sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Câmera Escura!

Nada mais apropriado do que postar aqui este projeto. A PUC-Campinas foi palco esta semana de uma série de exposições e palestras envolvendo a fotografia, além de prestar homenagem a Hércules Florence, francês radicado no Brasil que, no século XIX, foi o inventor brasileiro da fotografia. Uma das atrações da semana é o projeto "O Brasil pelo Buraco da Agulha". A idéia é simples mas extremamente elegante e sofisticada. Nesta era de megapixels e vida digital, o projeto conta com um caminhão/casa ambulante que tem um furo na lateral do baú. Por este furo a luz entra no caminhão, que se transforma em uma gigantesca Câmera Escura. O fotógrafo e aventureiro português Mica Costa Grande, de forma totalmente artesanal, coloca um papel fotográfico de aproximadamente 3 metros de comprimento na parede oposta ao furo e, em exposições que podem durar até oito horas, capta fotografias panorâmicas com definição impressionante. O caminhão esteve parado no Campus I da PUC esta semana e hoje fomos visitá-lo. Costa Grande fecha todo o caminhão e faz uma demonstração de como o processo da Câmera Escura funciona. Na parede oposta ao furo pode-se enxergar uma imagem (invertida e de ponta cabeça) da paisagem lá fora. É algo extremamente simples e lúdico ver o mundo desta forma. As pessoas geralmente não conseguem entender a simplicidade de uma câmera fotográfica. Costa Grande diz que ver a paisagem assim requer um modo diferente de ver o mundo e de interpretar os códigos. "Um bebê não consegue entender o que ele está vendo porque ainda não sabe o que as imagens significam", disse ele. Nosso cérebro consegue enxergar uma casa quando vê uma, mas é uma questão de experiências anteriores.


O cinema também funciona desta maneira. A tela é uma representação do mundo lá fora e o espectador tem que saber interpretar o que está vendo. Quando vemos um filme passado nos dias de hoje é mais fácil interpretar as imagens de cidades, carros, pessoas. Mas quando vemos uma sequência como o final de "2001 - Uma Odisséia no Espaço", por exemplo, nosso cérebro tem dificuldade em saber o que aquelas luzes e cores significam. Spielberg, quando fez a "conversa" entre os extraterrestres e os humanos em "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", se utilizou de luzes e sons para transmitir uma mensagem que não entendemos a língua, mas sabemos o que significa. Algumas coisas são difíceis demais de se captar à primeira vista. Conta a lenda que quando os irmãos Lumiere, na França, em 1895, fizeram a primeira exibição de cinema, os espectadores ficaram assustados com a imagem de um trêm que vinha em direção da tela. Mesmo sendo uma imagem de "baixa resolução", em preto e branco e sem som, o cérebro das pessoas sentiram medo ao ver o trem e algumas pessoas sairam correndo.




Em 1878, Edward Muybridge conseguiu provar que um cavalo tira as quatro patas do chão quando galopa. Ele colocou 16 câmeras fotográficas em percurso e amarrou linhas no disparador. Quando o cavalo passava trotando, as câmeras iam disparando e capturando o momento. Colocadas em sequências, as fotos do cavalo trotando se tornaram um dos primeiros "filmes" do mundo. Hoje, quando se assiste a uma grande produção de hollywood, não dá mais para saber o que é real e o que é inventado com computadores. Mas, ao menos por enquanto, o velho princípio da câmera escura, do pequeno furo por onde a luz passa para ser capturada seja por um rolo de filme ou por um feixe de eléctrons, ainda existe.
O site do projeto "O Brasil pelo buraco da Agulha" pode ser acessado abaixo:

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