin foi criado por Maurice Leblanc no início do século XX, sendo contemporâneo do Sherlock Holmes de Arthur Conan Doyle. O que um personagem francês do início do século XX está fazendo em um filme animado japonês feito em 1979?
A animação japonesa (e a cultura japonesa em geral, na verdade) tem a característica de se apropriar da cultura estrangeira, lhe dar uma roupagem nova, bem japonesa, e colocar de volta no mundo. É frequente a influência européia nas animações de Hayao Miyazaki; mesmo que, no fundo, elas permaneçam inequivocadamente japonesas. Em "Láputa, Castelo no Céu" (Tenkuu no Shiro Laputa, 1986), por exemplo, Miyazaki pegou "emprestada" a cidade flutuante de "Láputa", criada por Jonathan Swift em "As Viagens de Gulliver", para criar sua própria cidade aérea. O personagem principal de "O Castelo de Cagliostro", Lupin Terceiro, foi protagonista de duas séries animadas da televisão japonesa (a primeira co-dirigida pelo próprio Miyazaki em 1971) e um longa metragem. A influência de Miyazaki pode ser notada em vários momentos do filme. Seu amor por máquinas (principalmente máquinas voadoras) pode ser visto no helicóptero que o vilão usa para chegar ao castelo. As engrenagens do relógio da torre também lembram muito o estilo que Miyazaki usaria em "Láputa" ou "Naushika" ("Naushika do Vale do Vento" é a obra prima de Hayao Miyazaki, produzido em 1984). Há uma longa seqüência de perseguição entre estas engrenagens que é sem dúvida um feito para a animação da época, toda feita à mão e sem o uso de computadores. O DVD contém uma entrevista muito interessante com o diretor de animação do filme, Yasuo Ohtsuka. Ele conta que o filme foi produzido em apenas quatro meses e meio, com os animadores trabalhando dia e noite. Ele diz que hoje isso seria impossível, pois é tudo muito mais "fácil" e "rico". Ohtsuka diz que da "pobreza" se tira muito mais criatividade.
Hoje em dia, felizmente, é relativamente fácil encontrar os filmes de Hayao Miyazaki. A internet é boa fonte para os interessados (é possível inclusive baixar os filmes com legendas feitas por fãs). Tive contato com os filmes de Miyazaki nos anos 90, na biblioteca da Fundação Japão, em São Paulo, onde assistia avidamente às fitas VHS, sem legendas ou tradução. Oficialmente é possível adquirir os DVDs de "A Viagem de Chihiro", "O Castelo Animado" e este "O Castelo de Cagliostro". A Disney detém os direitos de distribuição mundial dos outros filmes do Estúdio Ghibli. Há quem diga que o estúdio americano não está muito interessado na divulgação destes filmes. Para quem não conhece o trabalho de Miyazaki ainda, "Cagliostro" (muito mais leve que Chihiro, por exemplo) pode ser uma boa porta de entrada.
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