A moça do tempo Gabrielle Deneige (Ludivine Sagnier) é tão bela, jovem e inocente que não passa um dia sem receber alguma proposta indecorosa das pessoas com quem ela trabalha. O diretor da TV quer levá-la para jantar para conhecer algumas pessoas supostamente importantes para a carreira dela. Um velho e consagrado escritor, Charles Saint-Denis (François Berléand), que vai fazer uma entrevista na televisão, bate os olhos nela e fica interessado. Sua beleza também atrai a atenção de Paul Gaudens (Benoit Magimel), herdeiro rico e mimado de um laboratório farmacêutico. A mãe de Gabrielle é dona de uma livraria onde Charles vai fazer uma tarde de autógrafos, e é lá que ele a convida para sair no sábado seguinte. Paul Gaudens também comparece ao evento e também convida a garota para sair. O escritor é considerado um "bon vivant", um homem bem sucedido, casado com uma mulher que ele chama de "santa" (simplesmente porque ela faz vista grossa a suas traições) e que tem uma linda e madura assessora de imprensa chamada Capucine (Mathilda May). Ele vive em uma daquelas casas cheias de paredes de vidro no interior, onde escreve seus livros, mas mantém um apartamento na cidade, para onde leva suas amantes. É para lá que ele leva Grabrielle após ter passado a tarde com ela em um leilão de livros antigos. "Você pensa que sou idiota?" ela lhe pergunta, pouco antes de se entregar para ele. Consumado o ato, Charles a repele. Ela fica então à mercê das investidas do jovem e mimado Paul Gaudens.
"Uma garota divivida em dois" é um filme do veterano diretor francês Claude Chabrol, que já está com 78 anos, e que faz cinema desde os anos 1950. Chabrol dirige com classe, com elenco afinado. O roteiro é bem "europeu" (isto é, adulto), e lida com este triângulo amoroso de forma por vezes chocante. Nenhum dos personagens atrai muita simpatia da platéia (a não ser, talvez, a garota), e o filme expõe suas fraquezas, desejos e mesmo seus desvios. O velho escritor é mostrado como um homem realista ao ponto do cinismo ou da hipocrisia. Ele trata Gabrielle como um troféu por ele conquistado e usa frequentemente a palavra "amor", mas a trata como um fetiche sexual. A garota, por seu lado, ainda tem fantasias a respeito de romance e de afeição, mas também não quer parecer uma inexperiente ao lado do parceiro com idade para ser seu avô, e pede que Charles "lhe ensine". Já Paul é um jovem mimado que nunca teve que trabalhar um dia na vida e que vive na sombra do que foi seu pai e sob a tutela severa da mãe. Gabrielle, para ele, representa aquilo que o dinheiro não pode comprar. Ela a princípio repele suas investidas, mas diante dos problemas com Charles, ela começa a ceder. Mas será que Paul está preparado para lidar com ela?
O filme corre o risco de se tornar enfadonho quando um crime inesperado dá uma reviravolta na história e joga a personagem de Gabrielle em outro turbilhão de problemas. Estranhei um pouco o modo como Chabrol corta seu filme. Há sequências pouco interessantes que se arrastam desnecessariamente (como uma conversa entre a mãe de Gabrielle e um tio). Em outras sequências, Chabrol corta a cena justo no momento em que se espera algum tipo de reação importante dos personagens. O filme é um tanto frio e os personagens pouco simpáticos, mas há bons momentos e diálogos inteligentes. E o final, apesar de um pouco literal, é muito bom.
2 comentários:
esse é outro que pretendo ver se não sair de cartaz logo como "um crime americano".
é sempre bacana pagar pra ver disputas amorosas, já que a vida real é ... bom... real demais. rs
bjão João!
No cinema é mais seguro, hehe...
bjo
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