terça-feira, 30 de setembro de 2008
A Missão
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Uma garota dividida em dois
domingo, 28 de setembro de 2008
Linha de Montagem
Quem assistiu “Peões”, de Eduardo Coutinho, conhece uma das histórias associadas a este filme. Feito pelo Sindicato dos Metalúrgicos, em plena ditadura militar, o filme quase foi tomado pelos militares durante sua primeira exibição. O filme foi “contrabandeado” para fora do sindicato dentro da bolsa de uma faxineira, enquanto os militares procuravam por ele. Os anos se passaram e o negativo original se deteriorou e quase que o documentário se perde novamente. O trabalho de restauração, feito com dinheiro da Petrobrás, foi minucioso e teve de ser feito praticamente quadro a quadro da cópia original.
Não é um documentário isento. Produzido pelo Sindicato dos Metalúrgicos, em alguns momentos tem-se a sensação de se estar assistindo a um institucional O filme mostra depoimentos filmados no sindicato de seus vários diretores e do próprio Lula, explicando sua visão dos anos anteriores e das greves que comandou. O lado mais “cinema verdade” acontece quando a câmera sai às ruas e acompanha os manifestantes em assembléias gigantescas no ginásio de futebol de São Bernardo, em que mais de 100 mil trabalhadores se reuniam para decidir os rumos do movimento grevista, ou nos fundos da Igreja de São Bernardo, para onde a diretoria do sindicato se mudou quando a sede foi tomada pelo governo.
Na greve de 1979, vemos Lula comandando a multidão e citando uma trégua de 45 dias proposta pelos empresários, que é rejeitada. Lula é preso e retorna alguns dias depois para a assembléia sugerindo que o acordo seja feito. Durante estes 45 dias, o acordo dizia que as empresas não demitiriam nenhum funcionário, mas a Equipamentos Villares demite mais de 300 deles, o que causa uma pequena greve que dura apenas dois dias, sem resultados. Segundo um dos sindicalistas, foi “falta de politização” dos trabalhadores. A força de Lula em seus discursos e como condutor da massa de trabalhadores é de impressionar. Acabados os 45 dias, os trabalhadores voltam à Assembléia sedentos por greve, e são surpreendidos pela recomendação contrária de Lula. Por um momento imagina-se que a massa vai se rebelar, mas não demora muito e estão todos gritando o nome de Lula a todos pulmões e concordando com ele. Dois dias depois, o sindicato é reaberto.
O ponto chave, na verdade, é este. Até que ponto os movimentos grevistas tinham como fim os interesses mais imediatos dos trabalhadores, como o aumento de salários, ou, na verdade, almejavam aumentar a força do Sindicato dos Metalúrgicos? Um dos manifestantes, em dado momento, se vira diretamente para a câmera e diz que o movimento "não é político, é apenas reivindicatório". Mas o próprio Lula, no final do filme, diz que o maior resultado das greves foi a conscientização política dos trabalhadores. E que esta força política fez com que um novo rumo fosse dado ao movimento em direção da criação de um partido político: nascia o Partido dos Trabalhadores. Lula, em 1982, diz que o resultado disso só seria visto dentro de alguns anos. Vinte anos depois, ele assumiria a Presidência da República.
Cinematograficamente falando, o filme é muito bem feito, com destaque para a edição de Roberto Gervitz, que seria depois diretor de filmes como Feliz Ano Velho e Jogo Subterrâneo. Sua montagem mostra ações paralelas como um show no primeiro de maio para arrecadar dinheiro para o "fundo de greve", com imagens do jornal do sindicato sendo impresso. A trilha sonora contou com a colaboração de Chico Buarque, que canta a música tema. O relançamento de Linha de Montagem é uma viagem no tempo interessante, que pode ser complementada com o documentário "Peões", vinte anos depois, para checar os resultados.
sábado, 27 de setembro de 2008
Morre Paul Newman
Newman foi indicado ao Oscar de Melhor Ator diversas vezes, mas só levou em 1986 com "A Cor do Dinheiro", de Martin Scorsese. Newman interpretava Eddie Felson, papel que já havia vivido antes, em 1961, no filme "Desafio à Corrupção". Em "A Cor do Dinheiro", Newman é um vendedor de bebidas de segunda classe que fica impressionado com um jovem jogador de sinuca vivido por Tom Cruise. Ele se oferece para empresariar o jovem e sai Estados Unidos afora com Cruise e sua bela namorada (Mary Elisabeth Mastrantonio). Paul Newman havia completado 60 anos e era considerado um ator em decadência quando o filme saiu. O Oscar colocou o ator de volta no mercado e ainda gerou grandes interpretações como em "A Roda da Fortuna" (The Hudsucker Proxy,1994, dos irmãos Coen), ou "Estrada para a Perdição" (Road to Perdition, 2002, Sam Mendes). Uma de suas melhores interpretações, em minha opinião, foi em "O Veredito" (The Veredict, 1982, de Sydney Lumet), em que interpreta um advogado decadente e alcoólatra que é contratado para defender uma paciente vítiva de erro médico. Com elenco formado por atores como o grande James Mason e Charlotte Rampling, Neswman está estraordinário e vale o filme.
Casado com a atriz Joanne Woodward por mais de 40 anos, Newman também se interessava por corridas de carro (teve uma equipe de fórmula Indy) e tinha importante trabalho filantrópico, com uma linha de alimentos com seu nome cuja venda era revertida totalmente à obras de caridade. Ator que conseguiu prevalecer por várias fases do cinema, que trabalhou com grandes diretores como Alfred Hitchcock, Sidney Lumet, Robert Altman e Martin Scorsese, além de inúmeros outros, Newman fará falta por sua brilhante interpretação e por seu trabalho humanitário. Descanse em paz.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Meu irmão é filho único
Com direção de Daniele Luchetti, o filme é sempre muito colorido, exagerado e italiano. As mudanças ideológicas pelas quais Accio passa representam o modo passional com que os italianos lidam com a política. Accio entra de cabeça nas atividades dos fascistas, que consistiam basicamente em atrapalhar os comunistas e prestar honras a Mussolini. Mas aos poucos as atividades do grupo vão se tornando cada vez mais sérias e perigosas e Accio começa a ter dúvidas sobre o grupo. Fica patente que ele está apaixonado pela namorada do irmão, Francesca, e as discussões políticas entre os dois, no fundo, escondem uma vontade grande de estarem juntos. Accio abandona o grupo dos fascistas apenas para começar um caso com a esposa de seu ex-companheiro, Mario.
Tudo parece leve e inconseqüente, mas com o tempo as coisas ficam mais complicadas principalmente para o irmão mais velhos de Accio, Manrico, que aparentemente está envolvido em atentados terroristas promovidos pelos comunistas. Quanto a Accio, há uma cena em que o próprio comenta que as revoluções de 1968 varreram o mundo todo, menos a pequena cidade de Latina, onde ele se encontrava. Não demora muito, porém, que os problemas do irmão cheguem até ele, que tem que decidir se vai se envolver ou não.
Um filme vibrante e divertido, com uma energia que, por vezes, lembra os bons tempos do velho cinema italiano.
domingo, 21 de setembro de 2008
Lemon Tree
Baseado em fatos reais (o roteirista/diretor israelense Eran Riklis estudou vários casos similares antes de se decidir por filmar este), o filme não tenta impor nenhuma opinião, apesar de sentirmos empatia maior pela personagem da viúva. O ministro da defesa israelense é mostrado como um homem egocêntrico e mulherengo, mas a personagem de sua esposa, Mira, é cheia de nuances e profundidade. Bonita e inteligente, ela recebe as notícias do processo movido por sua vizinha com naturalidade. "Eu faria o mesmo", diz ela a um marido contrafeito. A cerca erguida entre a casa moderna israelense e o rudimentar pomar palestino, no fundo, é uma metáfora para o grande muro que Israel está construindo entre os dois países, por "razões de segurança", segundo a política oficial. Em uma região tão masculina e machista, é interessante ver como os dois grandes papéis femininos do filme, a viúva palestina e a esposa devotada israelense, lidam com a situação. Em diversas ocasiões as duas podem se ver através da cerca, e a sensação que dá é que se as duas apenas se sentassem para conversar o problema estaria terminado em minutos. Mas a política reina na região, com sua burocracia e entraves.
A viúva Salma, aos poucos, vai ganhando força também como mulher. Apesar da foto do marido morto ainda estar na sala, Salma vai recobrando sua feminilidade principalmente em seus encontros com o advogado Ziad, que também é um solitário que tem uma filha que gerou em Moscou. A aproximação entre os dois é mais platônica do que física, mas é o suficiente para a sociedade machista palestina enviar alguém avisar Salma de que ela poderia estar manchando a honra do marido.
Lemon Tree venceu o prêmio do júri popular no último Festival de Berlim e é uma ótima mistura de política, comédia e drama.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Piaf, um hino ao amor
A menina, de saúde frágil, se torna a "mascote" das prostitutas do local, especialmente de Titine (Emmanuelle Seigner, que estreou no cinema com Harrison Ford em "Busca Frenética", em 1988), que a trata como filha. Uma infecção na vista deixa a menina cega, mas uma peregrinação para rezar a Santa Tereza a cura "milagrosamente". O retorno do pai lança Edith novamente em uma vida nômade, se apresentando com ele pelas ruas de Paris, onde seu talento para o canto é descoberto. O dono de um cabaré, Louis Lepplé (Gerard Depardieu, sempre ótimo), vê Edith cantando, aos 20 anos de idade, e a lança na carreira artística, adotando o nome de "La Môme Piaf" (O pequeno pardal). O filme não é muito diferente da biografia cinematográfica tradicional: a vida de Piaf é retratada como uma série de grandes sucessos entrecortados por tragédias pessoais. O roteiro é um pouco caótico, cortando aparentemente a esmo entre diversas fases da vida da cantora, o que torna o entendimento da sua cronologia um pouco difícil. Há uma sucessão de datas e lugares aparecendo na tela, de Paris à Normandia e à Nova York, com Edith Piaf sendo retratada desde criança até sua morte prematura, aos 48 anos de idade (apesar de, visualmente, ela parecer ser muito mais velha). Senti falta de um aprofundamento maior em alguns pontos da vida dela. A II Guerra Mundial (1939-1945), por exemplo, não é sequer citada no filme, o que é muito estranho, pois ocorreu justamente quando a carreira de Piaf estava no auge. E o filme não foca o processo criativo da cantora, como a composição das canções que a tornaram um ícone da música francesa. Piaf é vista como uma garota de rua talentosa que conseguiu chegar ao sucesso através de sua voz.
Problemas de roteiro à parte, tecnicamente o filme é muito bem produzido. Há um plano-seqüência excepcional em que a câmera, sem cortes, acompanha Piaf andando por um grande apartamento de Nova York, enquanto imagina estar tendo uma conversa com seu amado, o boxeador Marcel Cerdan (Jean-Pierre Martins). Quando o empresário e amigos lhe comunicam uma tragédia, Cotillard passa da alegria para a descrença e chega ao desespero, tudo em frente à câmera que, continuamente, vai registrando todas estas emoções. O plano termina em uma cena em que Piaf passa magicamente do quarto para um teatro lotado, em que termina uma canção dramática. Esta seqüência, e a maravilhosa interpretação de Marion Cotillard, já valem o filme. O espectador pode ficar um pouco confuso com relação à vida da cantora, mas leva de presente suas canções. Visto no espaço CPFL Cultura, em Campinas, em projeção em 35mm. Disponível em DVD.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Richard Wright (1943-2008)
Em 1973, o Pink Floyd lançou sua obra prima, o disco "Dark Side of the Moon", um dos três discos mais vendidos na história. Muito se fala das letras (fantásticas) de Roger Waters, mas a presença de Wright, principalmente em conjunto vocal e musical com David Gilmour, é fundamental para o sucesso do disco, particularmente em "Time". Duas composições suas, "The Great Gig in the Sky" (com os vocais instrumentais de Clare Torry) e "Us and Them", fazem parte da alma do álbum. No disco seguinte, "Wish you were here" (1975), seus teclados são novamente fundamentais para a longa "Shine on you crazy diamond", homenagem a Syd Barrett.
Em 1979, após o disco "Animals" (de 1977, última vez que os quatro membros clássicos do grupo gravaram um disco juntos), vem o projeto pessoal de Roger Waters, "The Wall", sobre a separação que ele sentia entre a banda e a platéia. As gravações, por causa do perfeccionismo de Waters, foram difíceis para Wright, que não passava por um bom período e não concordava com a visão de Waters sobre a banda. Isso levou ao seu afastamento do Pink Floyd, embora ele tenha participado da turnê do "The Wall" como músico convidado.
Nos anos 1980, Waters deixou a banda e David Gilmour resolveu retomar os rumos musicais do grupo, chamando Wright de volta. Segue-se o disco "A Momentary Lapse of Reason" (1987) em que, a bem da verdade, Wright teve pouca participação nas gravações. Mas ele estava de volta ao grupo como tecladista na turnê que se seguiu ("The Delicate Sound of Thunder"), e sua presença foi fundamental para o som do grupo. O mesmo se deu no álbum seguinte (o último de estúdio do Pink Floyd), "The Division Bell" (1994), seguida da turnê "PULSE". Richard Wright lançou dois discos solo, o simpático "Wet Dream" (1978) e o pesado e conceitual "Broken China" (1996), que trata da depressão da sua esposa. Deste último destaco a faixa "Breakthrough", que conta com vocais de Sinead O´Connor.
Dos anos 1990 para cá, sua ligação com David Gilmour se estreitou cada vez mais. Os dois compuseram juntos a maioria das faixas do álbum "The Division Bell" e, já neste século, Wright foi colaborador freqüente nos projetos de Gilmour, como no disco solo "On an Island" (2006). Wright saiu em turnê com Gilmour e, segundo este diz em seu site, Wright sempre se surpreendia com a reação calorosa dos fãs. Os dois podem ser vistos juntos nos DVDs "David Gilmour in Concert" (2002) e "Remember that Night" (2007).
O site oficial do Pink Floyd publicou uma nota simples dizendo que a família de Wright lamenta informar que ele faleceu após uma “breve luta contra o câncer”. David Gilmour, em seu site oficial, diz que Wright era insubstituível, que o amava e vai sentir muito sua falta. Assim como, certamente, todos os fãs do Pink Floyd e de Richard Wright.
domingo, 14 de setembro de 2008
Ensaio sobre a Cegueira
Não li o livro de José Saramago, de modo que não posso julgar se o resultado é fiel ou não. Só sei que, como filme, ele tem problemas. A história básica é interessante: em uma cidade qualquer do mundo, pessoas começam a sofrer de uma estranha "cegueira branca", que é contagiosa e inexplicável. Os infectados são levados à uma espécie de "campo de prisioneiros" onde são trancafiados. Julianne Moore interpreta uma mulher que, apesar do marido ter sido infectado, ela não perde a visão. Mesmo assim, ela prefere acompanhar o marido para o "hospital" e é encarcerada junto. Praticamente todo o filme se passa dentro desta espécie de sanatório/prisão, em que os cegos são deixados em número cada vez maior, vigiados por soldados armados. O mundo em que se passa a história é ficcional. A cidade não é identificada (embora seja claramente São Paulo, em diversas cenas) e, curiosamente, os personagens não têm nome. Imagino que, no livro, isso não cause problemas, por ser uma alegoria de Saramago. Mas no cinema não funciona muito bem. Esta falta de identidade acaba provocando algo fatal para um filme: a falta de identificação do espectador. Meirelles, que é mestre em manter o ritmo de seus filmes sempre em alta, tropeça com um roteiro que, de repente, empaca e não sai do lugar.
O filme foi modificado várias vezes após sessões teste e mesmo após a exibição em Cannes, onde não foi bem recebido. O famoso editor e teórico de cinema Walter Murch, em seu livro "Num piscar de olhos", diz que se deve ter cuidado com os resultados de exibições teste. Ele diz que é como os sintomas de uma dor no cotovelo, por exemplo. Não adianta tratar o cotovelo, talvez a dor seja apenas um sintoma de um problema em outro lugar. Meirelles citou, em várias entrevistas, ter atenuado ou cortado as cenas de um estupro que acontece no hospital, mas creio que o problema não seja este. Não adianta modificar a cena do estupro, o problema é criar um ambiente para que esta cena faça algum sentido. Gabriel Garcia Bernal aparece no filme como um homem que tem uma arma e se intitula o "Rei da ala 3". Ele declara que todos têm que começar a pagar pela comida e, na falta de dinheiro, as mulheres devem pagar com seus corpos. Não faz muito sentido. De onde veio a arma? Como é que a "Ala 3" tem controle sobre a comida? Ela é entregue primeiro ali? Nada no roteiro indica isso. E há Julianne Moore, como a única pessoa que pode enxergar do lugar, e é construída pelo roteiro como uma mulher forte e decidida desde o início do filme. Por que ela se submeteria aos caprichos do personagem de Bernal? Mesmo assim, o filme a mostra guiando um grupo de mulheres que, como animais para o sacrifício, vão vender seus corpos em troca de comida. Por que? A tão falada cena de "estupro" se torna gratuita não só pela violência, mas por não fazer sentido. O filme tenta passar mensagens como a baixeza humana e a falta de solidariedade com o próximo, mas tudo soa artificial demais.
Há alguma melhora quando, de repente, os guardas desaparecem e Moore, seguida por Mark Ruffalo, Alice Braga e Danny Glover saem pelas ruas de São Paulo (que não é São Paulo, mas a cidade fictícia, com placas em inglês) em busca de comida. Cinematograficamente falando, há mais oportunidades para o filme acontecer. Mas, mesmo assim, fica a sensação de que um ótimo filme está para acontecer logo ali na esquina, mas Meirelles não vai até lá. Há uma cena passada em uma igreja, em que Julianne Moore entra e vê que todas as imagens estão vendadas, como se também estivessem cegas. Interessante, certo? Na cena seguinte, a "mágica" é quebrada por um diálogo desnecessário que tenta explicar quem teria colocado as vendas. O que importa?
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Perfume - A história de um assassino
Tykwer mostra uma Paris que realmente parece mal cheirosa, suja, com suas ruas enlameadas, o chão do mercado coberto por restos de peixe, vermes, verduras, excremento. É neste ambiente que o recém-nascido Jean-Baptiste é abandonado pela mãe logo depois do parto. Ele é encontrado e levado a um orfanato, onde logo se vê que ele não é uma criança normal. A edição do filme mostra em planos rápidos as coisas que o bebê consegue cheirar com seu senso de olfato fora do comum. Além das imagens e da ótima reconstituição de época, a música também é usada para conseguir transmitir o cheiro das coisas. Há uma ótima seqüência quando vemos a primeira vez que Jean-Baptiste, já crescido (interpretado por Ben Whishaw), vai parar nas ruas de Paris. É lá que ele descobre o cheiro mais maravilhoso que já sentiu, o do corpo de uma vendedora de frutas, que ele passa a seguir. Mesmo adulto, ele ainda é como uma criança crescida e curiosa, e a garota acaba se tornando, acidentalmente, sua primeira vítima. Mas aparentemente ele nem se dá conta do que aconteceu. A única coisa que importa para ele é cheirar todo o corpo da moça, da cabeça aos pés. É então que descobre seu propósito na vida: ele quer descobrir como preservar o cheiro das coisas.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Fernando Meirelles na Cultura
Patrulha da Montanha
domingo, 7 de setembro de 2008
Don LaFontaine
Ele tinha 68 anos e deixou milhares de trailers, como o de Terminator 2.
sábado, 6 de setembro de 2008
Linha de Passe
O tema da procura pela figura paterna também estava presente em "Central do Brasil", e aqui é bastante forte. Não sabemos quem são os pais dos filhos de Cleuza, nem do que está para nascer. O mais novo é quem está mais determinado a descobrir suas origens, e há ecos do seu personagem com o de Josué de "Central do Brasil", como a vontade de aprender a dirigir. A trama é linear e acompanha a trajetória destes cinco personagens, mãe e filhos, na luta para sobreviver e tentar melhorar de vida. Não é um tema fácil, mas achei que Salles e Thomas carregaram um pouco na mão. O início é muito bom. Uma montagem paralela estabelece a relação entre os personagens e as paixões típicas do brasileiro: futebol e fé. Dario é visto disputando uma seletiva para tentar ser escolhido para um time de futebol. Enquanto isso vemos sua mãe Cleuza em meio à gigantesca torcida corinthiana, no Morumbi, em um clássico contra o São Paulo. A montagem intercala planos dos jogadores profissionais com os de Dario jogando na várzea, com grande efeito. Também é interessante a ligação entre a fé dos torcedores misturada com cenas da fé de Dinho em um culto evangélico.
A direção de fotografia, de Mauro Pinheiro Jr, dá ao filme um tom semidocumental, com muita câmera na mão e iluminação natural. São Paulo é vista sempre com um visual "sujo" e sob chuva. A trilha "new age" é do oscarizado Gustavo Santaolalla. O roteiro (de Daniela Thomas e George Moura), nem sempre dá conta de acompanhar os personagens como deveria. O destino do motoboy, por exemplo, e sua transição para o crime, me pareceu um tanto simplista. O melhor desenvolvido é Dario, que representa o brasileiro comum, com muito talento, mas com falta de oportunidades para se desenvolver. Todos sabem que ele é um bom jogador de futebol, mas ele tem contra a idade (que já passou do ponto de corte dos clubes) e a falta de dinheiro para "molhar a mão" dos olheiros. Por um momento achei que o tom pesado do filme seria levado às últimas conseqüências, mas o final, em aberto, deixa lugar para alguma esperança. Mas sem dúvida não é o mesmo tipo de esperança do final de "Central". Uma década depois, o olhar de Walter Salles me pareceu mais pessimista e desesperançoso com relação ao Brasil e seus habitantes.