Pouca gente ouviu falar na banda inglesa Joy Division. Nascida no movimento punk, em Manchester, Inglaterra, a banda lançou apenas dois álbuns e prometia uma carreira de muito sucesso não fosse o suicídio de seu vocalista e letrista Ian Curtis. Aos 23 anos, sofrendo de epilepsia e problemas familiares, Curtis se matou e entrou para a galeria dos famosos póstumos do rock, enquanto os sobreviventes de sua banda deram uma guinada musical e se reformaram como o New Order, uma das bandas pop/eletrônico mais populares da história. A história de Ian Curtis e do Joy Division se tornou filme nas mãos de Anton Corbijn, fotógrafo europeu que fez grande carreira como um dos criadores do visual da banda irlandesa U2, nos anos 80, e que dirigiu vários videoclipes do grupo. O filme, claro, tem uma bela direção de fotografia em preto e branco que retrata a Inglaterra no final dos anos 70. Os atores recriaram perfeitamente a banda original nos mínimos detalhes, chegando inclusive a tocar as músicas de Curtis e do Joy Division. Há vários videos no youtube mostrando a banda real tocando, e o retrato mostrado no filme é bastante fiel.
Interpretando Ian Curtis está Sam Riley, que capturou todos os trejeitos de Curtis durante as apresentações. O resto do elenco é formado por atores relativamente desconhecidos, com exceção da ótima Samantha Morton (que já trabalhou até com Spielberg em Minority Report), que faz a esposa de Curtis, Debbie Curtis. O roteiro é baseado nas memórias da esposa real de Curtis, que também é co-produtora do filme. Os melhores momentos de "Control" são justamente os musicais. Curtis é mostrado escutando David Bowie no início do filme, e ele tem pôsters de Lou Reed na parede. Com a chegada do movimento punk a classe trabalhadora ganhou voz e Curtis se juntou a Bernard Summer (James Anthony Pearson), Peter Hook (Joe Anderson) e Stephen Morris (Harry Treadway) para formar o Joy Division, que aos poucos foi ganhando a cena inglesa e estava pronto para começar uma carreira nos Estados Unidos quando da morte de Curtis.
O filme não é livre de problemas. Apesar de Sam Riley compor um Ian Curtis muito bem feito, o roteiro não conseguiu capturar muito bem a depressão do cantor. Curtis teve um caso com uma jornalista belga chamada Annik Honoré (a bela Alexandra Maria Lara) e isso ameaçou destruir sua família e seu casamento, o que o perturbou bastante, mas não senti que a situação fosse tão desesperadora a ponto de levá-lo ao suicídio. Talvez a intenção de Corbijn tenha sido exatamente de não romancear muito a morte do cantor. O que vemos são algumas situações em que Curtis tem problemas em casa e uma ocasião em que ele não consegue se apresentar em um show da banda, o que causou revolta no público.
"Control" teve orçamento modesto e é um filme realmente "pequeno" quando comparado a outras cinebiografias de bandas como "The Doors" (1991), de Oliver Stone ou, recentemente, "Ray". É o típico filme para ser exibido no circuito de "arte", para pequenos públicos, e cumpre bem seu papel.
trailer:
o Joy Division (real) tocando:
6 comentários:
João, eu vim aqui após o seu post na lista do Pink Floyd.
Gostei de ler o seu texto sobre o filme. E gostei especialmente de ver que Corbijn pintou um retrato fiel de Curtis.
Eu comprei meu primeiro LP do Joy Division em 82, na mesma época em que comprei meu primeiro do New Order. Naquela época, os discos não tinham saído nos EUA, muito menos aqui, e as informações eram escassas. Eu tinha uma curiosidade muito grande sobre Curtis e a banda. 26 anos depois, mesmo com a cabeça voltada para outras coisas, vou ficar contente em ver um pouco dessa história na tela.
Só fiquei chateado de deixar passar a oportunidade de ver esse filme na telona aqui em Campinas. Mas quem mandou eu ficar acompanhando apenas os lançamentos do grande circuito?!?
Elon
Tudo bom, Elon? Pois é, Campinas ainda tem um bom circuito alternativo no Cine Paradiso e nos Cine Jaraguá (que foi onde vi o filme). Dizem que o Jaraguá está para fechar, mas ouço isso há alguns meses, então estou aproveitando enquanto posso. O Joy Division tem um som extremamente "down", não é? Incrível que depois tenha virado o New Order, que é praticamente o oposto. Acho que os integrantes resolveram ser um pouco mais "light" depois do suicídio de Curtis.
Abs.
João Solimeo
Aqui em Sampa, tive que fazer tocai nas comunidades de Orkut. Pensei que o filme não iria mais estrear no Brasil, já que o DVD do filme já estava saindo na Europa. Em uma epoca onde os Blockbusters ocupam cada vez mais salas, os pequenos quase não tem mais chances .
Sobre o New Order, a verdade é esta mesmo. Os integrantes da banda remanecentes, ficaram realmente sem qualquer noção do que fazer com a morte do Ian, que não era o fundador da banda, mas com certeza, foi o lider. Eles decidiram mudar o som, fazer algo mais up, mais eletronico e mais dançante. Chamaram a namorada do baterista para ser a tecladista da banda, Gillian Gilbert e o som mudou. Eles se recusaram inclusive a tocar qualquer coisa do Joy Divison por mas de duas décadas. Só agora nos anos 2000, que a banda descidiu voltar um pouco com aquele som do JD. A Gilbert saiu da banda para coisa do filho excepcional, incluiram outro guitarrista e passaram a tocar JD nas apresentação. Como foi o caso da ultima turné que passou no Brasil e que tive o privilégio de assistir.Apesar de adorar New Order e a voz do Bernand Summer ser boa, ainda prefiro o Ian Curtis cantando os clássico do Joy.
O CD foi lançado no Brasil
tem até Kraftwerk:
New Order - "Exit"
The Velvet Underground - "What Goes On"
The Killers - "Shadowplay"
Buzzcocks - "Boredom" (live)
Joy Division - "Dead Souls"
Supersister - "She Was Naked"
Iggy Pop - "Sister Midnight"
Joy Division - "Love Will Tear Us Apart"
Sex Pistols - "Problems" (live)
New Order - "Hypnosis"
David Bowie - "Drive-In Saturday"
John Cooper Clarke - "Evidently Chickentown"
Roxy Music - "2HB"
Joy Division - "Transmission" (cast cover)
Kraftwerk - "Autobahn"
Joy Division - "Atmosphere"
David Bowie - "Warszawa"
New Order - "Get Out"
Infelizmente não fui a este show do New Order no Brasil, queria muito ter ido.
A trilha sonora é muito boa mesmo hein? Kraftwerk é uma banda alemã que foi pioneira em música eletrônica. Eles começaram inspirados pelo som do início do Pink Floyd. Autobahn toca no filme na hora em que eles vão pegar a namorada belga dele com a Kombi, se não me engano.
Vou procurar esse CD.
João, ontem saí mais cedo do trabalho e assisti o filme na sessão das 4 no Jaraguá. Graças ao seu post, fiquei de olho e não perdi essa oportunidade.
Gostei muito. Achei que a banda estava incrivelmente realista, e gostei de ver que as músicas foram interpretadas pelos atores!
Quanto ao Curtis, é o que você disse: o que vemos na tela não dá para explicar o suicídio, mas também, o que explicaria isso? A imagem que eu tive do filme foi de um rapaz fraco, que desistiu da vida em vez de enfrentá-la. Mas pode não ter sido assim. A única ocasião em que o roteiro o mostra mais assertivo foi quando abordou o Tony Wilson no pub.
Da banda, gostei mais do Bernard Sumner-Albrecht-Dickens. E acho que o Stephen Morris é mais "queixudo" na vida real, mas estava tudo muito bom.
Ah, e sobre o show do New Order comentado acima: nem soube do mais recente, mas eu vi um show deles no Ibirapuera nos anos 80!
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