Ontem assisti ao bom e velho Guerra nas Estrelas (também conhecido como Star Wars, Episódio IV: Uma Nova Esperança) escutando os comentários de George Lucas (roteiro/direção), Carrie Fisher (atriz, Princesa Leia), Ben Burtt (criador dos efeitos sonoros) e Denis Murren (especialista em efeitos especiais).
De uns anos pra cá descobri que tenho pouca paciência com Lucas, que me soa cada vez mais falso. E no início do filme quase parei de escutá-lo, quando ele começou com aquela história de "estudar mitologia" para criar um "mito moderno" e blá blá blá que, cá entre nós, não cola muito. Sim, os personagens são arquétipos, são baseados em modelos pré-estabelecidos de heróis (Luke, Han Solo), figuras paternas (Obi-Wan Kenobi), princesas (Leia), vilões sombrios (Darth Vader), etc, mas não acho que as intenções de Lucas eram assim tão "nobres" quando fez o filme. Era uma grande aventura, sim, que com o tempo (e principalmente com os outros filmes, "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi") ganhou uma dimensão e uma profundidade maiores.
Mas ele disse coisas interessantes. Como a relação com Alec Guinnesss, que era uma figura que trazia mais calma ao set de filmagem. E que, originalmente, Obi-Wan Kenobi iria viver até o final do filme, mas que Lucas percebeu que ele não teria muita função depois da fuga da Estrela da Morte, e por isso decidiu "matá-lo". Guinness não teria ficado nada contente com a idéia e Lucas teve de convencê-lo.
Também achei interessante a "confissão" por parte de Lucas de que os três filmes anteriores a "Uma Nova Esperança" eram apenas idéias sobre o passado dos personagens, e não roteiros completos, como se dizia antes. Por muito tempo se difundiu a idéia de que Lucas teria escrito nove roteiros, que formariam três trilogias, mas Lucas diz que, na década de 70, quando ele estava preparando "Uma Nova Esperança", ele tinha apenas esboços das histórias de cada personagem. Ele também disse que o Universo de Star Wars é um universo "usado", que ele queria passar a impressão que pessoas realmente moravam ali, que os cenários eram sujos e gastos de propósito. Ele diz que o filme é muito mais uma fantasia do que um filme de ficção-científica. Segundo ele é muito ruim quando um filme tenta ficar se explicando o tempo todo. Star Wars é passado inteiro em planetas e em um Universo desconhecido, mas ele não queria ficar parando para explicar nem a parte técnica (como funciona um sabre de luz, por exemplo), ou do cotidiano daquelas pessoas. Irônico é que quando Lucas resolveu fazer as chamadas “prequels” (“A Ameaça Fantasma”, “O Ataque dos Clones” e “A Vingança dos Sith”, os três filmes que contavam a história anterior à trilogia original de Star Wars), um de seus maiores pecados foi justamente ficar explicando tudo. Lucas criou inclusive uma explicação biológica para a “Força” (produzida por seres simbiontes que viveriam no sangue das pessoas), o que contradiz tudo isso que ele disse sobre os filmes originais.
Lucas tinha formação de editor e diz que queria contar uma história da forma mais cinematográfica possível. As batalhas espaciais foram baseadas em filmes da Segunda Guerra Mundial, e Lucas chegou inclusive a editar o final do filme originalmente usando imagens de filmes e documentários da guerra para conseguir explicar aos técnicos em efeitos espaciais o visual que ele estava procurando. A revolução veio com uma técnica chamada de “motion control camera”, que permitia que uma câmera controlada por computador repetisse sempre os mesmos movimentos, filmando modelos em escala que eram compostos para criar os planos espetaculares da seqüência final do filme, o ataque contra a Estrela da Morte.
“Contradição” é uma boa palavra ao se falar em George Lucas. O “Guerra nas Estrelas” original é ao mesmo tempo clássico e de vanguarda. Clássico porque bebeu na fonte de cineastas como Akira Kurosawa e John Ford (pode-se descrever Star Wars como um faroeste passado no espaço, com samurais que lutam usando espadas de laser). Vanguarda, pois Lucas redefiniu os padrões técnicos do gênero e revolucionou a arte dos efeitos especiais. Mas é engraçado ver os belos efeitos mecânicos do filme, usando modelos e cenários reais (vindos do cinema clássico) e escutar Lucas reclamando que não podia, na época, criar digitalmente centenas de criaturas e monstros (como fez, repito, nos decepcionantes filmes recentes da saga).
De qualquer forma, o filme é um clássico inegável, que sobreviveu até às mutilações e transformações digitais que o próprio Lucas cometeu, em 1997 (na chamada “edição especial”). O DVD “Edição Limitada” trás também a versão original do filme, respondendo ao clamor de milhões de fãs mundo afora que sabem que, na verdade, Han sempre atirou primeiro.
De uns anos pra cá descobri que tenho pouca paciência com Lucas, que me soa cada vez mais falso. E no início do filme quase parei de escutá-lo, quando ele começou com aquela história de "estudar mitologia" para criar um "mito moderno" e blá blá blá que, cá entre nós, não cola muito. Sim, os personagens são arquétipos, são baseados em modelos pré-estabelecidos de heróis (Luke, Han Solo), figuras paternas (Obi-Wan Kenobi), princesas (Leia), vilões sombrios (Darth Vader), etc, mas não acho que as intenções de Lucas eram assim tão "nobres" quando fez o filme. Era uma grande aventura, sim, que com o tempo (e principalmente com os outros filmes, "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi") ganhou uma dimensão e uma profundidade maiores.
Mas ele disse coisas interessantes. Como a relação com Alec Guinnesss, que era uma figura que trazia mais calma ao set de filmagem. E que, originalmente, Obi-Wan Kenobi iria viver até o final do filme, mas que Lucas percebeu que ele não teria muita função depois da fuga da Estrela da Morte, e por isso decidiu "matá-lo". Guinness não teria ficado nada contente com a idéia e Lucas teve de convencê-lo.
Também achei interessante a "confissão" por parte de Lucas de que os três filmes anteriores a "Uma Nova Esperança" eram apenas idéias sobre o passado dos personagens, e não roteiros completos, como se dizia antes. Por muito tempo se difundiu a idéia de que Lucas teria escrito nove roteiros, que formariam três trilogias, mas Lucas diz que, na década de 70, quando ele estava preparando "Uma Nova Esperança", ele tinha apenas esboços das histórias de cada personagem. Ele também disse que o Universo de Star Wars é um universo "usado", que ele queria passar a impressão que pessoas realmente moravam ali, que os cenários eram sujos e gastos de propósito. Ele diz que o filme é muito mais uma fantasia do que um filme de ficção-científica. Segundo ele é muito ruim quando um filme tenta ficar se explicando o tempo todo. Star Wars é passado inteiro em planetas e em um Universo desconhecido, mas ele não queria ficar parando para explicar nem a parte técnica (como funciona um sabre de luz, por exemplo), ou do cotidiano daquelas pessoas. Irônico é que quando Lucas resolveu fazer as chamadas “prequels” (“A Ameaça Fantasma”, “O Ataque dos Clones” e “A Vingança dos Sith”, os três filmes que contavam a história anterior à trilogia original de Star Wars), um de seus maiores pecados foi justamente ficar explicando tudo. Lucas criou inclusive uma explicação biológica para a “Força” (produzida por seres simbiontes que viveriam no sangue das pessoas), o que contradiz tudo isso que ele disse sobre os filmes originais.
Lucas tinha formação de editor e diz que queria contar uma história da forma mais cinematográfica possível. As batalhas espaciais foram baseadas em filmes da Segunda Guerra Mundial, e Lucas chegou inclusive a editar o final do filme originalmente usando imagens de filmes e documentários da guerra para conseguir explicar aos técnicos em efeitos espaciais o visual que ele estava procurando. A revolução veio com uma técnica chamada de “motion control camera”, que permitia que uma câmera controlada por computador repetisse sempre os mesmos movimentos, filmando modelos em escala que eram compostos para criar os planos espetaculares da seqüência final do filme, o ataque contra a Estrela da Morte.
“Contradição” é uma boa palavra ao se falar em George Lucas. O “Guerra nas Estrelas” original é ao mesmo tempo clássico e de vanguarda. Clássico porque bebeu na fonte de cineastas como Akira Kurosawa e John Ford (pode-se descrever Star Wars como um faroeste passado no espaço, com samurais que lutam usando espadas de laser). Vanguarda, pois Lucas redefiniu os padrões técnicos do gênero e revolucionou a arte dos efeitos especiais. Mas é engraçado ver os belos efeitos mecânicos do filme, usando modelos e cenários reais (vindos do cinema clássico) e escutar Lucas reclamando que não podia, na época, criar digitalmente centenas de criaturas e monstros (como fez, repito, nos decepcionantes filmes recentes da saga).
De qualquer forma, o filme é um clássico inegável, que sobreviveu até às mutilações e transformações digitais que o próprio Lucas cometeu, em 1997 (na chamada “edição especial”). O DVD “Edição Limitada” trás também a versão original do filme, respondendo ao clamor de milhões de fãs mundo afora que sabem que, na verdade, Han sempre atirou primeiro.
5 comentários:
Jamais tive a paciência de ver um comentário de áudio de um DVD. Alias, esta é a opinião também do Steven Spielberg que se recusa a colocar comentários de audio em seus filmes. O que é bacana é um making of bem feito e detalhista.
Pois é, Ricardo...este DVD duplo de Star Wars não trás UM documentário sequer. Quanto a comentários em áudio, sou da opinião que os comentários mais interessantes geralmente são feitos por críticos e entendidos, e não pelos próprios cineastas. Escutar Roger Ebert falando sobre Cidadão Kane é muito mais instrutivo do que escutar Francis Coppola reclamando que falaram mal da "filhinha" (a grande Sofia Coppola) dele em O Poderoso Chefão parte 3.
Vc comprou a versão LATA ?
Não...comprei os três filmes separadamente. Vinte reais mais barato do que a lata.
Infelizmente documentários bem feitos estão cada vez mais escassos... o último bom que vi foi o do Apocalypse Now, Hearts of Darkness... o resto é pura publicidade, as entrevistas mais bobas, não vale a pena. Tem que ter mais conteúdo. Algumas faixas de comentário dão mais espaço para sair um pouco das trilhas batidas desses materiais de publicidade. Não é o caso dos comentários dos Dvds do Star Wars, porém... O do Taxi Driver tem coisas boas, assim como os comentarios do Coppola e do Cronenberg...
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