Ótima dica para quem quer saber mais sobre a história do Cinema é este livro do crítico Luis Carlos Merten (O Estado de S. Paulo). Em "Entre a Realidade e o Artifício", Merten narra a tragetória da que viria a ser chamada de "a arte do século XX", que teve seu início em dezembro de 1885, em Paris, com a exibição dos irmãos Lumiére. O livro é didático sem ser técnico ou tedioso. Fica clara a paixão de Merten pelo assunto enquanto discorre sobre as várias fases do cinema, dos filmes mudos à revolução (?) digital pela qual estamos passando atualmente. O livro se inicia e termina com questão lançada pelo teórico francês André Bazin: "O que é o cinema, afinal?". Seria apenas entretenimento? Seria arte? Um filme feito em digital ainda é um "filme", ou é um "video"? Escrito em 2003, Merten questiona qual teria sido a melhor interpretação do ano de 2002: a resposta, um personagem que não existe, "interpretado" por pelos pixels digitais que formam a criatura "Gollun", de "O Senhor dos Anéis".
Mas as questões técnicas ficam em segundo plano. O livro é escrito em capítulos que procuram englobar certos diretores ou tendências cinematográficas, como o trabalho pioneiro e revolucionário do americano D.W. Griffith ou do russo Einsentein; o lado social do Neorrealismo Italiano; a genialidade de Orson Welles (criador do filme que é considerado o melhor de todos os tempos, "Cidadão Kane"); o suspense de Hitchcock; a revolução francesa da nouvelle vague, os westerns de John Ford; a estética de Glauber Rocha, e assim por diante.
Merten não se limita a citar datas e fatos. Ele faz verdadeiras análises de literalmente centenas de filmes e os compara à outra centena, comentando o estilo dos diretores, a contribuição dos atores e referências extra cinema bastante eruditas e bem informadas. Exercício interessante seria anotar todos os filmes citados por Merten no livro e separar, talvez, um ano (ininterrupto) para vê-los. É uma lista para deixar qualquer cinéfilo nas nuvens. Interessante comentar que Merten não fala apenas dos diretores mais óbvios, nem mesmo só de seus filmes mais conhecidos. No capítulo sobre Hitchcock, por exemplo, o esperado seria ler análises de seus filmes com James Stewart (a "trilogia" "Janela Indiscreta" (1954), "O Homem que Sabia Demais" (1956) e "Um Corpo que Cai" (1958) ), mas Merten prefere falar sobre o obscuro "Marnie, Confissões de uma Ladra" (1964), "Os Pássaros" (1963) e "Psicose" (1960, este sim, muito popular e influente).
Os últimos capítulos são dedicados à maravilhosa filmografia de Kieslowski ("Abrir-se para os outros significa criar laços que restringem nossa liberdade", diz Merten sobre "A Liberdade é Azul"), ao cinema iraniano e às experimentações com o plano sequência (como no filme de um só plano, "Arca Russa"), o fenômeno Quentin Tarantino (e sua eventual decadência) e as tendências para o futuro. Merten finaliza dizendo "o cinema ainda é uma arte criança. Um mundo imenso e complexo abre-se diante dele. Que nos traga filmes tão belos como aos que assistimos até aqui".
Livro: Cinema - Entre a Realidade e o Artifício
Editora Artes e Ofícios, 246 páginas.
Um comentário:
Gostei do artigo, me fez querer ler o livro. :))
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