quarta-feira, 21 de maio de 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal



A espera finalmente terminou. Após 19 anos de rumores, fofocas, boatos e roteiros cancelados, o maior aventureiro do cinema, Indiana Jones, está de volta. E a boa notícia é que "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" é tudo o que se podia esperar de um bom filme de Indiana Jones.


Pessoalmente, considero "Caçadores da Arca Perdida" (1981), o primeiro filme da série, o melhor filme de aventura de todos os tempos. O personagem, o arqueólogo aventureiro Indiana Jones, nasceu da vontade de Steven Spielberg de dirigir um filme da série James Bond. Um dia ele comentou isso com o colega George Lucas, que lhe falou da idéia de recuperar a magia dos antigos seriados de aventura do cinema usando da tecnologia moderna de efeitos especiais e um grande orçamento. Lucas se juntou a Philip Kauffman para criar o roteiro de "Caçadores", que foi um grande sucesso quando lançado. O filme tinha aventura sem parar, um personagem humano o suficiente para ter medo de cobras, vilões detestáveis (na forma de nazistas interessados em artefatos religiosos), a produção de George Lucas, direção de Steven Spielberg e música do mestre John Williams. Claro que se tornou um clássico instantâneo. Para interpretar o herói, Harrison Ford, grande sucesso como Han Solo na outra série de Lucas, Guerra nas Estrelas. A princípio Lucas não queria Ford no papel e pensaram em chamar Tom Selleck, da série Magnum, para seu lugar. Quando o contrato de Selleck apresentou problemas, Ford assumiu o posto que lhe cabia de direito e deu vida ao personagem.


Indiana Jones voltaria em "O Templo da Perdição", em 1984, com menos brilho. George Lucas queria um filme mais sombrio e assustador que o anterior e ele apresentou cenas muito violentas para as crianças que lotaram os cinemas. Spielberg não ficou satisfeito, Harrison Ford teve problemas nas costas durante as filmagens e ficou afastado por semanas, e o filme sofreu com isso. O que não impediu que fosse um grande sucesso de bilheteria e tivesse grandes sequências de ação, como a perseguição dentro de uma mina abandonada.


Em 1989 eu entrava no cinema para ver a estréia de "Indiana Jones e A Última Cruzada", que conseguiu recuperar o "clima" do primeiro filme, o bom humor e, de quebra, trazia James Bond em pessoa, Sean Connery, para viver o pai de Indiana Jones. O filme era ótimo e aparentemente encerrava a série com chave de ouro, com os personagens partindo em direção ao pôr do sol ao som da marcha de John Williams. Era o final da trilogia Indiana Jones. Harrison Ford disse que não voltaria ao personagem, Spilberg partiu para projetos mais sérios e Lucas voltou para a série Star Wars (com resultados duvidosos).


Mas os anos foram passando, Spielberg foi ganhando Oscars e Harrison Ford, com excessão de "O Fugitivo", de 1994, nunca mais fez um filme que agradasse ao público de verdade. George Lucas criou uma série de TV, o "Jovem Indiana Jones" que, apesar de bem produzida e de lidar com temas históricos, não tinha muito a ver com o espírito do personagem. A internet começou a espalhar rumores de uma continuação. Os temas eram vários: Indy ganharia uma filha e partiria em aventuras com ela. Indiana Jones iria enfrentar os russos durante a Guerra Fria, ou talvez fosse investigar o suposto OVNI que caiu em Roswell, Novo México, em 1947. Ele iria procurar pela cidade perdida de Atlântida ou, quem sabe, iria atrás da mítica Eldorado. Supostos roteiros vazavam na rede, nomes de roteiristas eram anunciados e desmentidos, até que, finalmente, era oficial. Frank Darabont, renomado diretor e roteirista de "Um Sonho de Liberdade", "À Espera de um Milagre" e "Cine Majestic", entre outros, havia sido contratado para escrever o roteiro. Spielberg ficou satisfeito com o resultado e até Harrison Ford gostou e disse que vestiria de novo o chapéu pelo roteiro de Darabont. Mas George Lucas, na última hora, e ainda envolvido com seus filmes sobre Star Wars, vetou o projeto.


Se você leu até aqui e não quer saber detalhes do novo filme, sugiro que pare por aqui e volte depois de ver o filme.

Finalmente a espera acabou. Indiana Jones está de volta em um roteiro (escrito por David Koepp) que, incrivelmente, conseguiu juntar várias das teorias pensadas acima na forma de um grande filme de aventura. Assim, estamos em 1957 e Indiana Jones não está mais lutando com os nazistas. Estamos na Guerra Fria e o clima de paranóia contra os comunistas está à solta nos Estados Unidos. Os russos levam Indy para a famosa "área 51", para um galpão cheio de caixas que são imediatamente familiares para os fãs da série: foi ali que a Arca da Aliança, encontrada por Indy em "Caçadores", foi guardada. Cate Blanchett interpreta a vilã, uma soviética chamada Irina Spalko, que faz Indiana Jones encontrar os restos do suposto alien que caiu em Roswell dez anos antes. O roteiro parte disso e nos leva para uma série de situações, uma mais deliciosamente absurda que a outra, até terminar no meio da Floresta Amazônica. Indy enfrenta um teste nuclear no estado de Nevada (do qual ele foge de forma inusitada), conhece um rapaz arrogante (Shia LaBeouf) que o leva até o Peru atrás de uma "Caveira de Cristal" que teria poderes místicos e que levaria à Eldorado. De quebra, reencontra um amor antigo, Marion Ravenwood (Karen Allen, de Caçadores da Arca Perdida, considerada pelos fãs a "verdadeira" namorada do herói) e descobre que o rapaz é seu filho. Claro que nada pode ser levado à sério. A começar pelo fato de que Harrison Ford estava com 64 anos durante as filmagens. Apesar disso, Ford recuperou o antigo "charme" e o personagem está de volta, com o mesmo modo de andar, falar e esmurrar os adversários.


Colaboradores antigos como Denholm Elliot (que morreu em 1992), que interpretava Marcus Brody, ou John Rhys-Davies (Sallah), não estão mais presentes. Também não está de volta Sean Connery como pai de Indiana Jones, por motivos óbvios. Mas a adição de Shia LaBeouf como filho de Indy foi uma escolha acertada. LaBeouf está "quente" em Hollywood no momento e tem participado de produções de sucesso como "Transformers" e "Paranóia". Cate Blanchett, sempre talentosa, está apropriadamente exagerada como a vilã soviética de sotaque carregado e Ray Winstone faz o papel de um amigo não muito confiável de Jones. Para completar o elenco, John Hurt faz o papel de um arqueólogo meio maluco que originalmente descobriu a Caveira de Cristal.


Spielberg dirige com segurança e está em casa nas cenas de perseguição à pé, de moto, de carro, caminhão, barco e qualquer coisa que se mova que acontecem no filme. O clima de matinê reina absoluto e há cenas absurdas, mas divertidas, como uma perseguição em que os personagens ficam pulando de um carro para outro, ou até mesmo duelando com espadas à toda velocidade, desviando por mágica das árvores da floresta. As Cataratas do Iguaçu mudam de local e vão parar lá no Amazonas, para mais algumas cenas absurdas. E tudo termina em uma seqüência espetacular de efeitos especiais, com Indiana Jones em primeiro plano, testemunhando uma mudança na paisagem realizada pelos mágicos da Industrial Light and Magic, a veterana empresa de efeitos especiais da Lucasfilm.


Confesso que me surpreendi com a receptividade do filme durante a pré-estréia em que fui. As duas sessões em que estive (sim, vi o filme duas vezes) estavam lotadas, e grande parte do público me pareceu jovem demais para sequer ter nascido antes dos 19 anos que se passaram desde o último filme. Prova de que Indiana Jones se tornou parte da cultura popular e já é um clássico do cinema. "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" é uma boa pedida. A espera, afinal, valeu a pena.

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