segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Última Parada 174

O desfecho de "Última Parada 174" todo mundo já conhece. Em julho de 2000, com toda a imprensa acompanhando ao vivo, um jovem chamado Sandro Nascimento estava dentro de um ônibus da linha 174. Ele estava de revólver em punho e mantinha vários reféns. Após horas de negociações, e já fora do ônibus, um policial do Bope tentou atirar nele, errou o alvo e matou a refém que Sandro segurava. A refém morreu e Sandro, levado a uma viatura, morreu oficialmente por "asfixia". O caso interessou o cineasta José Padilha, que realizou um bom documentário, "Ônibus 174". Mais tarde, Padilha resolveu mostrar o outro lado da moeda e quis fazer um filme sob o ponto de vista dos policiais. O resultado foi o polêmico "Tropa de Elite".

Parecia que nada mais poderia ser feito a partir desta história, mas Bruno Barreto, diretor brasileiro que há anos estava radicado nos Estados Unidos, resolveu fazer um filme de ficção baseado no episódio. O resultado é interessante. O foco do filme, curiosamente, não é o sequestro nem o final trágico, mas sim a história da vida de Sandro (Michel Gomes) e de um outro rapaz da mesma idade e um nome parecido, Alessandro (Marcello Melo Jr), que foi tirado da mãe quando bebê e criado pelo pai traficante. Sandro vê a mãe ser assassinada por um assaltante e vai morar com uma tia. Mas ele não consegue se adaptar à família e se torna um morador de rua. Ele passa seus dias cheirando cola e praticando pequenos delitos no Rio de Janeiro. Em um lance de sorte, ele escapa da famosa chacina da Candelária, quando vários menores de rua foram assassinados a sangue frio. O destino faz com que ele seja enviado para a mesma prisão em que Alessandro está, e os dois formam uma aliança.

O filme acompanha também a vida de Marisa, a mãe de Alessandro, que nunca se esqueceu do filho que lhe foi tirado das mãos pelo pai traficante. Ela se torna evangélica e, ao assistir uma matéria na televisão sobre a Candelária, acredita ter achado seu filho. O roteiro faz um jogo interessante entre estes dois adolescentes que perderam a mãe e esta mulher em busca do filho (ou de uma figura que possa substituí-lo). O espectador sabe que o filho verdadeiro de Marisa é Alessandro, mas ela acredita que seu filho é Sandro que, precisando de um lugar para ficar (e de uma mãe), acaba se passando por filho dela.

Tudo isso já daria um filme bastante interessante e, a bem da verdade, você até se esquece do sequestro até perto do final, quando Sandro, rejeitado pelo amigo, pela namorada e pela mãe adotiva, gasta seu dinheiro em cocaína e vai parar dentro do Ônibus 174. A polícia é avisada por um passageiro que há um homem armado dentro do ônibus e o cerco é levantado. O resto já é de conhecimento geral, mas Bruno Barreto não se preocupou em ser muito fiel aos eventos reais. Há um detalhe no elenco que me desagradou. Interpretando o negociador do Bope que tenta tirar Sandro do ônibus está ninguém menos que André Ramiro, o ator que interpretou o policial Matias em "Tropa de Elite". Vestindo o uniforme negro com a caveira, Ramiro parece literalmente saído do outro filme para aparecer neste, e o resultado é confuso. Seria uma piada de Bruno Barreto? Ou uma crítica ao resultado da operação?

Também não deixa de ser irônica (e trágica) a coincidência de que o lançamento de "Última Parada 174" se deu apenas alguns dias depois do final de outro sequestro que mexeu com a opinião pública e que resultou na morte de uma refém, em Santo André, São Paulo. Não tenho a menor dúvida de que, em pouco tempo, teremos um filme a respeito. "Última Parada 174" foi o escolhido brasileiro para tentar concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano que vem, em Los Angeles. O roteiro é do craque Bráulio Mantovani (Cidade de Deus), a fotografia do francês Antoine Heberlé e a bela trilha sonora é de Marcelo Zarvos.

3 comentários:

Unknown disse...

João..
muito bom essa análise do filme, ou esse relato do filme

Há momentos da história brasileira que não sabemos se estamos diante da realizade ou de uma grande tela de cinema, na qualfazemos parte.

A conincidencia quanto ao lançamento durante o o utro episódio de sequestro no Brasil pode existir. Mas com certeza esse fato levou muita gente ao cinema...

té mais
fachini

João Solimeo disse...

Pois é, Fachini, é bem possível que muita gente tenha ido ver o filme por causa do tal sequestro e morte da Eloá em Sto. André. Eu costumo ver filmes brasileiros, e confesso que fiquei surpreso com a quantidade de gente que havia na sala, em dia normal, pagando preço caro pra ver o filme no cinema.

Abs

meu filho disse...

Ouvia falar da polemica do filme,e quando tiver oportunidade de ver fiquei chocada, chorei em algumas partes, fiquei imaginando a vida destes meninos, esta e o tipo de historia que de alguma forma mexe com o sentimento da gente falo por que mexeu muito com o meu, este filme deveria ter ganhado OSCAR, precisamos de filmes assim para as pessoas verem como e de fato a vida nas ruas, tentarem enteder o que se passa na cabeça destas crianças que vivem nas ruas, sei que eles não tem nada a perder simplismente estão vivendo como animais na selva tentando sobreviver com que tem, so que esta selva se modifou e virou cidade urbana, e muito facil pra gente criticar falar que eles são uns deliquentes,temos medo ate de passar por perto,se um de nós vivermos pelo menos um mês como eles vivem pensariamos de maneira diferente pois,sempre tivemos tudo,roupa limpa, comida na hora que queremos, um teto onde morar com conforto, estou muito emocionada, com esta historia gostaria de saber o desfecho da vida de alessandro o que aconteceu depois do enterro de sandro, o que aconteceu quando acabou o filme, se esta morto, se descobriu que marisa e sua mãe, em que ele se transformou de fato.